Gostaria de lhe dar neste Natal um presente, que não fosse efêmero, mas que pudesse compreender toda minha afeição. Anima-me o ideal da inspiração e, para tanto, tive que focar vários itens que integram a vida humana e não simplesmente algo que passe tão fugidio como o vento. Muito menos cogitei de vender sonhos e utopias que acabam por ruir como um castelo de areia. Sei que um bem material, por mais útil que seja, terá vida tão curta como a memória, que o conservará somente pelo tempo de utilidade. Tentou-me, confesso, a vontade de presenteá-lo com um livro, mas recuei, porque uma vez lido, como uma folhinha de parede, irá se alojar no fundo de alguma estante.
Veio-me, então, a vontade de presenteá-lo com um cartão, justamente porque se escreve à vontade os melhores votos de Natal e novo ano. Eu o enviarei como um bumerangue, que passa por você, despeja a carga nele contida, e retorna para mim. Quer dizer, vou me beneficiar dos mesmos votos. Por isso tenho que balancear de tal forma a escrita para que verbo e substantivo coincidam na mais perfeita harmonia.
Já na primeira linha constato a dificuldade da tarefa, pois a convivência humana é aflitiva e complicada. Nem sempre pode ser utilizada a mesma régua para todos e cada situação tem seus contornos próprios, além do que, em algumas oportunidades, exige uma solução laboratorial. A resposta você não encontra no seu navegador e muito menos em aplicativo para tal fim. Às vezes tem que buscar soluções com pessoas mais experientes, aquelas que romperam com galhardia todas as etapas da vida, a exemplo do marinheiro, que vence as mais tormentosas borrascas e segue ileso e seguro para as próximas. Outras vezes, tem que tatear seu interior para acender a lareira do espírito e encontrar a luz necessária para atravessar o labirinto de dúvidas e incertezas.
Aí, então, você vai ver que as pessoas não circulam por uma via de mão única e sim por vários caminhos, alguns estreitos, outros sinuosos e escorregadios, mas em busca da avenida ampla que possibilita a fluidez, todas buscando as melhores condições de vida, de acordo com o propósito almejado. É certo que cada um carrega em sua individualidade o mapa indicativo dos caminhos pretendidos e o despeja posteriormente na comunidade, que nada mais é do que o alargamento da vida em comum. Assim, na medida em que você se inclui, abre espaços para os outros entrarem, de acordo com o pensamento de Edith Stein.
E, nessa inclusão, quando você se sentir sufocado e necessitando de ajustamento em suas bases, você vai encontrar bem visível à sua frente o brado de poucas palavras, mas com profunda sabedoria, de Sêneca: Vindica te tibi, em que ele exortava o homem a reivindicar a propriedade do seu ser, o seu conteúdo mais abrangente, com alcance muito maior do que a limitada selfie, a sua liberdade, o seu desejo de viver em paz consigo e com todas as demais pessoas, em uma sociedade harmônica, com suporte suficiente para a realização do seu projeto de felicidade.
E é justamente no sincronismo da felicidade que cravo meus votos. Que você intensifique suas energias para situar-se sempre na linha de frente. Que você tenha a serenidade de um bom guerreiro para se surpreender com a merecida maturidade que abraçará em cada etapa da existência. Que você busque os bons augúrios, cultive a esperança e abandone o modelo laissez-fairiano, que tanto o engessa. Que você possa encontrar seu ponto de equilíbrio para gozar da sintonia do bem-estar. Que você otimize e aperfeiçoe o dinamismo que sempre carregou para expressar solidariedade e simpatia. Enfim, não perca o timing, procure ultrapassar a grandeza do ser humano, entronizando definitivamente a felicidade em sua vida.
Assim, renasça no Natal e viva a bem aventurança dos novos anos.
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