Responsabilidade socioambiental: um desafio para as empresas
Edna Aparecida Fidelis de Assis*
As empresas que antes eram vistas apenas como instituições econômicas fundamentais (o que produzir, como produzir e para quem produzir) têm presenciado o surgimento de novos papéis, que devem ser desempenhados como resultado das alterações no ambiente em que operam.
De fato, hoje, a empresa é vista como uma instituição sociopolítica, uma vez que o seu papel tem-se expandido para maior abrangência e valorização das questões de caráter social e político.
Nas palavras de Elizabeth Rico (2004, p. 73), essa visão passa pela compreensão do modelo políticoeconômico instaurado a partir do processo de globalização, pelos problemas sociais estruturais decorrentes, pela necessidade da reforma do Estado e pelas pressões cada vez mais frequentes da sociedade civil que vem valorizando aspectos sociais e tem se preocupado com questões ambientais, de segurança, de proteção e defesa do consumidor, etc., que não existiam de forma tão pronunciada nas últimas décadas.
Segundo Longenecker, citado por Donaire (1999, p. 20), a empresa deve reconhecer que sua responsabilidade para com a sociedade e para com o público em geral vai muito além de suas responsabilidades com seus clientes.
A responsabilidade social, como é chamada com frequência, implica num sentido de obrigação para com a sociedade, fundamentando-se na liberdade que a sociedade concede à empresa para existir.
Nesse compasso, observa-se que a clientela tem adotado uma postura mais rígida, voltada para a expectativa de interagir com organizações éticas, com boa imagem institucional no mercado e que atuam de forma ecologicamente responsável.
Acompanhando essa salutar exigência, percebe-se que administradores, executivos e empresários passaram a introduzir e a implementar em suas organizações programas de reciclagem, medidas para poupar energia, programas de rotulagem ambiental - selo verde - e outras inovações tecnológicas.
Para Tachizawa (2009, p. 8), na nova cultura a fumaça passou a ser vista como anomalia e não mais como vantagem.
Adverte Milaré (2009, p. 64) que é falso o dilema "ou desenvolvimento ou meio ambiente", na medida em que, sendo este fonte de recursos para aquele, ambos devem harmonizar-se e complementar-se.
Dessarte, quando tais questões são consideradas do ponto de vista empresarial, a primeira dúvida que surge diz respeito ao aspecto econômico, pois a ideia que prevalece é a de que qualquer providência que venha a ser tomada em relação a tais variáveis traz consigo o aumento de despesas e o consequente acréscimo dos custos do processo produtivo.
É evidente que o atendimento dessas expectativas interfere nos objetivos econômicos das organizações, mas se tais expectativas são importantes para a sociedade e para o mundo moderno, as instituições não têm outra escolha senão a de prover recursos para atender a essas reivindicações.
Na verdade, não pode haver esperança de existir uma organização viável economicamente, em uma sociedade deteriorada socialmente.
Até que ponto as considerações suscitadas estão claras na cabeça dos dirigentes empresariais não se sabe, mas é certo que todos gostariam de saber até que ponto "seu negócio" seria afetado pelo aumento da consciência socioambiental dos consumidores e pelas exigências legais.
Nesse sentir, é correto afirmar que os gestores empresariais necessitam saber conciliar as questões socioambientais com os objetivos econômicos de suas organizações empresariais.
O executivo dos novos tempos precisa estar preparado para o desafio de harmonizar essas preocupações.
Certamente, muitos participantes não concordam com esta filosofia ou com a visão da forte influência do ambiente políticossocial no desempenho das empresas, mas mesmo não concordando e até se rebelando contra isso, as empresas estão sendo compelidas a assumir essa nova postura.
Os adeptos da responsabilidade socioambiental das organizações alertam que, com isso, as empresas acabam ganhando melhor imagem institucional e isto pode se traduzir em mais consumidores, mais vendas, melhores empregados, melhores fornecedores, mais fácil acesso ao mercado de capitais, entre outras coisas.
É inegável que uma empresa que é vista como socialmente e ambientalmente responsável, possui uma vantagem estratégica em relação àquela que não tem essa imagem perante o público, uma vez que vai assimilando o papel de corresponsabilidade no enfrentamento de tais questões.
Desse modo, faz-se imprescindível que as organizações comecem a visualizar o quanto antes as questões socioambientais como seu principal desafio e como oportunidade competitiva, pois os novos tempos estarão a exigir novos modelos de gestão e, consequentemente, novas formas de gestão ambiental com maior responsabilidade social.
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Referências bibliográficas
DONAIRE, Denis. Gestão Ambiental na Empresa. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6. ed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
RICO, Elizabeth de Melo. A Responsabilidade Social Empresarial e o Estado: uma aliança para o desenvolvimento sustentável. Disponível em: <_https3a_ a09v18n4.pdf="" v18n4="" spp="" pdf="" www.scielo.br="">Acesso em: 11/9/2010.
TACHIZAWA, Takeshy. Gestão Ambiental e Responsabilidade Social Corporativa: Estratégias de negócios focadas na realidade brasileira. 6. ed. revista e ampliada. São Paulo: Atlas, 2009.
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*Advogada do escritório Martorelli e Gouveia Advogados
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