Migalhas de Peso

Dinheiro Verde - Uma reflexão sobre os ideais de trabalho e sucesso

Se todos fizerem um pouco, nosso dinheiro terá uma cor diferente, um cheiro diferente.

16/11/2015

Quem nunca sonhou e quem não se imaginou com um êxito empresarial que lhe rendesse uma página, ainda que a última, na revista Forbes? Bom, pelo menos é isso que deve pensar todo empresário quando começa uma atividade, buscando por meio dela obter êxito suficiente para ser reconhecido como um dos mais bem sucedidos empresários em seu meio.

Estar ou não na Forbes pode representar uma posição estratégica, já que o mundo empresarial identificará seu êxito comercial, como também um referendo à sua glória, uma reverência do mundo ao trabalho desenvolvido. No entanto, como é de se imaginar, uma vitrine desnecessária para muitos daqueles que preferem o anonimato absoluto, por uma questão de discrição, segurança ou humildade. Ou você acha que todos os milionários estão de fato lá?

Usando desse viés do "estar lá", creio que nunca nos questionamos o critério de seleção dos eleitos, se é que existe algum diferente da conta bancária. Mas com toda essa onda de conscientização, de reflexão sobre o próximo e sobre o amanhã do mundo, a exemplo do aparente comprometimento de uma centena de nações em alcançar uma meta climática global por meio da redução de gases poluentes, meta essa que será apresentada em Paris em dezembro próximo, na Conferência do Clima, não seria hora de refletirmos sobre o mérito de estar na relação?

Faço o questionamento pensando em fatores como envolvimento dos negócios em exploração de trabalho escravo, da participação dos funcionários em planos de metas, salários e lucros e contribuição para a redução da emissão de gases poluentes nas fábricas. Depois desses critérios inicialmente tratados, por que não premiar ainda mais o êxito empresarial pela participação, por exemplo, em ações humanitárias relacionadas à erradicação de doenças, redução da fome e da miséria e amparo a idosos. Tais critérios alavancariam a posição desses bilionários, rebaixando outros que tenham envolvimento direto com as ações de demérito.

Quando lanço bandeiras, gosto sempre de frisar meu posicionamento, de modo a passar ao leitor a minha posição de crítico empático. Sou empresário e ainda luto muito pelo êxito de minhas ações. Mas enquanto o faço, reservo parte do que recebo para destinar a fundações e instituições nas quais credito mérito e trabalho. E Deus queira e permita que eu tenha muito ainda para ajudar mais, pensando sempre que ainda não fiz o suficiente por aqueles que não tiveram as mesmas oportunidades que eu. Por menor que seja a contribuição, sempre me apego à recordação do golpe das instituições financeiras que descontavam centavos de seus clientes, arrecadando, com isso, fortunas ilícitas. Ou seja, se todos fizerem um pouco, nosso dinheiro terá uma cor diferente, um cheiro diferente.

E quando nada pudermos fazer, doar, que dediquemos parte de nosso tempo, ínfimo que seja, doando atenção a quem precisa. E de volta à Forbes, se cada um daqueles empresários de muito sucesso se curvasse à sugestão de respeito às sugestões de organizações como a ONU e a OMS, para, por exemplo, o alcance mundial das Referências Nutricionais dessa última, e dedicasse uma parcela de seus minutos em usar de sua imagem para captação de recursos para o financiamento de ações humanitárias bem estruturadas, entendo que parte das mazelas do mundo receberiam parte da cor do êxito e da glória com os quais foram agraciados.

Não se trata de uma nova graça concedida ao melhor Robin Hood do ano, mas de um peso valorativo na ação de pessoas que tem em suas mãos, também pelo êxito empresarial, o poder da influência e da captação de recursos. Pessoas que, com alguma dedicação, conseguiriam fazer mais pelo próximo, mais em ações de participação na melhoria do mundo.

Mas tudo bem, crítica seja feita, a Forbes é uma revista de negócios, economia e investimentos e tem mesmo que enaltecer o resultado dos melhores, mesmo porque nem sempre é possível se conhecer das práticas maléficas no tempo da apuração, diferente do que conhecemos em relação, por exemplo, ao Varejista Zara, que comprovadamente explorou (a) mão de obra escrava. Pensando em uma solução que mantivesse o padrão das publicações, por que não uma versão green do ranking, um apêndice que no futuro passaria a ter mais destaque que a própria edição, já que me parece que o mundo está caminhando para essa consciência coletiva, trazendo a reclassificação do ranking, à luz das boas práticas humanitárias?

Ideologicamente pensando, seria um passo ousado e necessário para a consciência empresarial, mas que poderia traduzir forte tendência e expectativa por parte do mercado consumidor, que passaria a preferir o consumo de empresas comprometidas em lugar de simplesmente fomentar indiretamente o abuso de tais regras. Basta querer. Basta dar o primeiro passo.

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*Leonardo Pereira é diretor acadêmico do IOB Concursos. Advogado graduado pela PUC/MG.

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