FGV Direito SP, Apib e Comissão Arns debatem marco temporal de terras indígenas
O evento será dia 14/4.
terça-feira, 11 de abril de 2023
Atualizado às 14:50
- Data: 14/4
- Horário: 13h às 16h
- Local: Auditório FGV Direito SP (Rua Rocha, 233, Bela Vista, SP) e YouTube
A FGV Direito SP, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e a Comissão Arns realizam no dia 14/4, das 13h às 16h, o evento "O Direito e as ameaças aos povos indígenas no começo do século 21: ciclo de debates sobre o marco temporal", com o objetivo de, a partir da interlocução com organizações indígenas e com a comunidade científica, promover uma discussão pública multifacetada sobre o marco temporal das terras indígenas. O evento é o primeiro de um ciclo de debates sobre o tema que contará com quatro encontros e será realizado ao longo deste ano, com o intuito de produzir insumos para o julgamento do Caso Xokleng no STF.
O chamado "marco temporal" é uma tese jurídica ad hoc que limita o direito dos povos indígenas às suas terras tradicionais por meio da aplicação de um corte temporal restritivo. Segundo a tese, os povos indígenas só teriam direito às terras efetivamente ocupadas por eles na data da promulgação da Constituição Federal, em outubro de 1988. Na ausência de ocupação efetiva, seria necessário provar a existência de um conflito instaurado pela terra naquela mesma data. Essa tese interpretativa redefine radicalmente o conceito de direito originário à terra consagrado na Constituição Federal, reduzindo e mesmo inviabilizando o reconhecimento e a proteção de grande parte das terras indígenas (TIs) no Brasil.
O marco temporal é uma das ameaças mais graves e estruturais aos direitos indígenas, à biodiversidade e ao equilíbrio climático na atualidade. Ao longo dos últimos 15 anos, ele tem sido central no cerceamento dos direitos indígenas, sendo usado para justificar despejos de comunidades e a suspensão da demarcação de TIs pelo governo federal e pelo Poder Judiciário. Esses processos têm deixado povos indígenas vivendo em situações de violência, ameaças, invasões territoriais e vulnerabilidade social e cultural. O marco temporal tem contribuído também para o enfraquecimento da proteção das terras indígenas, e, em decorrência disso, para o desmatamento, a degradação ambiental, e a emissão de gases de efeito estufa oriundos de mudanças no uso da terra.
Em 2021, o STF assumiu a urgente tarefa de realizar o controle de constitucionalidade do marco temporal ao iniciar o julgamento do Recurso Extraordinário 1017365 -- conhecido como "Caso Xokleng" -, uma ação na qual o Estado de Santa Catarina se apoia no marco temporal para restringir os direitos territoriais do povo Xokleng. Como o STF reconheceu repercussão geral ao julgamento, as centenas de ações judiciais versando sobre o marco temporal que hoje aguardam julgamento serão afetadas pelo seu desfecho.
Veja abaixo a programação do evento e inscreva-se, aqui.
Programação
Abertura do Ciclo de debates sobre marco temporal
- Carlos Nobre, cientista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) - A confirmar
- Luiz Eloy Terena, secretário executivo do Ministério dos Povos Indígenas (MPI)
- Kenarik Boujikian, desembargadora aposentada do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ/SP) e cofundadora da Associação Juízes para a Democracia
- Manuela Carneiro da Cunha, professora da Universidade de Chicago e da Universidade de São Paulo e membro fundadora da Comissão Arns
- Oscar Vilhena, professor e diretor da FGV Direito SP