Para identificar a personalidade política de Lula é preciso remontar ao início do século XX, quando certos grupos sindicalistas franceses forjaram nova prática de luta, a “ação direta”, que seria a principal arma dos sindicatos dali em diante até nossos dias.
A ação direta dispensa qualquer tipo de mediação para a conquista de seus objetivos, como a lei, as normas, o parlamento, a ética, as instituições, a tramitação normal em todo o processo de reivindicação social. Basta a nobreza e a santidade dos fins, para justificar os meios, a violência, a transgressão, a antecipação e a brutalidade das greves, e todo tipo de atentados à convivência normal entre as pessoas. A urgência dos resultados fala mais alto do que a lei, o parlamento, o diálogo, o acordo entre as partes.
Lula começou como sindicalista no ABC, com comícios na porta de fábricas, incitação dos trabalhadores e promessas temerárias de fundo irracional. Pouco a pouco foi definindo seu perfil, que nunca foi de um democrata, nem de um tecnocrata (como Dilma), e muito menos de um estadista, mas o perfil de um demagogo puro-sangue.
Neste texto não se visa desqualificar a pessoa de Lula, e sim, pelo contrário, qualificá-lo em sua precisa identidade política. A palavra “demagogo” tem aqui uma conotação técnica, a mesma que foi dada por Aristóteles. Para este filósofo a demagogia constitui a degeneração da democracia, ou seja, a sujeição da política aos fins pessoais. Segundo Bobbio, Matteucci e Pasquino, a demagogia não é propriamente uma forma de governo nem um regime político. Limita-se a uma prática apoiada diretamente nas massas, mas desviando-as de sua real e consciente participação ativa na vida política (“Dicionário de Política”).
Pelos seus métodos demagógicos e populistas, Lula não pode ser um democrata, e pelo seu papel de eversor ou destruidor das instituições, jamais poderia constituir-se num estadista. Estadista é aquele político que põe o Estado a serviço da sociedade. Lula coloca a sociedade a serviço do Estado e o Estado a serviço de um partido. Desde sua posse não fez senão ocupar todos os postos de direção do Estado não pelo mérito dos servidores, mas por sua condição de petistas. Antecipou e radicalizou o sistema de cotas para a totalidade de sua administração, transformada em negócio de pai perdulário para filho mimado.
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* Gilberto de Mello Kujawski é procurador de Justiça aposentado, escritor e jornalista
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