Dança das proparoxítonas

24/4/2020
Lázaro Piunti

"Entrou na academia com um sonho ilógico
Na posse discursou com seu timbre atávico
Pintando as mensagens no linguajar lírico
Brindou os acadêmicos com sorriso sádico.
Escolhendo sua cadeira com o gesto típico
Filetes de sapiência no velho viez socrático!

 

Não tardou a exibir seus projetos sórdidos
Sua paixão secreta cheia de desejos cínicos
Por si mesmo eleito o prior dos catedráticos
A acalentar na alma seus anseios mórbidos
Clamava ser Apolo dos deuses emblemáticos
E para as acadêmicas pedia favores íntimos.

 

O líder dos seus pares o arguiu bem próximo
Segredou conselhos em frases diplomáticas
E na elegia do bem teceu loas ao escrúpulo!
Uma tentativa vã de corrigi-lo por metáforas
Mas fracassou na lógica, pois seu senso lívido
Esbarrou na teimosia do confrade esdrúxulo.

 

Restou a última oitiva junto ao comitê de ética
E ele perfilhou poemas em versos sem métrica
Na volúpia insensível refluiu do campo lúcido
Com argumentos insípidos provou ser estúpido
Reviveu da era pretérita a mais prosaica fábula
O débil libelo defensivo puniu o tímido rábula.

 

Na assembleia de expulsão bradando enfático
Destilou crítica a Pitágoras, o sábio matemático.
Inútil sua prédica expendida em tom fleumático
Sem resquício, o nobre sodalício foi pragmático.
Eliminou da academia o elemento pornográfico.
Mas ele acabou no Senado agente burocrático!"

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