Corre pela internet uma história, com ares de escândalo, informando que a ministra Cármen Lúcia teria comprado uma mansão por R$ 1,7 milhão de um sócio de um doleiro envolvido na Lava Jato. Diz-se, também, que a casa tem valor de mercado de R$ 3 milhões. Compete a um veículo do meio jurídico, como o nosso, pôr os pingos nos is. Primeiramente, é forçoso convir que é muito vago esse conceito de mansão. Trata-se de uma casa, assim como são as milhares de casas do Lago Sul de Brasília. Dizer que se trata de uma mansão, é um exagero se comparada à residência de um Eike Batista. Mas ao se referir ao local como uma mansão, o que se está fazendo é, propositalmente, misturar alhos com bugalhos. Mas há mais. O valor do imóvel varia muito de acordo com o local e o estado. Nesse sentido, garantimos ao leitor que o valor era mais ou menos esse mesmo. Ademais, a casa tinha sido de um desembargador aposentado, que vendeu em 2012 para um cidadão por R$ 1,5 milhão. Dois anos depois, a ministra comprou por R$ 1,7. Uma valorização até que razoável, considerando que a oferta é grande na mesma região. Mas continuemos. O imóvel estava com venda anunciada. O corretor tirou todas as certidões de praxe. Estando tudo certo, a ministra pagou uma entrada e financiou o restante na CEF. Qual foi a conduta errada ? Obviamente, nenhuma. Ocorre, no entanto, que a ministra é integrante da 2ª turma do STF, onde a operação Lava Jato será julgada. E o que se quer ao fazer tais lucubrações fantasiosas é criar um constrangimento, ou pior, um impedimento que não existe. Trata-se, não há dúvida, de uma ministra séria.
Migalhas dos leitores - "Mansão" da ministra
"Conheço a ministra Cármen Lúcia desde o tempo em que éramos jovens (Migalhas 3.563). Eu, já doutor em Direito, e ela aluna da pós-graduação, orientanda do saudoso professor Paulo Neves de Carvalho. Desde então, sempre acompanhei sua trajetória acadêmica, sua atuação na administração pública de Minas Gerais, e sua conduta fundamentalmente ética, correta, honesta, coerente. Não há a mais remota possibilidade de que ela se envolva em ´mal feitos´, como se diz eufemisticamente hoje em dia. Num país tão carente de dignidade, é fundamental preservar a dignidade de quem a tem. Cumprimento Migalhas pela feliz iniciativa, aniquilando, de vez, qualquer maledicência." Adilson Dallari