Na primeira campanha, a Dilma se deleitava com os seus três porquinhos. Dava esporro, caçoava, fazia piada de mau gosto, era um bule danado.
Terminada a travessia, ela eleita, o Dutra estava em frangalhos. Petista histórico, petroleiro, senador, presidente da Petrobras nunca mais se ouviu falar dele.
O Palocci ainda passou um tempo na casa da península sul como Chefe da Casa Civil e com direito a caminhadas matinais pela orla do lago. Não foi só a fritura das intrigas e denuncias. Não aguentou as grosserias da companheira.
Ficou o terceiro porquinho, o companheiro Cardoso, estimado do Lula, desde a CPI dos Correios, aquela por onde o Jefferson começou a gritar árias de ópera nos ouvidos do Dirceu.
O único a ter um poço de paciência, até aqui mais profundo que as camadas do pré-sal, o Cardoso, única consciência jurídica na Esplanada, não vê a hora de ir embora.
Depois da última manifestação, muita gente humilhada pela chefona se animou. Alguns, como o Nelson, esquentado gaúcho, não esperaram o fim da primeira hora.
O Mantega foi demitido num debate dela com o Aécio pela televisão, se é que se pode qualificar aquilo de debate. Ela anunciou que ele não continuaria no Ministério. Era sua grande chance para sair por cima. Mas foi ficando.
No dia em que cruzei com o Mantega, Ministro da Fazenda, boné vermelho complementando o disfarce com um ray-ban bem escuro e com uma mochila nas costas, eu sem reconhecê-lo no primeiro momento imaginei – esse cara deve estar indo para um piquenique em algum acampamento. Errei. Ele estava indo sob o intenso calor daquele solzão para se encontrar com seus companheiros numa reunião do PT. Ama de coração o partido. Ou amava.
Vendo a primeira posse da Dilma pela televisão prestei atenção naquele momento da passagem da faixa. O Lula orgulhoso entregando o país para a Dilma tomar conta até a sua volta dali a quatro anos.
Muita gente pensou que a Dilma seria a Hector Câmpora do Lula. Câmpora foi a escolha de Perón para presidente da Argentina que fez tudo direitinho. Perón estava há décadas exilado na Espanha e o regime militar argentino murchava. Estava certo que o velho caudilho voltaria.
Jogada de mestre, me falou o Tribuzi eufórico. Eleito por maioria esmagadora, Câmpora, um dentista da classe media, tomou posse, decretou a anistia de Perón e demais, renunciou ao cargo não sem antes marcar novas eleições, passou o cargo ao Vice que também renunciou e ante a dupla vacância Perón foi eleito estrondosamente.
O resto ninguém na Argentina esqueceu. Perón colocou sua mulher, Isabelita, como vice e pouco depois um enfisema pulmonar o levou para a companhia de Evita.
Os milicos derrubaram Isabelita e a ditadura militar voltou.
Há um grande erro nessa estória de alguém que está de saída achar que irá prosseguir no mando se eleger o seu sucessor. São marcantes os dois primeiros momentos. Um, quando pega na caneta e assina as primeiras nomeações. O outro, quando senta na cadeira e ouve, pela primeira vez, o vocativo "Presidente!" ou "Governador!" ou "Prefeito". Aí, amiga, amigo, adeus.
Agora a Dilma, depois da rasteira no Lula, fica pedindo apoio para ir ficando porque, diz ela, essas crises todas – a crise econômica, a crise politica e, sobretudo, a crise moral ou déficit de cidadania, que estamos vivendo, são apenas parte de uma travessia.
Mas e aí, Dona, quem empurrou o Brasil para esse rumo de uma travessia tão difícil quanto impossível que já penaliza a quase todos?
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