Migalhas Quentes

O advogado, ex-juiz de Direito e autor da festejada Gramatigalhas, José Maria da Costa publica a terceira edição ampliada do “Manual de Redação Profissional”

4/9/2007


Entrevista

O advogado, ex-juiz de Direito e autor da festejada Gramatigalhas, José Maria da Costa, publica a terceira edição ampliada do "Manual de Redação Profissional". Além do livro, Costa também comemora o álbum "Mesa Rica" composto por suas poesias baseadas em textos bíblicos.

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A verdadeira pena da lei

Imagine a cena. Advogados apreensivos e clientes ansiosos separados por uma longa e estreita mesa, quase sem se olhar. O juiz, vestido de uma compenetração tamanha que aumenta ainda mais sua autoridade, analisa as peças processuais em mãos e, num instante furtivo, rasga um pedaço de papel. Anota sabe-se lá o que, e deposita o papel no bolso interno do paletó.

Na provável tensão que se estabelece nessas horas, é possível que ninguém note o papel rabiscado e guardado pelo magistrado. O hábito se repete por anos.

Pois chega a hora de o juiz se aposentar. Em sua sala, ao vasculhar estantes e gavetas, ele se depara com uma pasta gorda. Elas- as anotações - estão todas lá. Em cada uma, há ao menos um registro das milhares de audiências.

Já fora da magistratura, ele volta a advogar, função primeira que exercera no Direito. Mas toda manhã, ele abre cada um desses bilhetes. Faz longas pesquisas, reflexões, e põe-se a escrever.

Foi assim que o advogado e ex-juiz de direito José Maria da Costa, de Ribeirão, montou seu Manual de Redação Profissional. Usou as observações guardadas como inspiração para registrar o que e como escrever, em qualquer caso em que o português é ferramenta a ser manejada de maneira precisa.

"Enquanto lia as peças, anotava uma e outra expressão que gerava dúvida", relata, elegantemente, sem deixar cair acusação de que algum nobre advogado tenha tropeçado na língua.

Colecionou mais de mil notas. E comentou cada uma à luz de especialistas na gramática. Sem ser simplista, moldou um extenso conteúdo para fácil compreensão. Talvez nem saiba, mas seu livro sobrepuja qualquer manual de redação de jornal já publicado no país.

"O nome 'manual' foi escolhido justamente para o livro ficar à mão. Quero que esteja à frente de quem vai redigir", explica.

Passou três anos aprontando a primeira edição. Para a terceira, que acaba de sair ao mercado, foram acrescidos mais 300 verbetes. Trabalho que mereceu apresentação de Evanildo Bechara, membro da Academia Brasileira de Letras, e prefácio do jurista Saulo Ramos, ex-Ministro da Justiça.

O gabarito da obra não se encerra nas finas folhas da impressão, pois começou há mais de quarenta anos, quando a vontade de estudar Letras aguçava o então adolescente José Maria, quarto de seis filhos, nascido no terceiro parto, após a gêmea Maria José.

O pai era trabalhador braçal e desejava que a prole se formasse no ensino superior. Coisa que ficou mais difícil quando o patriarca sucumbiu a um infarto. José Maria da Costa tinha 19 anos. Escolheu prestar Direito, a despeito do amor às Letras.

"Ao lado de Administração e Economia, era o único curso que um rapaz pobre poderia fazer, para trabalhar de dia e estudar à noite", cita.

A voz tranqüila de agora não faz sombra à ousadia que o levou, no primeiro ano de Direito, a cursar Letras, ao mesmo tempo.

Estudava, trabalhava num banco, e ainda dava aulas nos colégios da cidade. Depois foi professor também em cursinhos, universidades e em escolas de magistratura. O resultado de todo esse trabalho tinha mesmo que desaguar num manual a ser consultado sempre.

Além do manual, Costa nunca quis escrever outra coisa. Incitado pela amiga e escritora Ely Vieitez a costurar prosas, respondia que seu negócio era a crítica, e não o bico da pena. Até que, há cinco anos, surpreendeu-se com a própria fé. Começou a compor poesias baseadas em textos bíblicos. Costa estudou dos onze aos 16 anos em um seminário. Resolveu partir para o internato porque lá poderia jogar futebol e nadar, atividades de que o trabalho o privava, desde os sete anos.

Até tinha intenção de virar irmão marista, mas descobriu que faltava vocação. Mas durante décadas foi instigado por uma frase de Santo Agostinho que ouvira no seminário: "quem canta, ora duas vezes".

"Lembrei-me da frase quando li um autor que desejava ouvir a Bíblia cantada. E perguntei-me o que eu poderia fazer", conta.

Nunca havia rabiscado um poema. Encorajou-se por ter conhecimento de métrica, ritmo e rimas, em função das Letras. Apresentou a primeira poesia ao amigo Marcos Landell, engenheiro agrônomo e compositor.

"Ele me respondeu que não compunha havia dois anos, que não tinha o que fazer. Fui embora, mas em minutos ele me ligou já com a música pronta", comenta.

Há um ano gravaram o álbum Mesa Rica, com dez faixas, sendo uma instrumental. A melodia é de Landell, ribeirão-pretano que pesquisa melhoramento genético no Instituto Agronômico de Campinas.

E a maior parte das letras vem das vivências que Costa chama de experiência pessoal e íntima com Deus. Esse caminho começou em 1975, quando uma aluna o convidou a assistir a um musical cristão.

"Achava que seria piegas, mas fui porque procurava Deus em todos os lugares, com coração sincero. Me surpreendi com a qualidade musical e a mensagem de ressurreição", declara.

Parece que Costa passou a marcar encontros com Deus por meio das orações. Em quase todas as experiências relatadas, ele cita momentos em que orava. Diz que orar não pode ser algo difícil, já que se volta ao próprio interior, onde Deus está.

"Oração é o ponto central da vida com Deus. Não precisa se preocupar com conduta ou estrutura das frases; é uma conversa íntima com quem está mais próximo de você", indica.

Algumas letras refletem esse diálogo, mais explicitamente a Oração do Ramo Infértil, em que o autor contextualiza à sua própria condição a parábola da videira. Uma reflexão de forte carga poética, que ainda remete à experiência do rei Davi. Uma das figuras centrais para Judaísmo e Cristianismo, o monarca poeta – e músico - se punha a pedir, insistentemente, a companhia divina.

Do Manual de Redação, José Maria tem orgulho, satisfação por empreender um trabalho bem feito, como ele mesmo considera.

Em relação às músicas, ele não diz mais muita coisa, a não ser que prepara, com Landell, o segundo álbum. Está despreocupado. Fala como se o conteúdo não fosse de sua própria autoria.

"Não tenho preocupação com o que o CD vai conseguir. O objetivo é espalhar essa palavra para muitas pessoas", afirma.

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Manual de Redação Profissional - 1.289 páginas
José Maria da Costa
Millennium Editora
R$ 174,00
Clique aqui para adquirir.

CD Mesa Rica
10 parcerias com Marcos Landell
R$ 16,90

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Fonte: A Cidade

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