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Alianças argentárias

Durante o julgamento de Dirceu, Genuíno e Delúbio, por corrupção ativa, o ministro Britto afirmou ser "catastrófico e profanador" o estilo de fazer política, por meio de "alianças argentárias". Entenda a motivação poética do uso.

24/10/2012

Durante o julgamento de José Dirceu, José Genuíno e Delúbio Soares, por corrupção ativa, o Ministro Carlos Ayres Britto afirmou, em seu voto, ser “catastrófico e profanador” o estilo de fazer política, por meio de “alianças argentárias”.

Um amigo, avesso à temática jurídica, queixou-se comigo: “Com tanto juridiquês fica difícil!”.

De fato, a expressão é pouco usual, mas não me parece juridiquês. Afinal, argentário significa algo que tem como base o argento, ou seja, a prata. E a prata, no caso, simboliza o dinheiro. Assim, “alianças argentárias” não seriam mais que acordos políticos feitos em troca de dinheiro. Acordos, portanto, que não eram acordos, pois o parlamentar que age por dinheiro vende a si mesmo, vende o mandato recebido, vende a confiança recebida de seus eleitores.

Durante o julgamento desses atos, o que se viu foi o Britto poeta fornecendo as ferramentas da linguagem simbólica da poesia, para que o Ministro Britto pudesse expressar, mais que um entendimento jurídico, o seu sentimento de indignação. Porque, no mundo poético-literário, admira-se o herói, que age por altruísmo; aceita-se o aventureiro, que se arrisca em busca do ouro e da glória; mas, repudia-se o traidor, que entrega os seus companheiros em troca da prata.

Nessa linha simbólico-poética, até a escolha do metal que representa o dinheiro tem uma razão de ser. Porque, sendo o ouro o mais nobre dos metais, não serve para simbolizar o dinheiro ganho por meios espúrios. Daí se dizer que o traidor agiu pela prata. Ou, pior, que entregou o seu melhor amigo em troca de alguns cobres.

Ao falar de “alianças argentárias”, não creio que o Ministro Britto tenha agido movido pelo vício do juridiquês, e sim estimulado pelo Britto poeta. Como escrevi certa vez: “A poesia é presente/ No olhar do acusado,/ Seja quando ele é culpado/ Seja quando é inocente./ Na testemunha que mente/ E na que fala a verdade./ Na imparcialidade/ Que todo juiz queria./ Veja quanta poesia/ Em nossa realidade!

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* Marcos Mairton é escritor, compositor e juiz Federal em Quixadá/CE.






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