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Impedimento – Regra mais injusta do mundo

O impedimento, previsto na regra 11 da International Board, é talvez uma dos maiores combustíveis de polêmicas na imprensa e nas conversas de bar, e talvez um dos pontos que garanta o emprego dos comentaristas de arbitragem na televisão. Estes dizem que a regra é clara, mas sabemos que não é bem assim.

17/3/2005

Impedimento – Regra mais injusta do mundo


Caio Medauar*

O impedimento, previsto na regra 11 da International Board, é talvez uma dos maiores combustíveis de polêmicas na imprensa e nas conversas de bar, e talvez um dos pontos que garanta o emprego dos comentaristas de arbitragem na televisão. Estes dizem que a regra é clara, mas sabemos que não é bem assim.

Os defensores da citada regra celebram o fato dela obrigar os treinadores à formulação de estratégias, além do treino constante que as linhas de zaga devem manter para poder explorar este mandamento e deixar o atacante impedido. O atacante deve se deslocar rapidamente ou será pego pela “linha burra” ou “linha de impedimento”.

Desde 1863 o impedimento foi aperfeiçoado para privilegiar o ataque, sendo que as últimas alterações na regra foram: a aceitação do atacante estar na mesma linha do penúltimo adversário, ou dos dois últimos, e ainda a orientação da FIFA para os árbitros, na dúvida, não marcassem o impedimento. In dúbio pro ataque.

Toda a discussão sobre a Regra 11 ganhou destaque nas últimas semanas pelas declarações do presidente da Fifa Joseph Blatter, de que a regra precisava de mudanças e a recente reunião da Internacional Board, em 26 de fevereiro, na qual houve uma conceituação mais clara do que é impedimento passivo, e ainda foi recusada a proposta de que o impedimento seria marcado apenas dentro da área.

A evolução das transmissões de televisão, o uso do chamado “tira-teima”, estão acabando com o impedimento. Em pesquisa realizada no Reino Unido, comprovou-se que, na maioria das vezes, árbitros e auxiliares erram na marcação de lances de impedimento, em geral contra o ataque.

Isso por que é humanamente impossível manter um olho no peixe e outro no gato, ou seja, ver o momento do passe e a posição do atleta, principalmente quando a suposta posição irregular se dá por centímetros. Muitas vezes a distancia é de metros, mas como o atacante foi muito rápido (pois treinou para isso) a arbitragem, traída pela velocidade marca posição irregular.

Em recente estudo do médico espanhol Francisco Belda Maruenda, publicado em 18 de dezembro de 2004, no British Medical Journal, com o título “Can the human eye detect an offiside position during a football match”, constatou-se que o arbitro ou o auxiliar precisam ter em seu campo de visão cinco pontos distintos (dois atacantes, dois defensores e a bola), que muitas vezes se movimentam mais rápido que o movimento dos olhos.

O referido estudo apenas confirma que é humanamente impossível detectar a real posição do atleta, em razão da regra 11, tornando a mesma humanamente inaplicável.

O erro é certo e crê-se que, mantendo tal situação manter-se-á a magia do futebol. Tal situação é absurda. Temos que evoluir. Aceitar tais erros é aceitar a injustiça. Legitimar a ilegalidade.

A interpretação de cada lance é subjetiva e, no mais das vezes, árbitros e assistentes não querem se comprometer e marcam o impedimento quando estão em dúvida, ou ainda são traídos pela aparente posição irregular.

E mais. Abre-se a possibilidade de se realizar fraudes, pois tão impossível quanto marcar corretamente o impedimento é analisar a intenção do árbitro no momento em que anula um gol legítimo, ou quando o atacante está na mesma linha.

No último embate entre Brasil e Colômbia, no ano passado, pelas Eliminatórias, nenhum comentarista disse que o impedimento de 30 cm é desprezível e impossível de ser detectado a olho nu. Discutiram se o atleta impedido participou do lance, enganou o goleiro, etc. Mas o atleta que finalizou não estava impedido e seu companheiro estava a meros 30 cm adiantado. Que justiça há nisso?

Quantos milhões de Dólares são colocados nas mãos de assistentes e árbitros que têm plena liberdade de errar (não se está falando em propina, mas sim no dinheiro que o negócio futebol movimenta a cada jogo).

Por tais motivos, tal regra deve ser abolida. Manter a legalização do erro de arbitragem é desmoralizar o esporte e criar uma brecha para fraudes e acerto de resultados, além de incentivar a violência de torcedores apaixonados e irados com erros crassos que vemos a cada jogo.

Deve-se lembrar que a evolução da preparação física, a impossibilidade de se recuar a bola com os pés para o goleiros, dentre outras mudanças, obrigaram jogadores, técnicos e clubes a mudarem sua forma de atuar, sem contudo descaracterizar o jogo.

Abolir o impedimento teria impacto menor, e obrigaria os profissionais do futebol a estudar mais e a criar novas estratégias e desenhos táticos, sendo que o recuo de zagueiros abriria espaços no meio campo. Seria uma experiência interessante, que aqueles que já jogaram bola na rua ou em campinhos precários já tiveram.

Que acabem o impedimento, a injustiça e a hipocrisia.
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*Advogado do escritório Medauar Advogados, membro das Comissões de Defesa do Consumidor e de Direito Desportivo da OAB/SP





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