Presidência
Câmara Municipal de São Paulo
O Presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Vereador Arselino Tatto, tem a honra de convidar para a Sessão Solene destinada à entrega da Medalha Anchieta e Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo, ao advogado Jayme Vita Roso, em reconhecimento ao trabalho desenvolvido no Curucutu Parques Ambientais, em prol do meio ambiente da capital paulista, a realizar-se no dia 27 de outubro de 2004, às 18h30, no Auditório Nelson Carneiro do Uni-FMU, avenida Liberdade, nº 899 - Liberdade São Paulo..
Câmara Municipal de São Paulo
Viaduto Jacarei, 100 1º andar
São Paulo SP
Jayme Vita Roso
Favor confirmar presença: eventos@vitaroso.com.br
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Matéria publicada na revista ISTOÉ no dia 8 de outubro de 1997 - PERFIL
Confira o texto na íntegra:
O plantador de florestas
Em 18 anos, o advogado Vita Roso formou, árvore à árvore, uma reserva de 300 mil espécies em sua fazenda
LUÍSA ALCALDE
Nos 46 anos de idade, o advogado Jayme Vita Roso plantou sua primeira árvore. Ou melhor, duas. Uma paineira e um cedro-branco. O ano era 1979. Na época, foi chamado de louco pelos amigos que consideravam o gesto nobre mas tardio. "Eles diziam que eu não teria tempo de vê-las crescer", conta. Começava assim, num pedaço de terra desmatado no extremo sul da capital paulista, a história de um plantador de florestas. Dezoito anos e centenas de árvores depois, esses mesmos amigos ainda o consideram maluco. Talvez até mais que antes. Tudo porquê, nesses 18 anos, o advogado tirou do bolso meio milhão de reais para comprar milhares de mudas de árvores, sementes, livros sobre botânica e técnicas de plantio. Por amor a natureza ele deixou de explorar economicamente uma área avaliada em R$ 5 milhões. Hoje, entretanto, é o feliz proprietário da única floresta urbana de São Paulo. "Gosto de coisas simples, mas quando sonho, sonho grande", brinca. A Reserva Florestal Curucutu, reconhecida pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) como Reserva Particular de Patrimônio Natural de Interesse Público (RPPNs) tem 300 mil árvores de 50 espécies diferentes, muitas delas raras, plantadas em 32 alqueires. As RPPNs são protegidas por lei e foram instituídas por decreto em 1990. A mata fica entre o município de São Bernardo do Campo e Parelheiros, a 40 quilômetros do centro. A floresta do "Doutor do Dedo Verde", como ele ficou conhecido por conta da façanha ecológica, é responsável por 0,5% do oxigênio consumido em São Paulo, segundo ele.
Biólogos amigos de Vita Roso estimam que o dia em que a mata for totalmente reflorestada poderá comportar 2 milhões de árvores. Quando atingir essa proporção, a Curucutu responderá por 5% de todo o ar puro respirado pelos moradores da cidade de São Paulo. "O custo é meu e o benefício é de todos", costuma dizer, com modéstia. "Foi um trabalho de formiguinha. Levantei árvore a árvore". O trabalho não foi fácil. De cada mil que plantava, 350 não cresciam. Atualmente, sua reserva natural representa 2,7% do total de área verde em parques e reservas do município de São Paulo. Um dos melhores momentos da vida do advogado aconteceu há alguns anos quando os animais que habitavam a mata nativa começaram a voltar. "Não me cabia de felicidade", confessa. Em meio a bosques e alamedas de cedros, pinheiros, angicos, guapuruvus, bracatingas, jacarandás, paineiras e até pau-brasil, pequenos caxinguelês (esquilos), tatus, pacas, cotias, papagaios, veados, pássaros, borboletas e corujinhas de olho grande, as curucutus que dão nome a floresta, trouxeram nova vida ao local. O advogado também plantou árvores frutíferas, como amoreiras, pitangueiras e ameixeiras. "Elas atraem os pássaros", diz. Manter um sonho como esse não custa pouco. Metade da renda que ganha como advogado especialista em leis anti-truste e como consultor jurídico de grandes empresas, Vita Roso investe na floresta. "Conto com o apoio de minha esposa e minhas três filhas que sempre entenderam meu hobby", conta.
Como a floresta Curucutu adquiriu uma proporção muito maior do que a imaginada e hoje está além de seu criador, o advogado criou uma Organização Não Governamental (ONG), a Curucutu Parques Ambientais, responsável pela gestão da reserva. "Sei que, aos 64 anos de idade, poderia estar aposentado, mas prefiro trabalhar cada vez mais para levar adiante essa paixão", diz. Autodidata, ele devora todo tipo de leitura sobre botânica que lhe ensine o caminho das plantas. No início, Vita Rosa passava pelo menos 14 horas de seu dia mexendo na terra, plantando e replantando. Por conta dos inúmeros afazeres em seu escritório de advocacia e como conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) agora ele vai a Curucutu somente nos finais de semana. Em suas viagens pelo mundo, trouxe sementes de pinheiros da Itália, China, Japão, Portugal. Oito funcionários cuidam da "maternidade" do advogado, na verdade um viveiro com mais de 25 mil mudas produzidas por ano. Oitenta por cento desse volume destina-se ao reflorestamento da mata. O restante é doado a entidades ambientalistas.
Vita Roso trata suas árvores como filhas. Sabe de cor o ano em que cada uma foi plantada, quando floresceram, quantos centímetros cresceram, a primeira geada de cada uma delas. "Elas são como crianças. Temos que acompanhar a gestação, o parto e o crescimento", afirma. Como a maioria dos pais, ele demora para confessar seus xodós. "São as primeiras paineiras e cedros brancos semeados em 79", entrega. Essas árvores formam a alameda que levam o visitante da entrada da fazenda à sede. Ele é tão caprichoso que adorna o tronco delas com bromélias, compondo um bonito contraste colorido na Primavera. Três vezes por ano, cada árvore é limpa, adubada e podada. A iniciativa dele ganhou fama e foi uma das ganhadoras hors concours no ano passado do prêmio Top de Ecologia conferido pela Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB). Nesses anos todos, o advogado não contou com qualquer tipo de ajuda. Nem técnica e muito menos financeira. Não conta com incentivo fiscal e nem abatimento de Imposto de Renda. Mesmo assim, continua sua luta para plantar verde e colher vida. Formou um contrato com a Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) para que os alunos do curso de ecologia possam utilizar sua fazenda como um campus de estudos avançados. Em troca, ele receberá os resultados das pesquisas realizadas na reserva. Embora considerada de interesse público, não há requisitos que obriguem o proprietário de uma RPPNs a liberar a área para visitação pública. Generoso ao extremo, ele pensa mesmo assim em abrir as porteiras de sua floresta para as crianças. "Um dia teremos aulas de ecologia aqui dentro", sonha. E todo esse paraíso correu o risco de nem existir. Antes de colocar em prática a recuperação do ecossistema local, o advogado quase se deixou seduzir pelos poderosos argumentos financeiros da especulação imobiliária.
Em 1964, quando comprou a área, ele tinha em mente transformá-la em um loteamento de sítios e chácaras dirigido à classe média. A proximidade com a serra do Mar e os mananciais alimentadores das represas Billings e Guarapiranga na região tornavam o negócio atraente. "O terreno estava totalmente desmatado", lembra-se. A extração predatória da madeira por indústrias da região destruiu a mata atlântica formada por araucárias e árvores centenárias. "O que sobrou foi um imenso capoeiral, que aos poucos fui substituindo por árvores", recorda-se. As notícias sobre o buraco na camada de ozônio e os alarmantes índices de poluição lhe motivaram. "Fiquei preocupado com o ar que respiramos e resolvi plantar árvores para reverter o desmatamento indiscriminado", conta. Sem petições ou tribunais, mas simplesmente arregaçando as mangas, esse advogado de 64 anos fez da defesa pelo Meio Ambiente o caso mais espetacular de sua carreira.