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O trabalho feminino

Não esperemos políticas públicas para suprir desigualdades, a iniciativa pode e deve partir primeiro de nós.

quarta-feira, 11 de março de 2020

Atualizado em 12 de março de 2020 14:29

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Sobre o Dia Internacional das Mulheres...

Último domingo foi o dia internacional das mulheres. Vimos nas redes sociais muitas manifestações de apoio à causa feminina, bonitos vídeos institucionais, com representantes de empresas diversas estendendo os braços à frente do corpo em sinal de igualdade, de forma a dizer que, dentro dessas corporações, a mulher tem seu valor e direitos respeitados.

Não gosto de criticar atitudes positivas. Ainda que simbólicas essas manifestações, elas ascendem o debate acerca de questões que são importantes. Nesse caso, a causa feminina é sim relevante, tendo em vista a persistente desigualdade entre os gêneros, num mercado de trabalho que tem mulheres mais qualificadas, com menor remuneração que os homens.

Caso sua empresa tenha em seu quadro mais pessoas do sexo feminino (ou gênero feminino, na nomenclatura moderna), sinto dizer, mas ela não foge ao lugar comum, já que, estatisticamente, no ano de 2018 já representávamos 51,7% dos postos de trabalho.

Aproveito a oportunidade para contar uma experiência pessoal. Quando retornei da licença maternidade do meu primeiro filho, cinco meses após o parto, tive da minha chefe a seguinte determinação:

- De hoje em diante, você pode vir à empresa apenas dois dias por semana, fazendo o restante do seu trabalho em regime de home office. Faça o aditivo ao seu contrato de trabalho e me envie para análise!

Como era advogada na empresa, ela ainda confiou a mim essa tarefa.

E assim foi feito. Passei a trabalhar dessa forma, com a tranquilidade de amamentar e dar ao meu filho nutrição e vínculo afetivo, tão necessários nesses primeiros meses de vida.

Lembro de um fato engraçado desta época. Conversando por telefone com uma colega prestadora de serviços, em dado momento ela questionou:

- Que barulho engraçado, tem um bebê aí?

É que enquanto conversávamos, a criança balbuciou alguns sons no meu colo, que ela logo identificou do que se tratava. Expliquei que era meu filho, e ela acrescentou:

- Concordo com a opinião dele!

Rimos, e continuamos o trabalho normalmente.

Essa vivência me fez questionar o formato de trabalho tão engessado das empresas com as mães, e até mesmo com os pais enquanto empregados.

Podemos fazer muito mais por essas pessoas. Temos que inserir as famílias nos currículos.  

Portanto, questiono você, empresário, o que tem feito pela mulher em seu estabelecimento?

Possui em no seu corpo diretivo quantas mulheres?

Aderiu ao Programa Empresa Cidadã e estendeu a licença maternidade por mais sessenta dias?

Tornou efetiva a possibilidade de amamentação pela mãe após seu retorno da licença maternidade?

Abriu espaços ou firmou convênios para a concessão de creches aos filhos de suas empregadas?

Foi compreensivo com as ausências das mães em seu pré-natal? E com os pais que as acompanham? E para levar os filhos ao médico, buscar na escola, ausentar-se nas férias escolares?

Contratou uma mulher após um hiato em sua carreira para cuidar dos filhos?

Essas questões são exemplos do que pode ser feito, começando pela iniciativa privada.

Não esperemos políticas públicas para suprir desigualdades, a iniciativa pode e deve partir primeiro de nós.

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*Maria Raquel Colen Andrade é advogada trabalhista, formada pela Faculdade de Direito MIlton Campos (MG) e pós-graduanda em Direito do Trabalho pela PUC-SP.

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