Gilberto de Mello Kujawski
O problema do trânsito
Trânsito é problema de engenharia, como se sabe. Mas a engenharia por si só é incapaz de solucionar qualquer impasse viário urbano. Para atingir resultados a engenharia tem que se entrosar com a estratégia, a tática, a sociologia, a política, a psicologia e a estética do trânsito, tudo isso equacionado no panorama superior de uma filosofia urbana que responda pela cidade que seus moradores desejam: uma cidade do trabalho, do lazer, da cultura, ou das três coisas combinadas?
A falta de entrosamento da engenharia de trânsito com outras áreas é responsável pela série de providências oportunistas e meramente paliativas, implantadas no improviso, que apenas adiam a data em que o poder público vai enfrentar para valer o problema. Que, aliás, só contando com a colaboração do setor privado poderá aproximar-se de solução definitiva.
Dentre as medidas paliativas desacreditadas e das quais estamos todos cansados, incluem-se: restrições, como a dos caminhões, por exemplo, obras viárias, como ampliação das marginais, novas pistas, pontes estaiadas, o rodízio e as multas cada vez mais escorchantes, injustas e absurdas.
Entre as medidas substantivas, que prometem solução de verdade, apontam-se: a melhoria do transporte público, a expansão acelerada da rede metroviária, a difusão dos ônibus fretados e o pedágio urbano.
Colhemos aqui as opiniões autorizadas de alguns especialistas de peso. Horácio Augusto Figueira, mestre em Engenharia de Transportes, assim critica a febre de construir mais pistas para carro: "O automóvel, que é predatório, vai tomar conta delas rapidinho. No fundo, todas as obras, seja alargamento da Marginal do Tietê ou construção de pontes estaiadas, foram inúteis. Deveriam ter aplicado mais recursos no transporte público" (O Estado de S.Paulo, 10/10/2011).
Flamínio Fichmann, consultor de engenharia de tráfego, explica a perda de eficácia das soluções para melhorar a fluidez do trânsito: "Obras viárias, com o tempo, geram uma atratividade que faz o congestionamento voltar aos patamares anteriores. A única solução que não se esgotaria é o pedágio urbano" (O Estado de S. Paulo, 10/10/2011).
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*Gilberto de Mello Kujawski é ex-promotor de Justiça. Escritor e jornalista
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