Migalhas de Peso

A dolorosa fotografia do governo Lula

O aeroLula, carregado de pessoas, partiu, recentemente, para os funerais do papa, em Roma. E deixou aqui, no Brasil, um cenário, muito mais triste, do que, o que vai encontrar, frente ao enterro do grande líder dos católicos.

19/5/2005

A dolorosa fotografia do governo Lula


Sylvia Romano*

O aeroLula, carregado de pessoas, partiu, recentemente, para os funerais do papa, em Roma. E deixou aqui, no Brasil, um cenário, muito mais triste, do que, o que vai encontrar, frente ao enterro do grande líder dos católicos.

No Brasil, a recuperação de empregos é tímida e apóia-se sempre no emprego precário e informal Os programas sociais não avançam, as concentrações de renda aumentam as médias salariais caem, os programas sociais não avançam e os investimentos produtivos e, em infra-estrutura, caminham em rítmo lento.

As taxas de juros e a carga tributária batem todos os recordes mundiais.

É certo que as vendas da indústria reagiram em fevereiro, mas a Confederação Nacional da Indústria alertou que os indicadores, “mais positivos”, camuflam a perda de fôlego da atividade manufatureira no período. O Coordenador de Política Econômica da entidade, Flávio Castelo Branco, sustentou que “o aumento de vendas não teria sido suficiente para compensar o tombo de janeiro”, e que “a elevação de juros reais no país e a valorização da taxa de cambio estão na raiz desse arrefecimento da atividade industrial e, uma vez mantidas, poderão trazer sérios danos à economia brasileira”.

O presidente Lula, abalado pela derrota, na presidência da Câmara dos Deputados, abusou da retórica, decidindo manter o poder no futuro. De fato. Fez alianças com objetivo único de disputar as próximas eleições, inclusive, articulando uma reforma ministerial.

Como salienta, Alberto Goldman, em seu artigo publicado no veículo “A Folha de São Paulo”, denominado “Desmistificando Lula”, ou “Moleque Despreparado”, “Como presidente, Lula mostrou facetas que poucos conheciam. Arquivou o núcleo do pensamento reformista/revolucionário do PT, inclusive, os princípios éticos que, supunha-se, defendia, conformando-se e adaptando-se aos grupos de poder econômico e político existentes, sem, no entanto, abandonar o discurso que se ajusta conforme a platéia... Deslumbrado com o poder, sem conseguir dar um rumo ao governo, equilibra-se distribuindo cargos e atendendo aos interesses mais diversos. Acena para empresários, com a mesma ênfase, com que promete aos humildes... Seu discurso emocionado e solidário com o povo mais pobre, não guarda nenhuma relação com as ações concretas e seu governo”.

No centro da Diocese de São Paulo, há uma romaria de desempregados. Diariamente, perto de 1,5 mil desempregados passam pelas seis unidades do centro espalhadas pela periferia de São Paulo.

Alguns valores fundamentais de uma sociedade democrática, moderna e republicana, arduamente conquistados vêm sendo atingidos. O governo Lula é concentrador de poder: nos oito anos do governo FHC, a participação da União na carga tributária total, foi de 56.6%, enquanto que só nos dois anos de Lula, a participação na União subiu para 58,5%. A austeridade fiscal, no atual governo, vem se dando através de aumento de impostos e contribuições. Nos oito anos de FHC, a carga tributária foi de 17.9% do PIB, enquanto nos dois anos de Lula a média foi de 21.1% do PIB.

Como bem salientam os dados, o ano de 2005 se iniciou com a Medida Provisória 232, que seria mais um aumento de receitas para a União. Por outro lado, as despesas têm aumentado sistematicamente, sem nenhuma ação do governo para contê-las. Só em 2004, aumentaram em mais de 20% os gastos de 2003, o que, em absoluto, não se traduziu em mais eficiência e em melhores resultados.

A atividade industrial perdeu mesmo o fôlego. De acordo com o informe da CNI, a massa salarial, cresceu timidamente 0,09% em fevereiro, em relação ao mês anterior. Trata-se de um percentual considerado bastante baixo para fazer frente a queda de 0,77% em janeiro.

De acordo com o informe da CNI, a média dos salários reais pagos na industria, no primeiro bimestre de 2005, foi a mesma do que aquela registrada no quarto bimestre do ano passado.

A queda do ritmo de crescimento da industria foi confirmada nos desempenho de outros dois indicadores do setor, a massa salarial e as horas trabalhadas na produção.

O desenvolvimento da era Lula, guarda uma relação surpreendente com o período Medici, conforme nos ensina, ou nos relembra, no mesmo artigo citado, Alberto Goldman: “então também se dizia que a economia ia bem, mas o povo ia mal. O mesmo pode-se dizer hoje. O crescimento do PIB, em 2004, cantado em verso e prosa em relação ao desastroso ano de 2003, está em torno de 5%, mas a repercussão sobre os índices de emprego é limitada (o desemprego em 2003 foi de 12,3%, e, em 2004, de 11,5%) e o rendimento médio real dos ocupados, continua caindo. Isso significa, sem sombra de dúvida, que o processo de concentração de renda se agravou durante o governo Lula”.

Lula tenta e tentará, até se autoeleger novamente, encobrir, não só a pobreza dos resultados do seu governo, refletida na vida de cada cidadão, exibir sua presença contínua na mídia, tentando vender a imagem de homem humilde, indignado com a miséria, nem que seja “a custa de pequenas ou grandes mentiras. Porém, não há como separar Lula de seu governo, são duas faces da mesma moeda”.
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* Advogada especializada em Direito do Trabalho e sócia do escritório Sylvia Romano Advocacia





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