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Fazendo um relação com a política do pão e com circo, Edson Vidigal comenta sobre a Copa do Mundo no Brasil.

13/7/2014

Em principio, são as boas intenções que movem as ações. Interessado em levantar a autoestima dos romanos e assim cativar-lhes o apoio, Vespasiano instituiu como política pública o “Pane et Circense”, uma espécie de bolsa pão e circo.

 

O Coliseu foi a grande arena a simbolizar o poderio de Roma. Depois da reforma, bancada com o dinheiro tomado dos judeus, vítimas já naquele tempo da intolerância religiosa, passou a ter lugar para quase 100 (cem) mil pessoas.

 

Por dias e noites, seguidamente, ao longo de quatro séculos o povão se divertiu com as lutas entre gladiadores, caçadas a tigres e leões capturados na África, dentre outros entretenimentos de massas.

 

Hoje há controvérsias quanto a provas conclusivas de martírios de cristãos.

 

O Papa Bento XIV foi quem consagrou o Coliseu à Paixão de Cristo e o declarou lugar sagrado. Daí ser ali uma das paradas da procissão de toda sexta feira santa.

 

Atribui-se aos gregos a invenção das olimpíadas como vacina contra a violência entre os povos.

 

Queimando mais calorias produz-se mais endorfina , aquele neurotransmissor que até vicia.

 

Hoje, a política pública do pão e circo inventada e testada pelos romanos continua. Agora não é com dinheiro roubado dos judeus nem com a mão de obra dos escravos em que eram transformados os vencidos nas guerras romanas.

 

Agora pense numa fatura de R$ 8 (oito) bilhões de reais bancada por todos nós brasileiros insatisfeitos com a saúde pública, com o ensino público, com a segurança pública, com o transporte coletivo, leia-se mobilidade urbana. Não só isso causa insatisfações – a falta de infraestrutura e de seriedade na execução do que foi planejado.

 

O País carece de estradas, de hidrovias, de ferrovias, de aeroportos pequenos e médios no interior. O modelo político vigente está vencido e o Estado não pode se alhear mais do que tem se mantido alheio às legitimas aspirações sociais.

 

Por conta de 07 (sete) estádios, que a FIFA prefere chamar de arenas, que os romanos chamavam de Coliseu, os Estados, por seus atuais governos, tiveram que se endividar com empréstimos ao BNDES num total de R$ 2, 3 bilhões.

 

Segundo a ONG Contas Abertas, só o custo com os estádios, ou arenas, equivale a dois anos de investimentos federais em saúde ou, se preferirem, à instalação de 2.263 escolas.

 

O mais grave é que ninguém consegue fechar a conta real dos gastos com a Copa. Sabe-se que no Portal da Transparência constam R$ 25,6 bilhões, excluídas as despesas com publicidade, com as estruturas temporárias, com os centros de treinamento e com os subsídios à FIFA.

 

Estima-se em R$ 10 bilhões as receitas da FIFA com a Copa no Brasil. Não obstante, coitadinha, não pagará impostos calculados em R$ 1, 1 bilhão. Nossos Deputados Federais e Senadores votaram, a toque de caixa, como se diz, essas isenções todas.

 

Quanto às vaias, dizia Carlos Imperial – “só a vaia consagra o artista. Para aplaudir ninguém precisa de coragem. Aplaude-se por qualquer coisa. A vaia, não. Depende de consciência, de certeza. Quem aplaude nem sempre sabe porque aplaude. Mas quem vaia, sim. Sabe porque vaia.”

 

Guardemo-nos, irmãs e irmãos, para as urnas. Nesse campeonato é que, pelo voto, valerá a pena vaiar. E por favor, nada de xingar.

 

______________

 

*Edson Vidigal é ex-presidente do STJ e professor de Direito na UFMA.

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