Senado
Suplicy pede a Sarney que renuncie e discute com Heráclito
Um cartão vermelho, acusações, gritos e muita confusão marcaram ontem, 25/8, o pronunciamento em que o senador Eduardo Suplicy (PT/SP) pediu ao presidente do Senado, José Sarney, que renuncie ao cargo. Imitando o gesto dos juízes de futebol quando expulsam um jogador, o senador mostrou simbolicamente um cartão vermelho a Sarney, que não estava presente.
A atitude levou o senador Heráclito Fortes (DEM/PI) a acusá-lo de não estar sendo sincero, sugerindo que apresentasse o cartão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, "o verdadeiro responsável por essa crise". Os ânimos se exaltaram.
Na avaliação de Suplicy, a renúncia de Sarney faria com que o Senado funcionasse normalmente e poderia garantir a imparcialidade das apurações relativas às denúncias que, para ele, ainda não foram satisfatoriamente explicadas. O senador ressaltou que o arquivamento das representações no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar não resolveu todas as dúvidas.
"O Senado já sofreu desgaste incomensurável com o arrastar dessa situação. A Casa está paralisada há meses. As grandes questões nacionais não são discutidas. Parlamentares e partidos políticos estão derretendo frente à opinião pública. Ainda não conseguimos votar uma proposição importante neste segundo semestre no Plenário do Senado e não se vislumbra como será possível isso acontecer enquanto não for resolvida a questão relativa ao presidente José Sarney" - afirmou.
O senador Heráclito Fortes disse que Suplicy estava tentando se justificar pelo desgaste sofrido no final de semana perante a opinião pública de São Paulo. Heráclito sugeriu que Suplicy desse um cartão vermelho para o presidente Lula, "o responsável pela crise". No entender do parlamentar piauiense, Lula "invadiu o campo do Senado e deu cartão amarelo para o líder do seu partido", senador Aloizio Mercadante (SP). Heráclito ainda acusou Suplicy de se calar diante da corrupção e d que chamou de "intromissão indevida" do governo na Receita Federal.
"Não queira ser juiz de futebol. Queira ser um senador da República que honra os milhões de votos que teve em São Paulo. Não use isso, que o diminui. Use a palavra e não o cartão. Use o argumento e não o gesto. Esse gesto envergonha São Paulo" - afirmou.
Muito nervoso, Suplicy rebateu as afirmações de Heráclito e assegurou que tem sido consistente, desde o início de julho, em sua recomendação para que o presidente José Sarney se afaste do cargo. Ele chegou a mostrar o cartão vermelho para Heráclito também. Suplicy disse que foi cobrado por muitas pessoas, e até por um antigo professor para que falasse o que fosse preciso e acusou Heráclito de estar querendo desviar o assunto.
O senador José Nery (PSOL/PA) elogiou, em aparte, a coragem e a coerência de Suplicy e ponderou que a abertura de processos no Conselho de Ética não significa a condenação antecipada de alguém. Ele assegurou que a crise do Senado não se encerrou com o arquivamento das representações feitas contra Sarney e anunciou que encaminhará hoje, 26/8, um recurso ao STF contra essa decisão.
O senador Almeida Lima (PMDB/SE) saiu em defesa de Sarney e disse que o pronunciamento de Suplicy "é um abuso das prerrogativas de parlamentar" por não aceitar o resultado do Conselho de Ética. Na sua avaliação, os senadores que insistem em pedir investigação estão enxovalhando a imagem do Senado. Ele acrescentou que Sarney já deu todas as explicações necessárias sobre as denúncias.
O senador Cristovam Buarque (PDT/DF) disse não entender porque Sarney e seus aliados não deixaram o Conselho de Ética investigar as denúncias, de modo que todas as explicações de Almeida Lima fossem apresentadas lá, inocentando o presidente do Senado. Ele disse que o símbolo do cartão vermelho dado por Suplicy a Sarney poderá ser usado pelos brasileiros a partir de amanhã.
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