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Disputa judicial impede melhorias e visitas ao monumento dos combatentes mortos na Revolução de 32

São Paulo relembra hoje, 9/7, 78 anos da "Revolução Constitucionalista", movimento armado que marcou a insurgência paulista à Revolução de 30. A data, no entanto, é marcada por uma briga na Justiça.

Da Redação

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Atualizado em 7 de julho de 2010 17:02


Revolução de 32

Disputa judicial impede melhorias e visitas ao monumento dos Heróis de 32

São Paulo relembra hoje, 9/7, 78 anos da "Revolução Constitucionalista", movimento armado que marcou a insurgência paulista à Revolução de 30. A data, no entanto, é marcada por uma briga na Justiça.

É que desde 2002, estão suspensas as visitas ao obelisco localizado na Zona Sul da cidade, onde se encontra o mausoléu construído em homenagem aos heróis de 32.

No local estão restos mortais de mais de 800 combatentes da Revolução, guardados em um monumento de 72 metros de altura.

A disputa começou quando a fachada do obelisco foi usada para propagandas de duas empresas. Na época, a responsável pelo mausoléu era a Sociedade dos Veteranos de 1932.

A família do escultor Galileo Ugo Emendabili entrou com uma ação e a publicidade foi retirada (Processo 583.00.2004.004418-4). Mas o monumento jamais foi reaberto.

Desde 9 de julho de 1991 que a direção do monumento-mausoléu foi confiada, em caráter perpétuo, à Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Dada a série de dificuldades com a conservação do monumento-mausoléu ao longo dos anos 90 e começo dos ano 2000, a Prefeitura e o Governo do Estado assinaram um convênio em junho de 2006, por meio do qual a Prefeitura passou a se responsabilizar pelo projeto paisagístico, ajardinamento, limpeza, conservação e segurança da praça em que está implantado, enquanto a responsabilidade pelo restauro e administração ficou a cargo do Governo do Estado.

Mas as melhorias aparentemente estão paradas. Infiltrações, manchas de ferrugem e buracos marcam o local e os heróis de 32 só podem ser homenageados em três datas : 23 de maio, data que lembra a morte dos jovens em choque com a polícia numa manifestação no centro de São Paulo; 9 de julho, dia da Revolução; e 2 de outubro, data que marca o seu fim.

Quem estiver na capital nesse feriado não pode perder a oportunidade de visitar o "único monumento do mundo que celebra uma derrota militar, mas uma vitória cível", como disse em entrevista o advogado Paulo Emendabili Carvalhosa, neto do escultor projetor da obra.

Monumento-Mausoléu

O Monumento-Mausoléu ao Soldado Constitucionalista de 1932 se destaca na paisagem com seu obelisco de 72 metros de altura, revestido de mármore travertino. No subsolo, uma cripta em forma de cruz grega abriga uma capela e os despojos dos ex-combatentes.

Popularmente conhecido como "Obelisco do Ibirapuera", homenageia a Revolução Constitucionalista de 1932, seus heróis anônimos, "mártires", a causa constitucionalista, as personalidades que mais se destacaram como o poeta Guilherme de Almeida e o "tribuno" Ibrahim Nobre, bem como o dia em que foi deflagrada a revolta armada contra o governo de Getúlio Vargas - "9 de julho".

A simbologia do 9 de julho foi explorada pelo escultor Galileo Emendabili ao projetar um obelisco que, da base ao topo, tem 72 metros de altura (7+2=9); da cripta ao topo tem 81 metros (8+1=9), sendo que 81 também é o quadrado de 9; pela soma aritmética de 72 e 81, também se chega ao número 9 (7+2+8+1=18 (1+8=9)).

A simbologia também está presente no desenho do gramado ao redor do Monumento, que possui área de 1.932 metros quadrados e forma um coração onde está enfincada a espada (símbolo do Obelisco).

Cada face do obelisco volta-se para um dos quatro pontos cardeais. Em cada uma delas, encontram-se quatro figuras em alto-relevo, com 5,75 metros de altura. Os dezesseis relevos ornamentam o terço inferior do obelisco e aludem à luta militar da Revolução de 1932 e aos feitos dos bandeirantes.

Entre os relevos, estão inscritos versos de Guilherme de Almeida :

AOS ÉPICOS DE JULHO DE 32 QUE, FIÉIS CUMPRIDORES DE SAGRADA PROMESSA FEITA A SEUS MAIORES OS QUE HOUVERAM AS TERRAS E AS GENTES POR SUA FORÇA E FÉ NA LEI PUSERAM SUA FORÇA E EM SÃO PAULO, SUA FÉ.

Na base do obelisco, duas portas de bronze com cerca de 3,5m de altura por 2m de largura, instaladas nas faces norte e sul, denominam-se Porta da Vida e Porta da Glória, respectivamente. Com cenas em alto-relevo, a primeira exalta a capacidade de trabalho do povo bandeirante, enquanto a outra retrata a partida dos voluntários para as linhas de frente e o sacrifício dos jovens.

Na entrada da cripta, três arcos lembram as arcadas da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, de onde saíram grande parte dos constitucionalistas.

Acima dos arcos, encontra-se a inscrição :

VIVERAM POUCO PARA MORRER BEM MORRERAM JOVENS PARA VIVER SEMPRE

As primeiras providências para a construção de um monumento ao soldado constitucionalista de 1932 foram tomadas em 1934, com a criação de uma Comissão Pró-Monumento por personalidades de destaque da sociedade paulistana. Um concurso público para a escolha do projeto foi realizado em 1937. O edital exigia que a obra fosse eminentemente arquitetônica e não apenas escultórica, devendo destinar espaço para acolher as urnas funerárias dos chamados "heróis constitucionalistas". Para a seleção final, classificaram-se Mário Ribeiro Pinto e as duplas Galileo Emendabili e Mário Eugênio Pucci, Yolando Mallozzi e Arnaldo Maria Lello. Os projetos foram expostos no foyer do Teatro Municipal de São Paulo, atraindo grande público. Da comissão julgadora faziam parte Mário de Andrade, Júlio César Lacreta, Amador Cintra do Prado, Dácio A. de Moraes e Victor Brecheret. Por decisão unânime, o trabalho de Galileo Emendabili (Ancona, Itália, 1898 - São Paulo, 1974) e Mário Eugênio Pucci (São Paulo, 1908 - 1985) foi selecionado. Pucci era engenheiro e ficou responsável pela parte técnica da construção.

Apesar dos esforços na arrecadação de fundos para a construção, o projeto não saiu do papel durante todo o período da ditadura Vargas, contra quem se fizera a "Revolução". Entre as muitas dificuldades, as verbas disponíveis não cobririam os custos com mão-de-obra e materiais.

O lançamento da pedra fundamental ocorreu no dia 9 de julho de 1949. Tanto o Governo do Estado quanto a Prefeitura destinaram recursos para a construção, a cargo da "Fundação Monumento e Mausoléu ao Soldado Paulista de 32". O Decreto Municipal 1.078 de 6 de julho de 1949, determinava que o "Monumento aos Mortos de 32" deveria ser erigido "na parte central da praça circular localizada no prolongamento da avenida Brasil, a 1.100,00 metros, aproximadamente, da avenida Brigadeiro Luís Antônio."

As obras começaram em 1950 e, cinco anos depois, o monumento foi inaugurado parcialmente. A partir de então, todos os anos, durante as cerimônias do "9 de julho", os restos mortais de inúmeros ex-combatentes passaram a ser transladados para a cripta. À Sociedade Veteranos de 32 - MMDC cabia a organização dessas solenidades e a administração do monumento. A conclusão das obras ocorreu somente em 1970.

Movimento Constitucionalista

A Revolução Constitucionalista de 1932 foi um movimento pela promulgação de uma constituição em São Paulo que levou a uma das maiores lutas armadas internas no Brasil.

Tudo aconteceu porque, em 1930, o presidente Washington Luís, representante dos paulistas, rompeu a aliança com os mineiros e indicou o governador de São Paulo Júlio Prestes como seu sucessor, que venceu as eleições. As oligarquias mineiras não aceitaram o resultado e, por meio de um golpe de Estado articulado com os Estados do Rio Grande do Sul e da Paraíba, colocaram Getúlio Vargas no poder.

O novo presidente fechou o Congresso Nacional, anulou a Constituição de 1891 e depôs governadores de diversos Estados, passando a nomear interventores. As medidas desagradaram profundamente as elites paulistas. A partir de 1931, se junta a essa elite deposta um "grupo mais moderno", que exige do governo a criação de uma carta magna que regesse a legislação do país. Ao mesmo tempo em que se formava esse grupo opositor, fortaleciam-se, em São Paulo, os chamados tenentistas, constituídos não apenas por militares, mas também de civis que agiam sob sua liderança.

No dia 23 de maio de 1932, essas forças se encontraram e se defrontaram nas ruas de São Paulo, o que resultou na morte de alguns estudantes em praça pública, conhecidos pelas iniciais MMDC (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo). Mais tarde, adicionou-se a letra A, de Alvarenga, ao final da sigla, de outro jovem que acabou morto por causa do conflito. Esse foi o estopim que deu início no dia 9 de julho de 1932 à Revolução Constitucionalista. Com a ajuda dos meios de comunicação em massa, o movimento ganhou apoio popular e mobilizou 35 mil homens pelo lado dos paulistas, contra 100 mil soldados do governo Vargas. Depois de negociações, envolvendo anistia aos rebeldes e facilidades para o exílio dos líderes civis e militares do movimento, os paulistas anunciaram sua rendição em 3 de outubro de 1932.

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Leia mais

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    Fonte : Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo

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