"Lisboa é uma cidade doceira como Paris é uma cidade intelectual. Paris cria a ideia e Lisboa o pastel."
Eça de Queirós
Neste dia 25, comemora-se o aniversário de Eça de Queirós, um dos mais influentes escritores do século XIX. De origem portuguesa, Eça foi figura central na vida boêmia e intelectual da época.
Lisboa, com suas ruas históricas e cafés charmosos, sempre foi um caldeirão fervilhante de ideias e debates. O escritor não só marcou a literatura portuguesa, mas também contribuiu significativamente para debates jurídicos e políticos.
José Maria Eça de Queiroz nasceu em 1845, em Póvoa do Varzim/Portugal e carregou o estimgma de ter sido batizado como filho de "mãe incógnita".
Sua genitora, D. Carolina Augusta Pereira de Eça, abandonou-o depois do nascimento com o genitor, o magistrado José Maria de Almeida Teixeira de Queiroz e com a ama de leite brasileira, Ana Joaquina Leal de Barros. Entretanto, quatro anos depois, os pais de Eça voltaram a ficar juntos e se casaram.
Após completar seus estudos em Direito na Universidade de Coimbra em 1866, Eça de Queirós exerceu a advocacia por um curto período e se tornou diplomata. Durante sua carreira, Eça também colaborou com jornais e se envolvia com a vida literária e intelectual da época.
Na universidade conheceu Teófilo Braga e Antero de Quental, entre outros, que viriam mais tarde a constituir o grupo de intelectuais celebremente conhecido como "Geração de 70".
A inclinação do português para a literatura e a escrita logo superou seu interesse pela advocacia. Em 1867, Eça de Queirós ingressou no jornalismo, o que lhe permitiu explorar sua paixão pela escrita de forma mais livre e criativa.
Região do Chiado
Na juventude, Eça possuía uma profunda ligação com amigos que faziam parte do Cenáculo, um grupo de intelectuais que discutia arte, política e ciência. Este círculo de pensadores influenciou significativamente suas ideias e obras.
Os cafés na região do Chiado, Centro comercial e teatral de Lisboa, foram o palco dessas reuniões e debates, em que Eça discutia com colegas, escritores e políticos sobre as reformas necessárias para modernizar Portugal.
A vida boêmia dos escritores dessa época, como Eça de Queirós, não era apenas um refúgio de inspiração artística, era também um palco de intensos debates intelectuais.
"Serafina"
Localizada no bairro do Príncipe Real, em Lisboa, a Confeitaria Cister, carinhosamente conhecida como Serafina, desempenhou um papel importante na rotina diária de Eça de Queirós. O célebre escritor costumava tomar seu café da manhã na Serafina, iniciando ali seus passeios matinais pela cidade.
A presença frequente de Eça de Queirós tornou-o um dos clientes mais habituais do estabelecimento. Em reconhecimento a essa assiduidade e à sua importância para a cultura portuguesa, a gerência da confeitaria decidiu prestar-lhe homenagem, decorando as paredes com imagens evocativas do escritor.
Faça um passeio conosco pela "Lisboa de Eça":
Influência
Os escritos de Eça de Queirós não apenas refletiam a realidade social e política de sua época, mas também incitavam o público a refletir sobre moralidade e Justiça. Seus romances realistas, como "Os Maias" e "O Primo Basílio", são verdadeiros retratos das hipocrisias e corrupções da elite lisboeta.
Em suas obras, Eça aborda temas simples e cotidianos, permeados de ironia, humor e, ocasionalmente, pessimismo e crítica social. Seus textos também fazem críticas aos valores da burguesia portuguesa e à corrupção na Igreja.
Embora não fosse legislador, suas críticas literárias moldaram a opinião pública e influenciaram juristas e políticos da época, contribuindo para um ambiente intelectual que favorecia melhorias no sistema jurídico.
Influência de Eça no Brasil
Eça de Queiroz nunca pisou em solo brasileiro, mas sua vida esteve constantemente entrelaçada com o Brasil de diversas maneiras.
No início de sua carreira consular, Eça chegou a se candidatar para um posto na Bahia, mas acabou sendo designado para Havana.
Enquanto aguardava por sua colocação diplomática, fundou, com Ramalho Ortigão, o periódico As Farpas. Em fevereiro de 1872, um artigo desse periódico que ridicularizava o imperador D. Pedro II durante sua visita a Portugal em 1871, foi reproduzido clandestinamente no Brasil e utilizado pela propaganda republicana.
Outro texto polêmico foi a crônica "O Brasileiro", publicada também em As Farpas, que provocou forte reação ao apresentar o brasileiro como uma figura caricata.
A partir de 1880 que Eça de Queiroz inicia uma importante colaboração, que durou 16 anos, com a Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro.
Neste periódico foram publicadas "A Relíquia" e "Cartas de Fradique Mendes", bem como todas as crônicas depois reunidas em livros, com os títulos "Cartas de Inglaterra", "Ecos de Paris", "Cartas Familiares" e "Bilhetes de Paris".
A obra de Eça gerou uma vasta e fiel cultura eciana no Brasil, a ponto de Monteiro Lobato cunhar o termo “ecite”; seria a mania de imitar o estilo do escritor português, no Brasil.
Com a publicação de O Primo Basílio em 1878, veio uma crítica incisiva de Machado de Assis, que também condenou O Crime do Padre Amaro. Machado, ligado ao romantismo, não aprovava as liberdades do realismo de Eça.
Ao longo de sua vida, Eça estabeleceu diversas amizades com brasileiros, como Domício da Gama em Londres, e Eduardo Prado e Olavo Bilac em Paris.
A morte de Eça foi profundamente sentida e lamentada no Brasil, sendo-lhe inclusive erguido um monumento na cidade do Rio de Janeiro.
Migalhas de Eça de Queirós
Em 2009, Migalhas realizou uma série histórica de matérias sobre Eça de Queirós. As reportagens destacam aspectos marcantes da vida e obra do literário, como sua infância distante do lar, os estudos sob orientação de Joaquim Costa Ramalho, sua amizade com Ramalho Ortigão, a formação em Coimbra, a atuação como redator no jornal "Distrito de Évora" e sua falta de afinidade com a advocacia.
São enfatizados seu humor e ironia ao criticar a política e os costumes de Portugal, bem como a atualidade das questões abordadas em seus textos, além da presença de elementos jurídicos em suas obras mais conhecidas.
Para revisitá-la, confira:
- Trajetória de um gênio
- Farpas contra a censura
- Com seus botões, obrigatoriamente
- Crime: matar a esposa - Pena: varrer as ruas
- Cara ou coroa?
- Relíquias à venda
- Saudosismo
- Jogo de Xadrez
- Lei de Imprensa
- Juridiquês
- Crime do padre, Amaro ou Mouret
- Médico ou advogado?
- Sobre coisas e pessoas
- Correspondência
- República
- Crônica de um sonho
- Migalhas de Eça de Queirós
Naquele ano, foi lançado o Migalhas de Eça de Queirós, livro que reúne aforismos do brilhante escritor. O livro está disponível na Livraria Migalhas. Para adquirir, clique aqui.
Seus pensamentos e frases também podem ser lidos, e compartilhados com facilidade na internet, pelo Migalhas Literárias. No site, é possível buscar suas frases por temas ou trechos, de Eça quanto e de outros grandes autores.