Rota sucessória: a importância de preparar a empresa para performar mesmo diante da ausência do fundador
Não se limite apenas ao seu trabalho, preste atenção em como ele será depois que você sair.
segunda-feira, 24 de agosto de 2020
Atualizado às 09:49
Independente do tamanho da organização, é desejo de todo líder que a sua empresa funcione e performe bem, mesmo diante da sua ausência.
O motivo do afastamento pode até variar, em alguns casos pode haver a transição para as próximas gerações, a entrada de um investidor, o afastamento do fundador por questões alheias à sua vontade ou até mesmo a venda da companhia. No entanto, subsiste a vontade de perpetuar a cultura, os valores e, a depender, até mesmo o modus operandi da firma.
A despeito disso, não raro, o que se verifica na prática é que o afastamento do gestor na maioria das vezes provoca o endividamento ou encerramento das atividades. É comum escutar que: "quando o 'dono' não está presente, as demandas param e são interrompidas por não ter alguém para tomar as decisões necessárias".
Em outros casos, ainda que diante da presença do fundador, percebe-se que as atividades não são padronizadas, o que muitas vezes compromete a qualidade do processo e do resultado. Os membros do time não têm certeza de quem é encarregado do que, e as informações e dados da empresa acabam sendo gerenciados de forma ineficiente.
Para ter um negócio competitivo, é essencial que a empresa, os objetivos e os métodos de execução existam fora da cabeça das pessoas, em um formato acessível para que todos utilizem.
O desenvolvimento de normas de Governança Corporativa relaciona-se diretamente com a criação de uma estrutura capaz de orientar os atos de gestão, além de estabelecer regramentos claros sobre a tomada de decisões, as competências de cada cargo, a destinação dos lucros, a remuneração dos gestores e a maneira por meio da qual serão resolvidos os conflitos.
O processo é precedido por um mapeamento das zonas cinzentas, por meio dele obtém-se um eficaz diagnóstico organizacional que gera como consequência direta a profissionalização da gestão e a avaliação dos indicadores de desempenho de maneira precisa, feita a partir de metas atingidas e indicadores objetivos e não mais por afinidade, relacionamento pessoal, amizade ou tempo de casa.
A dinâmica inclui assim mais do que os mecanismos da própria saída do fundador, trabalha a seleção, o treinamento e a governança dos novos líderes que "sobem", sem mencionar o mais importante, garante a preservação da cultura e dos valores da organização.
A busca é pela construção de uma máquina "modo-perpétuo" capaz de funcionar bem mesmo diante da ausência do seu fundador e hábil a performar e a produzir os melhores resultados.
A construção de uma rota sucessória se apresenta como a maneira de expor a geração seguinte ao pensamento e ao processo decisório dos líderes do momento. Além disso, é por meio dela que se testa a eficácia da sistemática atual e que se garante o aprendizado dos envolvidos, ao mesmo tempo.
Ressalta-se ainda que, a Governança quando estruturada permite que o "dono" possa voltar a se dedicar ao seu papel principal: fazer o negócio crescer. Desenvolver a visão a longo prazo da empresa. Definir qual será o nível dos processos e quais os seus indicadores. Aprender a importância de delegar permite que se mantenha o foco aonde realmente é necessário.
Viabilizar a substituição torna-se assim uma experiência iluminadora e produtiva. Para que seja bem sucedido, esse processo deve ser orientado e conduzido por profissionais especializados em negócios, capazes de entender as nuances da atividade desenvolvida e articulados a ponto de preservar os relacionamentos interpessoais durante a condução.
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*Gabriela Vidigal Santana Galvão é consultora de negócios na Lacerda, Diniz e Sena Advogados.