Cadeiras Vazias
Edson Vidigal*
Arriscar uma trégua num banco de praça ou desses bancos que se espalham pelo cais da beira-mar é como querer pagar em parcelas uma dívida de cartão de crédito.
Ou seja, num caso ou no outro você pode acabar assaltado.
Estamos vendo agora que os vazios se impõem com mais estridência nas cadeiras reservadas a grandes personalidades como os recentes ganhadores do Prêmio Nobel da Paz e do Prêmio Shakarov à Liberdade de Pensamento.
A Fundação Nobel como vocês sabem não tem maracutaia de dinheiro público, não. O dinheiro dos prêmios vem dos lucros obtidos pela administração da fortuna deixada por Alfred Nobel, o inventor da dinamite.
E assim, anualmente, são premiados os que mais se destacam na pesquisa cientifica, na literatura e nas lutas pela Paz no mundo.
O velho Nobel teria se sentido tão culpado pela invenção de uma coisa que acabou se prestando para tanta destruição que aí, querendo purgar-se, inscreveu no seu legado um prêmio de boa grana a quem mais se destacasse não só nas áreas da ciência, da literatura, da economia, mas também na luta pela Paz.
Volta e meia o Nobel da Paz se direciona a alguém quase anônimo, envolto em guerra quase particular, algumas vezes solitária, mas guerra séria por princípios sem os quais a civilização empaca, as certezas de liberdades democráticas se diluem e perecem.
Agora, outra vez, o Nobel da Paz chama a atenção do mundo para um dissidente político, no caso o chinês Liu Xiaobo, condenado e cumprindo pena de reclusão na China por não concordar com os conteúdos da ideologia e maneiras do Estado predominantes em seu país.
Daí que na solenidade de entrega do Nobel da Paz o prêmio foi colocado sobre uma cadeira vazia.
Não foi novidade porque anos atrás semelhante entrega de prêmio ocorreu com Andrei Shakarov, um dissidente do então comunismo soviético, cujo governo não lhe permitiu sair do país para receber pessoalmente a homenagem.
Em Bruxelas, outra cadeira vazia chamou a atenção do mundo agora em censuras ao regime político de Cuba, o qual também não permitiu que Guilhermo Farinãs saísse de Havana para receber o prêmio Andrei Shakarov à Liberdade de Pensamento, resultado de uma vaquinha entre ativistas dos direitos humanos na União Europeia.
Farinãs é aquele escritor que escapou da morte ao denunciar numa longa greve de fome que em Cuba ainda há muitos prisioneiros políticos.
Cadeiras vazias que, no Brasil de atualmente, são doirados sonhos de assunção entre a maioria dos políticos em Brasília e alhures, no resto do mundo se afirmam cada vez mais como símbolos de protestos eficazes e de denúncias estridentes dos mal feitos dos poderosos.
Cabe aqui lembrar o Chico naquela canção, - "é sempre bom lembrar que um copo vazio/está cheio de ar..."
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*Ex-Presidente do STJ e Professor de Direito na UFMA
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