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Ministério da Justiça notifica Meta por dados de brasileiros em IA

Secretaria Nacional do Consumidor quer entender por que empresa usou os dados pessoais de brasileiros para treinar as ferramentas de inteligência artificial que desenvolve.

3/7/2024

A Secretaria Nacional do Consumidor, vinculada ao ministério da Justiça e Segurança Pública, notificou a Meta para que esclareça o uso de dados pessoais de brasileiros para treinar suas ferramentas de inteligência artificial. A notificação foi enviada nesta terça-feira, 2, e questiona a legalidade da ação, levantando preocupações sobre o uso do legítimo interesse como justificativa para o tratamento de dados.

A Senacon destacou que o uso de dados pessoais dos brasileiros pela Meta, sem uma finalidade específica e transparente, pode violar a legislação brasileira, incluindo o CDC e a LGPD. A entidade questiona a ausência de informações adequadas aos consumidores e práticas manipulativas que dificultam o exercício dos seus direitos.

O secretário Nacional do Consumidor, Wadih Damous, enfatizou a importância de as empresas de internet respeitarem as leis brasileiras. "As empresas de internet devem entender que o Brasil possui leis e que essas leis prevalecem sobre os seus termos de uso", afirmou.

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A notificação exige que a Meta apresente, no prazo de cinco dias, esclarecimentos detalhados sobre o uso de dados de consumidores para treinamento de inteligência artificial, o propósito desse uso, o impacto do treinamento de IA nos consumidores, a política de informação adotada para o uso de dados e a existência de um canal de atendimento que facilite o exercício dos direitos dos consumidores.

Além disso, a Meta deve comprovar que sua política de privacidade cumpre com os princípios da finalidade, adequação, necessidade e transparência, indicando as bases legais aplicáveis a cada finalidade e os tipos de dados pessoais necessários.

O diretor do departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, Vitor Hugo do Amaral, ressaltou a vulnerabilidade dos consumidores diante do uso indiscriminado de seus dados pessoais para o treinamento de IA sem uma base legal sólida e transparente, afirmando que "é nosso dever proteger os direitos fundamentais dos consumidores, garantindo que suas informações pessoais sejam tratadas de maneira justa e legal".

De acordo com a notificação, a prática da Meta desrespeita a soberania legislativa do Brasil e pode resultar em um processo sancionatório. Wadih Damous reforçou que o Estado tem o dever de promover a defesa do consumidor, conforme os princípios, direitos e garantias previstos no CDC. Isso inclui proteger os consumidores contra práticas abusivas e garantir seu direito à informação e à liberdade de escolha.

Meta tem usado dados pessoais para implementação de IA.(Imagem: Arte Migalhas)

Proteção de dados

Ainda nesta semana, a ANPD - Autoridade Nacional de Proteção de Dados determinou a suspensão do uso de dados de usuários divulgados em plataformas da empresa Meta para o treinamento de sistemas de inteligência artificial. O conselho decisório da ANPD aprovou a medida cautelar, que em caso de descumprimento, a empresa estará sujeita a uma multa diária de R$ 50 mil.

Foi dado prazo de cinco dias, a partir da intimação, para que a Meta apresente ao governo documentação que ateste a adequação da Política de Privacidade, mediante a exclusão do trecho correspondente ao tratamento de dados pessoais para fins de treinamento de IA generativa; e declaração assinada pelo encarregado, por membro do corpo diretivo ou representante legalmente constituído, atestando a suspensão do tratamento de dados pessoais para fins de treinamento de IA generativa no Brasil.

Veja o documento na íntegra.

Entenda

No ano passado, a Meta iniciou a introdução de experiências de inteligência artificial generativa em seus aplicativos e dispositivos, começando pelos Estados Unidos. Em abril, a empresa anunciou o lançamento da tecnologia em mais de uma dúzia de países além dos EUA, com planos de expandir ainda mais até o final do ano.

Em junho deste ano, a Meta implementou nova política de privacidade que abrange suas redes sociais. Ela autorizou o uso de conteúdos públicos compartilhados pelos usuários para o treinamento de IA generativa.

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