Lobista tinha ligações com Opportunity e juízes
Da Redação
sexta-feira, 20 de janeiro de 2006
Atualizado às 10:56
Lobista tinha ligações com Opportunity e juízes
Uma sócia do Opportunity, empresa de Daniel Dantas, e um executivo relacionado ao banco tiveram ligações com Eduardo Raschkovsky, lobista acusado pela juíza Márcia Cunha de Carvalho, titular da 2 Vara Empresarial do Rio, de tentar corrompê-la em nome do grupo. Raschkovsky, de 49 anos, também tem ligações comerciais e pessoais com desembargadores do Tribunal de Justiça (TJ) do Rio. O Opportunity disse em mais de uma ocasião que desconhecia o lobista. Ontem, a assessoria do grupo reconheceu que Humberto Braz, na época em que era presidente da Brasil Telecom Participações, indicado pelo Opportunity, recebeu Raschkovsky, que foi apresentado a ele por Maria Amália Coutrim, sócia de Dantas.
O lobista é acusado por Márcia de oferecer um valor elevado a seu marido, Sérgio, para trabalhar para o Opportunity. A juíza deu uma decisão liminar que permitiu aos fundos de pensão retirar das mãos do Opportunity o controle da Brasil Telecom. Agenda de computador entregue pela auditoria contratada pelos novos gestores da Brasil Telecom registra 16 reuniões de Raschkovsky com Braz (uma delas com Maria Amália), entre fevereiro e outubro de 2004. Nela, o lobista tem o sobrenome identificado como "Rascovizky".
O Opportunity nega a autenticidade da agenda e diz que Braz se encontrou no máximo três vezes com Raschkovsky. Na primeira, o ex-presidente da companhia foi apresentado ao lobista. A assessoria do grupo afirmou que os filhos de Maria Amália estudam com os de Raschkovsky.
De 2003 a 2004, Raschkovsky foi sócio de Marlene de Souza Carpena Amorim, mulher do corregedor-geral de Justiça do TJ do Rio, desembargador Carpena Amorim, numa empresa imobiliária, a Ocean Coast. No ano passado, Raschkovsky e sua mulher, Mônica, acompanharam o presidente do TJ, desembargador Sergio Cavalieri, e sua mulher, além do desembargador Roberto Wider, em viagem de dez dias a Israel e Inglaterra.
Em entrevista ao GLOBO, em outubro, Márcia acusou Raschkovsky de "lustrar os sapatos nos tapetes vermelhos do Tribunal". Pessoas que freqüentam o TJ informaram que ele faz festas para magistrados em sua casa, na Rua Engenheiro Pires do Rio, no Itanhangá (Barra da Tijuca).
Márcia Cunha está respondendo a um processo disciplinar no Órgão Especial do TJ por causa de sua sentença que desfavoreceu o Opportunity e a oito ações movidas pelo grupo para tirar dela a titularidade da causa e anular a decisão. Entre outras suspeitas, ela foi acusada de ter uma filha no escritório de um ex-advogado dos fundos de pensão e de não ter sido a autora da sentença do caso Brasil Telecom.
O processo disciplinar contra ela foi iniciado na Corregedoria-Geral de Justiça e a decisão de remetê-lo ao Órgão Especial, tomada pelo Conselho da Magistratura, contou com o voto de Carpena Amorim.
A Ocean Coast é uma sociedade empresarial limitada. Marlene foi sócia-gerente da empresa de 12 de março de 2003 a 9 de novembro de 2004. Raschkovsky figura como diretor, de 12 de março de 2003 a 16 de junho de 2004, ou seja, saiu antes da mulher do corregedor. Outro sócio é a Davies Participações, do doleiro Raul Davies, um dos alvos da operação Farol da Colina.
Raschkovsky se aproximou da magistratura levado por sua mulher, ligada a esposas de outros desembargadores e filha do desembargador aposentado Antônio Lindberg Montenegro.
Cavalieri disse que conhece Raschkovsky há 15 anos. Segundo ele, sua mulher é amiga de Mônica. Mas afirma que, na viagem a Israel, cada um pagou a sua própria despesa.
O desembargador Carpena Amorim negou qualquer favorecimento a Raschkovsky. Ele alegou que a sociedade de sua mulher com o lobista foi um investimento eventual, lícito, e que Marlene Carpena se desligou da sociedade logo depois, porque as despesas mensais ficaram pesadas.
- Conheço o rapaz (Raschkovsky) há muito tempo. Não tenho o que esconder. Na minha vida particular, convivo com centenas de advogados, mas as coisas não se ligam. As relações pessoais não nos comprometem. Faço investimentos no Itaú, por exemplo, e julgo causas deste banco sem problemas - afirmou Carpena Amorim.
Opportunity diz que não fez negócios com Raschkovsky.
O corregedor disse que, quando votou no Conselho o caso disciplinar contra a juíza, ligado à ação do Opportunity, "eram dez pessoas julgando":
- Tudo começou com uma representação. Encaminhei para o setor que trata deste assunto. O juiz que faz isso mandou ouvi-la (Márcia Cunha). Encaminhamos para o Conselho da Magistratura e, de lá, o processo foi para o Órgão Especial.
A assessoria do Opportunity também afirmou que não foi fechado qualquer negócio entre Raschkovsky e a Brasil Telecom. O lobista não foi localizado para comentar a relação com o grupo.
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Fonte: O Globo
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