Visita protocolar?
Gilberto de Mello Kujawski*
A primeira visita de Obama ao Brasil foi tudo, menos "protocolar", isto é, formal, fria, cerimoniosa, convencional, sem calor humano nem criatividade. Pelo contrário, desde o começo a visita do primeiro presidente americano negro assumiu um caráter informal, descontraído, espontâneo, caloroso, e virtualmente criativo no apelo reiterado para o Brasil e USA iniciarem novo ciclo de relações dominado menos pela burocracia, pelo oficialismo, e mais pelo denominador comum de nosso futuro emergente.
Desde quando vimos o político da nação mais poderosa do mundo desembarcando com a mulher e filhas a tiracolo, e mais a sogra e a madrinha das pequenas, de mãos dadas com o pai o tempo todo, mostrando como este homem é inseparável da família e não sabe viver sem ela, apesar de toda sua projeção?
Como pode tanta gente, jornalistas experientes, diplomatas, políticos, economistas, estrategistas, ser tão insensível à novidade clamorosa trazida por Obama e seu estilo de apresentar-se em público, inseparável de Michelle, Malia e Sacha? Barack Obama surge aos olhos de todos como um homem integrado, isto é, no qual se consubstancia o estadista, o homem público, e o chefe de família, a pessoa privada. Nesta integração perfeita está a fórmula de sua felicidade. Obama irradia felicidade, vale dizer, é uma pessoa centrada em seu próprio eixo, fiel a si mesma, que não precisa improvisar-se em histrião quando sobe ao palanque para discursar.
Na verdade, o verdadeiro perfil de Barack Obama é o de supertalentoso garoto-propaganda do famoso e tão incompreendido american way of life. Este constitui um estilo de existência que tem sua tônica na celebração da vida privada. O americano só se sente feliz quando respira em meio à família, aos amigos e colegas, no clube, na igreja, no bairro, falando com o sotaque caipira do seu estado. Certo provincianismo faz parte do americano típico. E Obama está profundamente identificado com esta maneira castiça de ser.
Não seria essa identificação o segredo de sua vitória eleitoral?
No estilo vai a mensagem. A retórica de Obama é impressionante. Mas igualmente impressionante é sua linguagem corporal, sua descontração, sua economia gestual, seu tom de voz.
Esta é a melodia de seu estilo, que os ouvidos insensíveis dos jornalistas e economistas, ávidos de resultados imediatos, não sabem ouvir.
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*Ex-promotor de Justiça. Escritor e jornalista
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