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Morre J. Borges, xilogravurista e poeta pernambucano, aos 88 anos

J. Borges é amplamente reconhecido como um dos mestres da arte popular brasileira.

26/7/2024

Na manhã desta sexta-feira, 26, J. Borges, renomado xilogravurista, poeta e cordelista pernambucano, faleceu aos 88 anos em Bezerros, no Agreste de Pernambuco, onde nasceu e viveu toda sua vida. A informação foi confirmada por seu filho, Pablo. Segundo familiares, Borges morreu de causas naturais por volta das 6h da manhã. Até o momento, não foram divulgadas informações sobre o velório e enterro do artista.

J. Borges é amplamente reconhecido como um dos mestres da arte popular brasileira. Sua trajetória artística começou na juventude, após ter trabalhado como carpinteiro e pedreiro. Descobriu a literatura de cordel, e há 60 anos, tornou-se escritor. Sua primeira xilogravura, a imagem da igrejinha, marcou o início de sua carreira como um dos grandes mestres dessa arte.

Em 2012, o artista concedeu entrevista à TV Migalhas, na qual o artista narrou como começou a ilustrar cordéis, compartilhando sua experiência e paixão pela arte.

Veja trechos:

O legado de Borges inclui uma vasta exposição gratuita no Museu do Pontal, no Rio de Janeiro, que estará aberta até 25 de março de 2025. Além disso, suas obras estão expostas no Museu do Louvre, na França, e já foram apresentadas em diversos países, incluindo Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Itália, Venezuela e Cuba.

Ao longo de sua carreira, J. Borges recebeu diversos prêmios, como a comenda da Ordem do Mérito Cultural, o prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) na categoria Ação Educativa/Cultural e o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco. Suas ilustrações também foram utilizadas em obras de escritores renomados como José Saramago e Eduardo Galeano.

J. Borges faleceu hoje.(Imagem: Reprodução/Museu do Pontal)

Biografia

Nascido na cidade de Bezerros/PE em 1935, J. Borges trabalhou na roça, confeccionou brinquedos artesanais, foi pintor, carpinteiro, pedreiro, marceneiro, mascate e oleiro antes de se tornar um dos artistas folclóricos mais celebrados da América Latina.

Aos 20 anos começou a vender cordéis e aos 29 publicou o seu primeiro cordel: "O Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina", com ilustrações de Dila. Vendeu cinco mil exemplares em sessenta dias.

Mas para poupar dinheiro teve que aprender a fazer as gravuras de seus próprios folhetos. "Eu escrevi cordel e precisei ilustrar e não tinha quem fizesse. Nunca tinha visto ninguém fazendo, mas tinha noção de como era feito. Era cavado o relevo. Aí eu risquei, fiz a gravura e levei para tirar uma cópia na gráfica. O rapaz passou tinta, tirou a cópia e disse 'está bom, dá para imprimir'. Aí imprimiu, eu vendi o cordel bem, vendi 2 mil cordéis rápido", registra o xilogravurista.

O reconhecimento veio quando o dramaturgo, romancista e poeta Ariano Suassuna descobriu o seu trabalho e o designou como o maior artista popular do Nordeste. "Fui procurando fazer jus à palavra de Ariano, trabalhando dentro da minha região, mantendo o meu traço e também mantendo um pouco a humildade", afirma.

Depois foi convidado a dar aulas na Universidade do Novo México e a expor no Texas e na Europa. Suas xilogravuras ilustram o livro "As Palavras Andantes", do escritor uruguaio Eduardo Galeano. Além disso, foi o único artista latino americano a participar do calendário da Unicef.

Ao todo, J. Borges teve 24 filhos, 18 biológicos e 6 adotivos, dos quais muitos também optaram por seguir a carreira do pai.

Migalhas em cordel

Em 2012, J. Borges ilustrou um cordel do escritor, compositor e juiz Federal de Quixadá/CE, Marcos Mairton, feito para este poderoso rotativo.

Cordel com ilustração de J. Borges.(Imagem: Reprodução)

Em entrevista à TV Migalhas, o artista narrou parte de sua história e a curiosa admiração de Ariano Suassuna por suas obras. Assista aos vídeos abaixo:

As obras abaixo estão hoje expostas na sede migalheira.

Imagens estão expostas na sede deste rotativo.(Imagem: Migalhas/Redação)

Notas de pesar

TJ/PE:

O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) lamenta profundamente o falecimento de um dos mais famosos xilógrafos pernambucanos, José Francisco Borges, mais conhecido como J. Borges. O xilogravurista, poeta e cordelista nasceu em 1935 na cidade de Bezerros, no interior de Pernambuco.

Ao longo de mais de 50 anos, J.Borges produziu 314 folhetos de cordel e xilogravuras, que já expostas em diversos museus - como o Louvre (França), o de Arte Popular do Novo México (Santa Fé, EUA), o de Arte Moderna de Nova York (EUA) e a biblioteca do Congresso norte-americano (Washington, EUA).

O TJPE deseja conforto a familiares, amigas e amigos.

TRF da 5ª região:

É com tristeza que magistrados e magistradas, servidores e servidoras do Tribunal Regional Federal da 5ª Região - TRF5 recebem e compartilham a notícia do falecimento do xilógrafo, cordelista e poeta brasileiro J. Borges, na manhã desta sexta-feira (26/07). Não só pelo conjunto da sua obra, que retrata uma parte importante do imaginário nordestino, mas por ter sido ele o autor da xilogravura "Justiça Federal: Transformando o Brasil com justiça social", uma obra inédita, que transformou em arte as competências e serviços prestados pela Justiça Federal. 

A xilogravura foi encomendada pelo TRF5, no âmbito das ações do projeto "A Justiça Federal nos 35 anos da Constituição da República". A partir daí, a obra passou a ilustrar paredes, camisas e campanhas. Nela, estão representadas algumas áreas de atuação da Justiça Federal, como defesa dos direitos dos povos indígenas e quilombolas, autorização de aposentadorias rurais e de outros benefícios sociais, concessão de medicamentos fora da lista do Sistema Único de Saúde (SUS) e defesa do meio ambiente. 

Uma xilografia única, e agora rara, que, além de simbolizar e imortalizar nosso fazer diário, tem a nossa cara, nosso povo, nossas cores e nossos sotaques.

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