Migalhas Quentes

Promotor sugere que vítima de violência “aquiete o facho” e volte com ex

Caso foi levado ao CNMP e ao Conselho Nacional de Direitos Humanos.

9/6/2024

Durante audiência em Vitória/ES, um promotor de Justiça do MP/ES disse a uma mulher vítima de violência doméstica que ela deveria “aquietar o facho” e ficar o resto da vida com o ex-companheiro.

Ela requeria pensão alimentícia aos cinco filhos que tem com o homem.

O áudio foi divulgado pelo G1. Confira:

Cinco filhos juntos. Vocês deveriam aquietar o facho e ficar o resto da vida juntos, né?”, diz o promotor. “Deus me livre, Deus não deixou”, responde a mulher.

O áudio foi gravado na audiência, e o promotor Luiz Antônio de Souza Silva teria constrangido a mulher, fazendo comentários sobre a quantidade de filhos que ela tem.

Após o episódio, ocorrido no dia 20 de março, Luiz Antônio de Souza Silva foi denunciado pelo Programa de Pesquisa e Extensão Fordan, da Universidade Federal do Espírito Santo por violência institucional.

O que é violência institucional?

Segundo o CNMP, a chamada “vitimização secundária” (ou violência institucional) ocorre quando o agente público submete uma vítima de infração penal ou a testemunha de crimes violentos a "procedimentos desnecessários, repetitivos ou invasivos, que a leve a reviver, sem estrita necessidade, a situação de violência ou outras situações potencialmente geradoras de sofrimento ou estigmatização”. Conforme previsto na lei 14.321/22, os responsáveis pela prática podem ser punidos com detenção de três meses a um ano e multa. O órgão afirma que a prática tem especial gravidade, já que é causada pelos agentes públicos que deveriam proteger a vítima no curso da investigação ou do processo.

O caso

A mulher tem 41 anos e é mãe de sete filhos, sendo cinco deles com o ex-companheiro. Os filhos do casal têm entre 3 e 13 anos.

Ela afirmou que morou com o ex durante 20 anos, que foi agredida diversas vezes, e que tinha medidas protetivas contra ele.

A mulher era atendida pelo programa da universidade desde 2014 e procurou a instituição para relatar o que ocorreu na audiência.

Segundo o G1, após a audiência ela conseguiu a pensão alimentícia, mas disse que se sentiu humilhada com as falas do promotor.

"Eu morei 20 anos com meu marido. O que passei foi ser humilhada, violentada, sofri abuso psicológico. A gente tem que debater com ex-marido e chegar para fazer audiência, e lá virar chacota para promotor. A gente sai de lá como lixo, né? Fica humilhada mais ainda. A gente denuncia, vira chacota, e aí o que acontece? A gente fica calada e volta para casa", apontou a mulher.

Após o relato da mulher, o caso foi enviado ao Conselho Nacional de Direitos Humanos e ao CNMP.

Repúdio

A Comissão da Mulher Advogada da OAB/ES repudiou veementemente o comportamento "sexista, misógino, racista e etarista praticado pelo  promotor de Justiça Luiz Antônio de Souza Silva quando em audiência na Vara de Família de Vitória” que, ao se dirigir à requerente, “fez juízo de valor, causando  constrangimento e desconforto às partes ali presentes”.

“É inaceitável que fatos como estes ainda ocorram em nossa sociedade, apesar de toda a luta travada pelos movimentos sociais para o combate ao racismo e à violência de gênero."

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Leia mais

Migalhas Quentes

Resolução do MP prevê ações contra revitimização e violência infantil

29/2/2024
Migalhas Quentes

CNJ investigará juíza que impediu aborto de criança vítima de estupro

21/6/2023
Migalhas Quentes

Juíza e MP induzem menina de 11 anos estuprada a manter gestação

20/6/2022
Migalhas Infância e Juventude

Breve reflexão sobre a revitimização de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual

24/5/2022

Notícias Mais Lidas

TJ/MG revoga liminar e veta transfusão em paciente testemunha de Jeová

15/7/2024

Herdeiros que ocupam imóvel exclusivamente devem pagar aluguel

16/7/2024

OAB/SP divulga nova tabela de honorários com 45 novas atividades

15/7/2024

TJ/BA anula sentença após juiz dizer que "lugar de demônio é na cadeia"

15/7/2024

Funcionária chamada de “marmita do chefe" por colegas será indenizada

16/7/2024

Artigos Mais Lidos

Partilha de imóvel financiado no divórcio

15/7/2024

Inteligência artificial e Processo Penal

15/7/2024

Você sabe o que significam as estrelas nos vistos dos EUA?

16/7/2024

Advogado, pensando em vender créditos judiciais? Confira essas dicas para fazer da maneira correta!

16/7/2024

O setor de serviços na reforma tributária

15/7/2024