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Guerra no Rio de Janeiro: vencer não é convencer

Os Estados Unidos venceram a guerra do Iraque, mas (até hoje) não convenceram. As forças armadas no Rio de Janeiro vão, seguramente, vencer a guerra contra os narcotraficantes, mas podem não convencer.

13/12/2010


Guerra no Rio de Janeiro: vencer não é convencer

Luiz Flávio Gomes*

Os Estados Unidos venceram a guerra do Iraque, mas (até hoje) não convenceram. As forças armadas no Rio de Janeiro vão, seguramente, vencer a guerra contra os narcotraficantes, mas podem não convencer.

Por quê? Porque não se trata de uma guerra só territorial. Não se trata de (só) expulsar o inimigo e pronto (está tudo acabado).

O Rio de Janeiro chegou onde chegou em razão da ausência (quase absoluta) do Estado em vários morros e bairros. Durante muitos anos o Estado fechou os olhos para a realidade (denunciada e mostrada ao vivo e a cores por cientistas, jornalistas e pelo cinema – filmes Tropa de Elite).

O crime organizado foi ocupando vários territórios e impondo suas regras. Absurdamente passou a inclusive cumprir vários papéis que deveriam estar sendo executados pelo Estado, que se mostrou conivente (durante décadas) com o domínio do crime organizado.

No momento em que as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) começaram a se instalar em alguns bairros e morros, eclodiu o conflito de interesses com os grupos do narcotráfico. A presença do Estado perturbou a "ordem" paralela estabelecida.

Carros foram incendiados, algumas pessoas foram mortas, a intranquilidade tomou conta das ruas do Rio de Janeiro. É hora de o Estado reagir (com todas as suas forças). Era preciso tranquilizar as ruas. Em seguida, era preciso retomar o controle dos morros.

A polícia está vencendo a guerra e expulsando os traficantes dos seus "quartéis generais". Mas isso pode significar somente a migração do criminoso e do crime para outros lugares (visto que os "chefões" não foram presos).

A maior tarefa do Estado, agora, não é vencer a guerra, sim, convencer a população de que o Estado é capaz de também impor a paz. O desafio da guerra é grande, mas não maior que a construção de uma cidade civilizada, onde as pessoas possam confiar no futuro delas e dos seus filhos.

Diferentemente das guerras tradicionais, essa obriga o Estado a continuar presente no local ocupado, levando urbanização, educação, civilização, escolas, transporte, saúde, hospitais, lazer etc.

A fase militar, regida por ordens bélicas, pode até terminar com certa rapidez. Mas os verbos bélicos como invadir, ocupar, derrubar muros, expulsar, atirar, matar etc., só ganham real sentido se, depois, forem substituídos por outros como urbanizar, educar, civilizar, integrar, promover justiça, saúde, lazer etc. São verbos e ações exigidos pela bandeira da paz.

O Estado, no entanto, sempre foi muito omisso em relação a essas ações. Por quê? Porque não desenvolveu políticas públicas de inclusão social. Muito menos políticas públicas de prevenção da delinquência, seja primárias (raízes do problema), seja secundárias (obstáculos ao crime), seja terciárias (ressocialização do preso).

Em conclusão, vencer a guerra não será (provavelmente) tão complexo quanto convencer a população de que é possível viver em paz, com confiança no presente e no futuro.

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*Diretor Presidente da Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes









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