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Oração à São Paulo de Piratininga

Hoje é teu dia, cidade viva! E sempre te mostras aos olhos de quem a queira sentir.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Atualizado às 07:04


Oração à São Paulo de Piratininga

Robson do Boa Morte Garcez*

Hoje é teu dia, cidade viva! E sempre te mostras aos olhos de quem a queira sentir.

Terra de muitas ruas, avenidas, vielas e alamedas que tecem bairros, vilas e jardins. Dos largos, praças, bosques e parques. De túneis, pontes, viadutos, passarelas e elevado. Do comércio permanente e pulsante: supermercados e vendinhas; empórios e padarias; das vetustas boticas e pharmácias, drogarias de hoje; da Ceasa e quitandas; das mega stores e das livrarias centenárias e recentes, sebos e colportores; da Rua das Noivas e da Santa Ifigênia; da 25 de Março e dos Shoppings Centers. Do Centro Velho e do Novo, com torres espelhadas e arranha-céus maduros, em que bolsas e valores são termos de cada hora. Dos restaurantes refinados, dos selv-services e "por quilo" de hoje; do churrasquinho com fumaça nas esquinas e do democrático "à grega" de sempre.

São Paulo das maternidades e cemitérios. Das confrarias e irmandades. Conventos e seminários. Das igrejas, mesquitas, salões, terreiros e sinagogas, templos em que a fé dos teus filhos toma cor e forma.

De artesãos e artistas, poetas e prosadores, pintores e grafiteiros, declamadores e repentistas. De estátuas vivas e de estáticas abrindo páginas para teu livro. Dos Guilhermes, de Almeida e Arantes, a cantar-te a cidade e a neblina, com o encantamento dos poetas e a fé dos messidores. Das várias Academias - de Letras, História e tantos Saberes - em que, mais que tão-só o bom corpo, esculpe-se a mente sã. Da Semana de 22 e seus gigantes. Dos colégios e das universidades. Do Grito do Ipiranga e da Revolução de 32. Dos museus e monumentos. Teatros, estádios, auditórios. De teus falares e sotaques, de uma anti-Babel moderna. Da garoa, do lampião de gás e do bonde, a inspirar teus escritores e enamorados.

Conglomerado de gente e lembranças, em cujas ruas Ruy, Castro Alves, Reale e um sem-fim de homens sensíveis moldaram, pela reunião do direito e das letras, o espírito libertário e grave dos que levam e elevam teus ideais.

Passeiam na memória dos que há tempos se abrigam em teu colo maternal o espectro áudio-visual dos realejos; o range-range das galochas; dos compradores de garrafas velhas em lentas carroças; dos vendedores de pirulitos caseiros embrulhados por papéis multicores e perfilados nos tabuleiros de furinhos; das barracas de biscoitos nas feiras; do dominical macarrão-com-frango-assado-regado-por-tubaína; dos dias escolares em que, nos uniformes limpinhos ou nem tanto, meninos cantávamos a Pátria e as estações do ano, antes de entrarmos em classe.

São Paulo, verdadeira urbe maravilhosa, de redentores braços a acolher os que a ti chegam em busca de melhores dias. Portugueses e africanos, italianos e ingleses, japoneses e americanos, cearenses e capixabas, hispanos e magiares, potiguares e mineiros; gente de toda parte, pois palco de troianas guerras para gregos e baianos, na saga do dia-a-dia.

Miscigenada e cosmopolita, és pura. Pura mescla, em um mosaico vivo. Je vous salue, Paulicéia desvairante! Mucho me gusta dizer-te: Arigatô, mamma mia! Oxente! Há quem de ti nada receba? Então diga, uai! Quem há de? Danke e Shalom, minha Terra Natal!

Há tanto a dizer de ti, como a te dizer.

São Paulo querida, já se contam 454 janeiros daquele de tua fundação. Este pequeno relance é um mero olhar na fotografia reveladora de que não és mesmo conduzida, conduzes.

E, se não podes parar, teu lema é a tua sina.

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*Mestre em Comunicação e Letras pela U. P. Mackenzie e professor do Curso de Direito da FACCAMP





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