Migalhas de Peso

Dólares à cubana

Se as novas denúncias da Veja (Ed. 1929 2/10/05) sobre dinheiro estrangeiro recebido pelo PT ficarem provadas, a situação de Lula piora dramaticamente e o partido acaba. A revista já havia feito uma reportagem sobre as ligações do PT e as FARC colombianas, com o recebimento de milhões em narcodólares pelo partido.

2/11/2005


Dólares à cubana


Luiz Leitão*


Se as novas denúncias da Veja (Ed. 1929 2/10/05) sobre dinheiro estrangeiro recebido pelo PT ficarem provadas, a situação de Lula piora dramaticamente e o partido acaba. A revista já havia feito uma reportagem sobre as ligações do PT e as FARC colombianas, com o recebimento de milhões em narcodólares pelo partido.


À época ainda não havia surgido o escândalo do mensalão e não havia provas, como ainda não há. Se então a denúncia parecia inverossímil, hoje, à vista de declarações do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) de que tem conhecimento de denúncias sobre dinheiro estrangeiro para o PT, da Colômbia inclusive, por meio das FARC, talvez a revista estivesse certa.


Novas acusações são tudo o que as oposições queriam agora que travam uma aguerrida luta de morte contra o governo, por causa da exigência de cassação do senador tucano Eduardo Azeredo, de saída da presidência do partido. Mas o enfoque está errado. Se Azeredo é acusado, havendo bons indícios e o testemunho de seu tesoureiro, os tucanos deveriam apoiar as investigações e o pedido de cassação, mais não seja, por amor à verdade e à coerência, para que não se diga, como se tem dito, que PT e PSDB são irmãos siameses.


Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo (30/10, A-8), o senador tucano Tasso Jereissati, que irá assumir a presidência do partido, apóia o impedimento de Lula, mas dá de cara com a incoerência ao dizer que Azeredo não pode ser cassado por uma eleição que perdeu em 1998. Então, porque Lula haveria de sê-lo pelo pleito que ocorreu em 2002? Haver ganhado ou perdido é irrelevante. Tasso cai na mesma hipocrisia de culpar o tesoureiro, quando o candidato é o responsável final pelas suas contas de campanha. A família Jereissati tem participação na Telemar e é dona de shopping centers, como o Iguatemi de S. Paulo, através da empresa La Fonte Participações.


O caso Cubano seria a tão esperada revelação da origem de parte do dinheiro administrado por Marcos Valério, cujo total varia a depender de quem sustenta as denúncias. Rogério Buratti, o ex-secretário do médico e ministro da fazenda Antonio Palocci diz que eram três milhões; outro ex-auxiliar do ministro, Vladimir Poleto, fala em 1,4 milhão, que teriam vindo de Cuba para Brasília não se sabe bem como, ou não convém dizer.


Mas da Capital, a dinheirama foi levada para Campinas (SP) por Polleto - que foi mais original que outros colaboradores do esquema Valeriano, em vez de malas e cuecas, acondicionou as notas em caixas de whisky – num avião Sêneca que pertence ao empresário Roberto Colnaghi, amigo de Palocci, e que também possui um jatinho Citation, gentilmente cedido ao hoje ministro durante a campanha presidencial de Lula da Silva.


O dinheiro foi levado a Delúbio Soares (que é professor de matemática) pelo finado Ralf Barquette. Não será difícil pedir ao DAC - Depto. de Aviação Civil que confirme se aquele avião cumpriu o trajeto na data informada na reportagem, pois toda aeronave que voa sobre o território nacional tem de comunicar seu plano de vôo àquele órgão, que poderá identificar o piloto e o passageiro. Curiosamente, o carro que transportou as pessoas de Campinas a São Paulo pertence também a um empresário de Ribeirão Preto (SP).


Palocci alega que a história é fantasiosa e Delúbio também nega tudo.


As testemunhas entrevistadas pela revista tiveram suas falas gravadas com seu consentimento, mas de repente, tornaram-se arredias, o que dá uma idéia do peso desta trama. O que causa espécie é que havia em Brasília uma casa alugada, apelidada mui apropriadamente de Central de Negócios, que era freqüentada por Barquette, Buratti, pelo dono do Ômega que transportou as caixas de dinheiro, a quem também pertencia o Ômega blindado usado por Delúbio; pelo proprietário do avião e, quem diria, pelo próprio Palocci.


Na mesma edição de Veja, o colunista Diogo Mainardi relata um diálogo que teria tido com uma Fonte não revelada, no qual um dono de shopping centers e irmão de um senador deu R$1 milhão à campanha do bananão (Alusão a Lula?). A Fonte retruca que o irmão deu muito mais, por sua operadora telefônica, US$6 milhões, em setembro de 2002,lembrando que o governo federal é sócio da empresa de telecomunicações. Falam também sobre um médico e um professor de matemática, além de um doleiro que tem escritório num shopping center...


Toda esta confusão que envolve governo, oposições, empresários, interesses bilionários e até um país estrangeiro foi muito bem urdida, será mesmo um trabalho hercúleo desvendá-la, se é que será conveniente para uns e outros que isto aconteça. Por isso se fala tanto em pizza.
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*Administrador e articulista





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