Machado de Assis e a pílula do câncer
quinta-feira, 14 de abril de 2016
Atualizado às 10:33
Pílula do câncer - Placebo ou remédio?
Agora é lei: está autorizado o uso da fosfoetanolamina sintética por pacientes com câncer. Lei 13.269, publicada hoje no DOU, permite a produção, importação, distribuição e prescrição da substância, independentemente de registro sanitário, enquanto estiverem em curso estudos clínicos.
Emplasto
Na genial (eis o uso perfeito do adjetivo) "Memórias Póstumas...", Machado de Assis, ou melhor, Brás Cubas conta que uma ideia pendurou no trapézio que ele tinha no cérebro. E, uma vez pendurada, começou a fazer acrobacias. Ele ficou a contemplá-la. Mas eis que, de súbito, "deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te". E o que era a ideia?
"Nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto antihipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade."
Conta-nos Brás Cubas que fez uma petição ao governo contando as maravilhas do produto, mas aos amigos não escondeu as vantagens pecuniárias que "deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos e tão profundos efeitos". Mas ele confessa também que havia uma pretensão oculta.
"O que me influiu principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas, e enfim nas caixinhas do remédio, estas três palavras: Emplasto Brás Cubas."
Ao final das memórias, Cubas lamenta que a ideia do emplasto morreu com ele, por causa da moléstia que o apanhou.
"Divino emplasto, tu me darias o primeiro lugar entre os homens, acima da ciência e da riqueza, porque eras a genuína e direta inspiração do céu. O acaso determinou o contrário; e aí vos ficais eternamente hipocondríacos."