Há 17 anos um numeroso contingente da polícia estadual do Pará cumprindo ordens superiores atirou contra um grupo de trabalhadores rurais que explicitando seu protesto contra os grileiros que os expulsavam das terras em que trabalhavam resolveram obstruir o tráfego numa estrada.
Não escapou ninguém. Foram todos massacrados. Dos 19 trabalhadores sem terra vitimados por aquela violência do Estado, 6 eram maranhenses. Seus nomes – Amâncio, 42 anos, hemorragia intracraniana. António, 27 anos, 2 balaços no peito. Ribamar, 22 anos, 2 balaços, sendo 1 à queima roupa. Leonardo, 46 anos, morto a golpes de sabre. Lourival, 25 anos, 1 tiro certeiro no coração. Raimundo, 20 anos, 2 tiros sendo 1 na cabeça, outro no peito.
Na justiça muitas vezes incompreensivelmente lenta demais, o caso até hoje conhecido como o Massacre de Eldorado de Carajás seguia devagar quase parando. Fui eu quem fez o processo andar determinando que os policiais acusados fossem a julgamento na capital do Estado, Belém. Em Direito Processual chamamos a isso de desaforamento.
Agora outra tragédia, dentre as quantas sobre as quais nem chegamos a ter noticia, desaba sobre conterrâneos nossos enlutando famílias no Maranhão. No desabamento do prédio em construção em São Paulo, Capital, morreram 10 operários, dos quais 9 maranhenses. Seus nomes – António, 23 anos; Marcelo, 22 anos. Claudemir, 28 anos. Leidiano, 27 anos. Todos estes de Barra do Corda. Dois de Imperatriz – Felipe, 20 anos e Raimundo, 38 anos. De Mirador, Ocirlan, de 19 anos. De Grajaú, António Carlos, de 36 anos. E de Caxias, Ribamar, de 20 anos.
O que tem levado centenas de milhares de homens e mulheres do Maranhão a baterem em retirada para outros rincões do país é a absoluta falta de oportunidades de trabalho em nosso Estado.
Muitos homens atraídos pelos agenciadores de mão de obra conhecidos como "gateiros" foram induzidos ao trabalho escravo nas selvas da Amazônia e poucos conseguiram fugir daquele inferno verde e encharcado.
A maioria sem nada ostentando como profissão apenas a esperança corre para as construções dos grandes edifícios de São Paulo e do Rio de Janeiro. Volta e meia, como na canção do Chico Buarque, um deles flutua no ar como se fosse um pássaro se estatelando no meio do passeio publico.
O Maranhão não pode seguir à espera de salvadores da Pátria que instigam o Povo a acreditar em politicas milagrosas.
Precisamos encontrar meios que assegurem oportunidades de trabalho a todos que necessitam trabalhar. Não podemos seguir semeando ilusões aos jovens, em especial.
Mas devemos, sim, trabalhar para que os jovens tendo profissões definidas, habilitações práticas, possam disputar as oportunidades que virão com o desenvolvimento que as potencialidades deste Estado com a seriedade, experiência e legitimidade de seus líderes haverá de alcançar.
Não há Estado hoje que não esteja investindo somas fabulosas na preparação com qualidade dos seus valores humanos. Não podemos mais permitir que os nossos filhos deixem o Maranhão por falta das condições a que todos tem direito num Estado Democrático de Direito. O qual não se realiza apenas pela realização de eleições periódicas e proclamação dos eleitos.
O Maranhão não pode ser mais como Jerusalém que calava e exilava os seus profetas. Quando não os eliminava.
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* Edson Vidigal é ex-presidente do STJ e professor de Direito na UFMA.