quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Arquivo do dia 14/09 de 2016

PILULAS

A Folha de S.Paulo de hoje comete, no mínimo, uma leviandade. Com uma foto do ministro Toffoli, reportagem diz que escritório de sua esposa "recebeu de consórcio alvo da Lava Jato". Assim como tinha feito a revista Veja na semana passada, agora também a epígrafe não se sustenta nas letras de forma que se seguem. Diz o matutino que a banca da qual a esposa do ministro é titular teria recebido R$ 50 mil em 2006 da Andrade Gutierrez. Da Queiroz Galvão teria recebido R$ 150 mil em 2008 e o mesmo valor em 2011. E daí? O que isso quer dizer? O que sugere o jornal com esse título? Entremeando a reportagem, esquizofrenicamente, diz-se que as empresas são investigadas na Lava Jato (como se ninguém soubesse disso) e que as cifras das investigações são de milhões. Ao final da matéria, a maior hipocrisia jornalística já inventada: o tal do "outro lado". Por que "outro"? Se a advogada confirma que prestou os serviços advocatícios e se pagou os devidos impostos, por que este não é o "lado" certo? Enfim, vamos às verdades. Qual escritório de advocacia de atuação nos tribunais não trabalhou para uma empreiteira (que já foram orgulho do país)? Se não atuou, queria ter atuado, pois são os maiores litigantes do Judiciário. E desde quando ter prestado serviços advocatícios para alguma empresa envolvida na Lava Jato é notícia? Faça-nos um favor. A advogada Roberta Rangel (Rangel Advocacia) é estabelecida em Brasília há duas décadas. É extremamente profissional, e não atua no STF. Não precisamos nem continuar essa conversa. Deixemos apenas a pergunta no ar: por que está sendo engendrada uma tentativa de constrangimento do ministro?

E por falar em jogo político, passado o impeachment, é hora de conversar. O petismo, que criou um jogo de amor e ódio, que fomentou o maniqueísmo, não fez nada diferente da cena geral política. Ou vai dizer que o PMDB está repleto de santos? Ou o PP, ou PTB, ou ainda, seu rival direto, PSDB? O quadro nefasto é geral e o jogo é viciado de cabo a rabo. As exceções podem até existir, mas só para provar a regra. Nesse sentido, é claro que, supondo que o tal apartamento no Guarujá e o sítio em Atibaia sejam frutos de favores ilícitos, Lula deve ser punido. Mas isso, vamos e venhamos, é pixuleco diante das vultosas somas que se escuta. Veja bem, leitor, ninguém aqui está defendendo. Ao contrário. Supondo ser verdade o ilícito, a punição deve existir, independentemente do valor. E, é compreensível que haja mais interesse midiático nestes bens, uma vez que a figura do ex-presidente atrai mais audiência. Mas os migalheiros, sabidamente mais esclarecidos, não podem olvidar o resto que, pelo que se tem apresentado, é maior e mais incrustrado na vida política-empresarial. Mudar as peças no tabuleiro, simplesmente, não vai adiantar nada. É preciso continuar na catarse e na onda de mudanças. Se até o milk-shake de Ovomaltine mudou... Santinhos e o pau oco "Não faça esse tipo de generalização quanto aos males da política", irá nos advertir o desavisado leitor. Pois bem, vejamos. As contas da campanha Dilma/Temer estão sendo analisadas no TSE e podem gerar cassação de mandato do atual mandatário. Uma das despesas mais questionadas é relativa a uma gráfica que teria feito santinhos. A ela, a chapa Dilma/Temer pagou R$ 22 mi. Haja santinho... Não fosse isso estranho, por si só, há notícia de que nem funcionário a empresa tem. Mas não é que a mesmíssima gráfica está na prestação de contas da chapa Aécio/Aloysio (R$ 577 mil) e do candidato ao Senado Serra (R$ 521 mil)?

A 1ª turma do STF negou provimento a agravos regimentais em seis mandados de segurança que tratavam da remoção de cartorário. No caso, a remoção, feita sem concurso público, foi considerada inválida pelo CNJ. O relator, ministro Barroso, ponderou que retornar o impetrante ao cargo anterior à remoção seria tirar alguém legítimo que lá está. Nesse sentido, entendeu que a Corte afirmava apenas que o ato do CNJ é válido. "Tudo o mais será resolvido pelas instâncias competentes." Os ministros Fux e Marco Aurélio demonstraram preocupação. Afirmou Fux: "Me soa desproporcional e injusto que uma pessoa que fez concurso público tenha como pena perder tudo, só porque o Tribunal permitiu a remoção sem concurso. O problema é do Tribunal. Quem errou foi o Estado." Por sua vez, o decano disse, ao prover os agravos: "Não estou aqui a julgar papéis, estou a julgar vidas, destinos. E não vejo como se admitir, que pouco importando a passagem do tempo, possa a qualquer momento a Administração Pública interferir e afastar a situação jurídica constituída e já sacramentada por essa mesma passagem do tempo." Para Barroso, de fato a situação é inusitada, mas seria o caso de oficiar para que o TJ "equacione" o problema, porém sem determinar a solução. Tentando propor um voto médio, explicitou o resultado: "Denegando a segurança por maioria e determinando a expedição de oficio ao TJ/PR para equacionar a questão administrativamente, vedada a manutenção do impetrante no cargo para o qual se viu removido em desacordo com a Constituição e assegurado ao impetrante o direito de recorrer a vias ordinárias para postular o que achar de direito." Ao que, o ministro Fux, soltou: "O Tribunal vai lavar as mãos." O presidente Barroso insistiu que estavam oficiando ao TJ. E o ministro Marco Aurélio : "não vai ter como solucionar, presidente, não vai ter". O dispositivo da decisão foi a denegação da segurança e o obiter dictum na linha do que foi explicitado. Processos relacionados: MS 28.301, MS 28.304, MS 29.414, MS 29.423, MS 29.425 e MS 29.489 Problema à vista O advogado da causa, preocupado, insistiu ainda que o resultado do julgamento do STF daria problema. Ao que Barroso respondeu, antes de parabenizar o causídico pela defesa árdua da causa: "Doutor, a questão dos concursos em cartórios públicos dá problema desde o momento em que foi promulgada a Constituição e, portanto, esse é apenas mais um desses... E ainda levou mais do que originalmente previsto." Completou a ministra Rosa que o obiter dictum servirá, de fato, como norte. Pílulas marcoaurelianas Ministro Marco Aurélio, que votou vencido no caso do cartório narrado acima: "Nós temos um instituto muito caro em um Estado Democrático de Direito: a segurança jurídica. Fora da segurança jurídica é a bagunça." / "Reclamam que eu não acompanho a jurisprudência do Plenário, mas não posso acompanhar certa jurisprudência."