Migalhas de Peso

Fernando Henrique no Roda Viva

Diferenciando a “pose” do “instantâneo”, o filósofo afirma que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nunca revelou tanto de sua personalidade quanto na entrevista ao programa Roda Viva no dia 5 de dezembro.

13/12/2011

Gilberto de Mello Kujawski

Fernando Henrique no Roda Viva

Na 2ª feira, 5 de dezembro de 2011, Fernando Henrique Cardoso foi entrevistado no programa Roda Viva, da TV Cultura, saindo-se melhor que a encomenda em mais este encontro com a imprensa.

Nada revela melhor nossa pessoa do que a entrevista na televisão. Ao se manifestar por escrito, em livro ou artigo de jornal, a pessoa fica mascarada atrás das palavras. Já a TV nos devassa com nosso rosto, nosso gestual, linguagem corporal, articulação e ritmo intelectual.

Entre o artigo de jornal e a entrevista existe a mesma diferença que entre a "pose" e o "instantâneo", em linguagem fotográfica. A pose é sempre mais formal, estudada, ensaiada. O instantâneo, graças à brevidade da exposição, é informal, espontâneo, apanha a pessoa em flagrante, sem disfarce, sem tempo de querer parecer inteligente.

Fernando Henrique nunca revelou tanto de sua personalidade, de sua maneira de ser quanto nesta entrevista. Dizer como FHC é "inteligente" e "articulado" é recair na unanimidade, coisa que não se discute nem entre seus inimigos. Há várias maneiras de ser inteligente. Ao responder ao questionamento cerrado dos inquisidores, além de inteligência, agilidade mental, preparo, FHC deixou transparecer sua maneira, sua forma estritamente pessoal e muito rara de ser "inteligente".

Ao interpretar sua fala com palavras, gesticulação etc., a impressão transmitida é a de que seu discurso não consiste só em discurso, mas embute claramente, constantemente, a cada palavra emitida, um esboço de decisão. Fernando Henrique, ao discorrer sobre política, não se perde em devaneios. Ele se joga para a frente, ensaia sua estratégia, responde pelo que propõe, no mesmo ato em que está falando. Característica sua é assumir posição clara e firme sobre todos os assuntos. Frontalmente, sem "enrolar", sem obliquidades. "Qual é a nossa decisão?" indagou a certa altura do programa.

Homem de pensamento? Sem dúvida, mas para o qual o pensamento constitui a previsão e o preparativo da ação. O cérebro ligado diretamente com as mãos frementes, ansiosas por fazer alguma coisa. Ele se cobra o tempo todo. Primeiro, em relação aos fins. Qual é o "rumo?" (palavra muito frequente em sua fala). Depois, quanto aos meios: - qual o caminho para atingir os fins, para cursar este ou aquele rumo?

Homem de pensamento, sem dúvida, mas do pensamento em ação. Professor brilhante, mas nada "acadêmico". Um tipo executivo da cabeça aos pés.

FHC representa entre nós a edição mais vigorosa e mais pura do uso público da inteligência, a inteligência a serviço do interesse político e social. Pensa muito mais nas próximas gerações do que na próxima eleição.

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* Gilberto de Mello Kujawski é promotor de Justiça aposentado, escritor e jornalista

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