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Coronavírus: otimismo e realidade

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Atualizado às 09:09

Para os otimistas, tudo tem um lado bom. E, como em matéria de Covid-19 as notícias são de dar arrepios e calafrios, resolvi escrever este artigo, um pouco mais ameno. Na verdade, elaborei um texto de espécie otimista-realista.

Certa feita, aqui mesmo nesta coluna, eu fiz um comentário apontando que a cada ano que passa, e sempre mais cedo, os seres humanos consomem o total de recursos que o planeta Terra pode renovar em um ano.

Os dados são de 2017. Neste ano, o fato se deu em 2 de agosto; em 2016, um dia depois, 3 de agosto. Ou seja, mais ou menos no início de agosto, todo ano, a humanidade consome os recursos que nosso planeta pode renovar. Esse cálculo é feito anualmente pela ONG Global Footprint Network1. O diagnóstico tem como base as emissões de gases do efeito estufa e, também, os recursos consumidos pela pesca, pela pecuária, pelos cultivos, pelas construções e pela utilização da água.

Na realidade, os representantes da ONG dizem que, para satisfazer nossas necessidades, hoje deveríamos contar com o equivalente a 1,7 planeta2.

De fato, o que se constata é um enorme desiquilíbrio no consumo global. Se o modo de consumo dos países desenvolvidos se estendesse a todos os cantos da terra, certamente, a devastação seria muito maior. Isto é, mesmo com um índice de consumo muito menor em países emergentes, o planeta está sendo destruído.

Muito bem. O que se diz é que o modelo capitalista implementado especialmente a partir da segunda metade do século XX e que se tornou devastador mais ao final é o responsável: a chamada vida para o consumo contribuiu e contribui sobremaneira para essa destruição.

Veja, meu caro leitor, essa quarentena mundial prova que a desaceleração da economia, isto é, que a paralização das atividades de consumo em geral renovou os recursos naturais: a poluição do ar regrediu, o consumo de energia elétrica caiu, em alguns lugares, nos mares, os peixes voltaram, enfim, fez bem ao planeta e naturalmente também às pessoas.

Isso, claro, é apenas um pedaço da história do consumo, pois há centenas de milhares de pessoas que sequer têm acesso ao mercado. Como eu gosto de afirmar, o primeiro direito do consumidor é o direito a ter direitos com liberdade para consumir: direito de escolher o que consumir livremente; o direito de poder consumir.

Agora, veja esses dados publicados pelo Instituto Trata Brasil (são números de 2018).

O Brasil está entre as 10 maiores economias do mundo, mas 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada. 47% da população não possui coleta de esgoto. Por ano, são feitas 233 mil internações de pessoas com doenças de veiculação hídrica (Diretamente: amebíase, giardíase, gastroenterite, febres tifoide e paratifoide, hepatite infecciosa etc. Indiretamente, a água também está ligada à transmissão de verminoses, como esquistossomose, ascaridíase, teníase etc.). Isso dá o incrível número de 638 internações por dia!.

Como era de se esperar, os índices de qualidade do saneamento variam pelas regiões do país, sendo que os melhores índices estão na região sul e sudeste e os piores estão na região norte.

A pandemia, que atingiu o mundo inteiro, pode mesmo ajudar a melhorar índices climáticos, o que é bom para o planeta. Mas, ela vai passar. Esperemos que haja alguma alteração no consumo a favor do meio ambiente.

Contudo, não podemos esquecer de todos aqueles que não tem acesso ao mínimo para serem chamados de consumidor, numa sociedade apelidada de sociedade de consumo, tanto no Brasil como em vários lugares do mundo.

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2 Idem nota anterior.