Migalhas de Peso

As Novas

Começa o dia, você liga o rádio, vê a televisão, folheia os jornais e se lhe perguntam pela novidade a resposta que sairia límpida logo se transfigura em outra pergunta – novidade? Não há novidade. Essa inundação de informações vai se diluindo com o correr das horas nos reencontros com a rotina, mas a impressão que fica é que não há novidade mesmo.

25/5/2011

As Novas

Edson Vidigal*

Começa o dia, você liga o rádio, vê a televisão, folheia os jornais e se lhe perguntam pela novidade a resposta que sairia límpida logo se transfigura em outra pergunta – novidade? Não há novidade.

Essa inundação de informações quase afogando o silêncio da gente no amanhecer vai se diluindo com o correr das horas nos reencontros com a rotina, mas a impressão que fica é que não há novidade mesmo.

É muita tragédia. Muitas ações cínicas usurpando os espaços das ações cívicas. Muita imoralidade. Muita desonestidade. Muita crueldade. Muita indiferença. Inseguranças e doenças. Muito desrespeito.

Você se antena nessas mídias e logo se cansa na quase certeza de que aquilo tudo é antigo, os nomes não os mesmos às vezes, os lugares também não são os mesmos às vezes. De tudo, resta a quase certeza da mesmice, que não há novidade mesmo.

No Maranhão não é só a mesmice das notícias sempre tendenciosas, douradas como as antigas pílulas contra o estupor ou então intragáveis que nem óleo de rícino, tudo conforme o interesse do dono de tudo.

O problema está em não apenas ter que conviver com a mesmice dessas coisas, mas ter que aceitar calado a repetição das mentiras, as mesmas mentiras sobre todas as coisas.

Digo aceitar calado porque num lugar onde a República ainda não chegou e onde a Democracia é uma miríade muito distante, um lugar enorme, mas onde tudo está dominado pela mesmice do mesmo, resta apenas protestar, protestar, mas protestar num lugar dominado pelas forças da ocupação não faz tanto efeito.

Clarice Lispector, a propósito dessa coisa de protestar escrevendo, perguntou a Rubem Braga se ele ainda acreditava que isso pudesse ter alguma influencia, gerar algum resultado.

O bom Rubem, sempre o bom Rubem, respondeu contando que, uma vez, ao voltar de Paraty escreveu sobre as belezas do lugar, mas também reclamando contra um alto-falante na praça que, nas tardes de domingo, num tom altíssimo, ensandecia as pessoas.

A crônica fez sucesso, todo mundo comentou, as pessoas de Paraty lhe escreveram agradecendo os elogios ao prazeroso lugar, mas tempos depois quando retornou lá nada havia mudado - o alto-falante continuava no mesmo lugar com o seu som altíssimo desacatando o sossego das pessoas.

No Brasil, sentenciou Braga a Clarice, a gente escreve é para os colegas.

Em Portugal surgiu um movimento social reivindicando dos políticos e da mídia que parem com as mentiras velhas. Queremos mentiras novas! É só o que querem.

Não tenho ideia de como seria isso entre nós. Talvez o movimento logo se esvaziasse como esse da inelegibilidade dos políticos fichas sujas. Então vocês querem é mentiras novas, ah é? Pois aqui estão elas, novinhas em folha. Entre nós não falta político bom nisso. Nem mídia.

Daí que depois de tudo, atiçado por aquela impressão, a mesma de Torquato, num dos seus mais belos poemas, Domingou, – as notícias que leio conheço, já sabia antes mesmo de ler – só me resta, em busca de alguma novidade, garimpar os anúncios classificados.

É lá que estão grandes novidades. Como esta aqui, por exemplo, – Cantinho da Vovó, jogo de búzios e tarô, amarração e feitiços para o amor, faço e desfaço trabalhos. Trago a pessoa amada aos seus pés em 24h.

Que tal, isso não é muito novo?

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*Ex-Presidente do STJ e Professor de Direito na UFMA

 


 

 

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