As flores são símbolo de beleza, delicadeza e até doçura. E, justamente por isso, pouco tem a ver com o dia internacional da mulher. Afinal, a origem dessa celebração são os diversos movimentos de luta organizados por mulheres em busca de melhores condições de vida e de trabalho, que se espalharam pelo mundo no final do século XIX e começo do século XX. Manifestações de operarias da indústria têxtil nova-iorquina em 1908 (há quem diga que ocorreu em 1857), longa greve no setor têxtil norte americano em 1909, resolução da Conferência Internacional das Mulheres Socialistas na Dinamarca em 1910, incêndio numa fábrica têxtil nova-iorquina que culminou com a morte de mais de cem trabalhadoras, protesto "Pão e Paz" realizado na Rússia Czarista em 1917, para citar alguns exemplos.
E hoje? Por que celebrar o dia da mulher em pleno século XXI? Por que insistir nisso quando direitos e espaços já foram conquistados? Por que afrontar a norma culta da nossa língua e saudar "a todos e todas", chamar a chefe do Poder Executivo de “Presidenta" e insistir numa linguagem inclusiva? Por que? Porque, embora muitos preconizem o fim e do feminismo, não chegamos ao nirvana. Não estamos nem perto. Demonstração eloquente disso é o corpo da mulher que continua sendo tratado como domínio público: as roupas devem ser apropriadas para esconder o objeto sexual que somos; o cabelo deve ser pintado para disfarçar a idade (juventude é pressuposto da sexualidade); o prazer deve ser comedido para não sermos tachadas de nomes impublicáveis; a maternidade deve ser suportada com dignidade ainda que indesejada e que implique discriminação ("o mercado é cruel"); o instinto de cuidado deve aflorar por ser intrínseco; e a submissão aos atos de violência deve ser natural.
Apesar dessa realidade grotesca, alçar as bandeiras do feminismo tem sido motivo de vergonha. Das coisas que a gente deveria fazer escondido e falar bem baixinho, já que feminismo é uma palavra impopular bradada por gente chata, que normalmente é mal amada, mal humorada, ressentida, anti-homem e, frise-se, completamente anacrônica. Só que não! Nesse mundo cada dia mais intricado, é melhor mandar às favas o preconceito alheio e lutar pela liberdade e igualdade antes que arranquem a nossa voz. É como foi dito no discurso de lançamento da campanha HeForShe da ONU, "Se não for eu, quem? Se não for agora, quando?". Reconheço que esse texto é fruto da coragem e da clareza que os cabelos brancos (sim, brancos!) trouxeram e que, há dez anos, eu não assinaria essas palavras. Admito, também, que as mulheres da minha vida (mãe, tias, irmãs, amigas), na sua idiossincrasia, contribuíram para a compreensão da frase "ninguém nasce mulher, torna-se mulher" (Simone de Beauvoir).
E, para quem não compartilha da minha história? Para essas pessoas existe o dia internacional das mulheres! Dia de lembrar, dia de refletir, dia de unir-se à luta, dia de redobrar esforços para construir uma sociedade justa, plural, livre e igual. Então, em vez de flores, nesse 8 de março, dedicamos a todas as mulheres e todos os homens com quem convivemos elementos para reflexão.
Feliz dia de luta!
_______________