Conheça-te a ti mesmo
Eudes Quintino de Oliveira Júnior*
Hoje, sem a conotação de consulta aos deuses, mas com o avanço da biotecnociência e da biotecnologia, o homem pode encomendar a realização de um teste genético para conhecer as possíveis doenças que poderá desenvolver e, desde já, apontada a provável listagem de moléstias, mudar seu estilo de vida para contrariar as previsões dos genes. Num repente, o homem tem em suas mãos um instrumento não para explorar o seu conhecimento interior, mas sim para conhecer seu próprio corpo. Trata-se do check-up genômico, com a facilidade de contratá-lo pelo correio. O interessado recebe um kit de coleta, recolhe as células bucais e as envia para um laboratório especializado em fazer o mapeamento e leitura do genoma, apontando os prováveis riscos de doenças.
Assim, analisadas as características genéticas de um bebê e apontada uma doença congênita ou alterações cromossômicas relevantes no rastreamento pré-natal, admite-se o procedimento corretivo. Nos EUA, por exemplo, de uma forma mais radical, se os genes apontarem para cânceres, as clínicas recomendam o abortamento. Se um jovem identificar os riscos de desenvolver Alzheimer ou diabetes, terá tempo suficiente para afastar as maléficas profecias e ajustar sua vida preventivamente. Da mesma forma se outro encontrar propensão para a obesidade e problemas cardiovasculares. Tudo isso porque as doenças, via de regra, já estão previamente instaladas e escritas nos genes. Cabe ao homem conhecê-las para combatê-las.
De acordo com o caminhar da tecnologia, chegará um tempo em que o paciente somente consultará o médico com a apresentação do seu DNA sequenciado, oportunidade em que o profissional, sem tocá-lo e sem qualquer indagação clínica, será um intérprete das informações contidas no check-up genético e aconselhará as condutas mais corretas para se evitar a aproximação com as prováveis doenças diagnosticadas. Dá-se a impressão de que um ser robotizado é encaminhado para a revisão e, se for o caso, será providenciada a troca de equipamentos.
Não há dúvida que a decifração do código genético representa uma das maiores conquistas da humanidade. Conhecer detalhadamente cada função que o gene exerce no interior do DNA é praticamente descobrir o código da vida. A recomendação que se faz a respeito da leitura do código humano é que somente as pessoas portadoras de doenças genéticas graves sejam submetidas ao exame. Pessoa sem registro familiar, ao receber um laudo que seja comprometedor, acarretará vários dissabores ao seu médico, além de entrar em profunda depressão, que a levará, provavelmente, a outra moléstia.
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*Promotor de Justiça aposentado/SP. Advogado e reitor do Centro Universitário do Norte Paulista - Unorp
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