Ameaçada
Dono da Universidade Potiguar briga na Justiça contra rede internacional com mais de 500 mil alunos em 20 países
Passados dois anos, a sociedade está ameaçada. Paulo de Paula hoje briga na Justiça para tirar os sócios da Laureate do negócio. Enquanto a decisão não sai, ele recuperou em juízo a cogestão da universidade, o que lhe dá o direito de assinar todos os gastos acima de R$ 5 mil. Procurado pelo Estado, que teve acesso a uma ação que corre no STJ, o empresário diz que se sentiu traído. "Aos poucos, eles foram tomando conta geral. Descumpriram o acordo de acionistas e endividaram as escolas sem a minha autorização", afirma Paulo de Paula, que ainda tem 40% da universidade que ele fundou em 1979.
Pelo acordo de venda, Paulo será obrigado a deixar o negócio até 2012. Um dos temores do empresário é que o aumento do endividamento reduza o valor das suas ações na hora da saída. "Eles não são operadores de escola, têm uma cultura de multinacional. Só com consultoria gastaram R$ 600 mil, o que não condiz com o fôlego da empresa", diz.
Segundo a ação, o estopim da briga se deu há quatro meses, quando Paulo de Paula foi avisado pelo diretor de recursos humanos da Laureate que um diretor-geral seria contratado, esvaziando teoricamente a função do empresário.
Procurada, a direção da Laureate informou, em nota, que as alegações do empresário não procedem e que serão devidamente respondidas na Justiça. Segundo os advogados da instituição no caso, Mauro Sampaio e Sérgio Fagundes, a ação que corre no STJ é derivada de uma inicial que corre em segredo de Justiça no Tribunal do Rio Grande do Norte. "No nosso entendimento, ela também está protegida pelo segredo de Justiça", afirmam eles.
O empresário já propôs aos outros sócios brasileiros da Laureate a criação de uma associação de minoritários. O grupo americano, que tem como controlador um dos maiores fundos de participação em empresas, o KKR, é acionista majoritário da Anhembi Morumbi, em São Paulo, da Business School São Paulo, da UniNorte, em Manaus, da Escola Superior de Administração, Direito e Economia (Esade), em Porto Alegre, da Faculdade dos Guararapes, no Recife, e da Faculdade Unida da Paraíba.
Um dos objetivos, além de fazer com que a Laureate cumpra os acordos de acionistas, é denunciar as práticas que vêm sendo adotadas aos ministérios da Educação e da Justiça e ao Senado, e entrar em contato com sócios e ex-sócios da rede fora do País para saber se há experiências parecidas.
Até aqui, Paulo de Paula é o único que apelou à Justiça. Mas isso não significa que os outros estejam totalmente satisfeitos com a sociedade.
O fundador da Anhembi Morumbi, Gabriel Rodrigues, que ainda tem 49% da universidade, diz que está questionando amigavelmente o atraso na entrega do balanço financeiro da Laureate no Brasil - pela legislação brasileira, o documento deveria ser divulgado até abril deste ano, mas até agora ninguém recebeu. "Com sócio novo, sempre há maneiras diferentes de ver as coisas", diz Rodrigues.
Há 45 dias à frente da Laureate, o executivo Manoel Amorim (ex-Ponto Frio) diz que está tentando resolver a questão do balanço e que o documento deve ser publicado na próxima semana. "O descontentamento procede. Mas o que está errado é atribuir à Laureate a função de fazer o balanço", explica Amorim. "A equipe da Laureate aceitou equivocadamente essa responsabilidade, que deveria ser dos administradores das universidades".
RESULTADOS
Quando venderam a Business School São Paulo para a Laureate, há dois anos, os fundadores acertaram que uma parte do pagamento seria atrelada aos resultados de 2008 e 2009. Até agora, não receberam nada. "Os resultados não foram bons. Não ficamos satisfeitos", diz Maurizio Mancioli, um dos ex-sócios.
Segundo fontes do mercado, o número de alunos caiu abruptamente depois que o MBA da Business School - que antes funcionava em um prédio de luxo numa região empresarial, com ar-condicionado e mensalidade de cerca de R$ 2 mil - foi transferido para o prédio da Anhembi, perdendo assim a sua característica de butique.
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Fonte : O Estado de S. Paulo
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