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Guerrilheiros de pijamas

Os militantes petistas desembainharam suas tesouras escolares para recortar as manchetes de jornais e revistas com a finalidade de municiar programas políticos, visando às eleições de 2006.

3/6/2005

Guerrilheiros de pijamas


Paulo Castelo Branco*

Os militantes petistas desembainharam suas tesouras escolares para recortar as manchetes de jornais e revistas com a finalidade de municiar programas políticos, visando às eleições de 2006. O último programa local estava repleto de antigas e novas acusações contra o governo do Distrito Federal. A imagem ficou idêntica às manchetes que surgem na mídia nacional contra o governo do presidente Lula. Parece que a realidade do dia atinge a todos e se volta, tal qual bumerangue, às hostes petistas.

O empenho dos membros do núcleo - antes chamado de duro, mas que amoleceu e se esfarela como se fosse farinha velha do mesmo saco -, em tentar impedir a instalação de CPIs, enfraquece o governo da esperança e obriga o presidente a buscar refúgio no seu Force One, como se estivesse correndo perigo de ser atingido por terroristas fanáticos. O discurso do ministro José Dirceu sobre os perigosos caminhos do golpismo é o mesmo de tantos outros governantes que não suportam a força da democracia e falam baboseiras para assustar o povo trabalhador e ordeiro. Os “golpistas” desses tempos são aqueles que cobram os compromissos não cumpridos em seus teclados; escrevem, falam, reclamam e gozam os detentores do poder somente com as armas da consciência e do bom humor. Quem imaginaria que o João Ubaldo, felizmente imortal, iria mover a montanha da arrogância somente com uma entrevista? E os Cassetas, que infernizam a vida dos poderosos.

A prepotência do poder é tamanha que até o ministro Márcio Thomaz Bastos vai aos jornais para declarar que “o presidente Lula me determinou que se faça investigação sem olhar para os partidos, sem olhar para os ministérios e sem olhar para quem quer que seja”. Se a determinação do presidente foi no sentido de investigar sem olhar para ninguém, não aparecerão culpados. A Polícia Federal, a Polícia Civil, a Polícia Militar e a Justiça são partes do Estado e não dos governos. Seus procedimentos estão voltados à aplicação das leis e da Justiça, não estão sujeitos a interferências dos governantes da hora.

Neste final da semana, a Polícia Civil do Distrito Federal, auxiliada pela Polícia Federal, desbaratou quadrilha que fraudava concursos preparados por uma das mais conceituadas entidades do País, o Cespe da Universidade de Brasília. Tudo começou com uma tentativa de fraude num concurso da própria Polícia Civil. Não precisou determinação do governador ou qualquer outra autoridade. A direção da Polícia Civil iniciou seus procedimentos com pedido à Justiça, investigou e deu o bote nos criminosos. No meio deles, gente boba que pensa que sempre é possível cometer delitos e ficar impune; no meio deles, também, agentes da lei; estes, piores dentre os piores. Como confiar em pessoas que cometem crimes para ingressar na carreira de agente penitenciário? É entregar o pastoreio para os predadores.

Os escândalos que nossos dirigentes tentam abafar estarão todos os dias na mídia, não é porque o governo está agindo com mais rigor no combate à corrupção, é pelo simples avanço da tecnologia que chegou para desvendar a vida de todos. Os minúsculos equipamentos invadem a privacidade dos cidadãos e expõem nas telas as fraquezas de cada um.

Os governos estaduais de oposição têm demonstrado à população como se pode governar com eficiência, aplicando parcos recursos e combatendo a corrupção. É notório o desempenho de Germano Rigotto, no Rio Grande do Sul; Jarbas Vasconcellos, em Pernambuco; Aécio Neves, de Minas Gerais e Geraldo Alckmin, de São Paulo. Aqui em Brasília, Joaquim Roriz não moveu uma palha para impedir a instalação de CPIs na Câmara Legislativa, e não tem constrangimentos em afastar dirigentes sob suspeitas. Lula, após beber da sabedoria milenar dos japoneses, poderia voltar ao Brasil e abrir a caixa preta que limita suas ações e favorece a verborragia de seus guerrilheiros de pijamas.
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*Advogado do escritório Paulo Castelo Branco Advogados Associados






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