Confirmando as especulações, o presidente Lula indicou nesta quinta-feira, 1º de junho, o advogado Cristiano Zanin para compor o Supremo Tribunal Federal na vaga decorrente da aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski. A publicação oficial ainda não foi publicada no DOU.
Zanin tem 47 anos e graduou-se pela PUC-SP. É natural de Piracicaba, pujante cidade do interior de São Paulo. Aliás, aqui vai uma curiosidade: será o primeiro piracicabano a integrar a Suprema Corte. De fato, embora as cidades vizinhas já tivessem filhos seus na história do STF - como Campinas, Capivari (2 ministros são capivarianos), Tatuí (o querido ministro Celso de Mello), Amparo e Bragança Paulista (o ministro Cezar Peluso) - até hoje Piracicaba não tinha tido essa glória, agora trazida por Zanin, que, nas palavras do famoso hino da cidade, com o sotaque inconfundível, é "um filho ausente a suspirar por ti".
Filho do também advogado Nelson Martins, Cristiano gostava de jogar futebol, mas acabou abandonando o hábito em meio à rotina pesada de trabalho.
Além da advocacia, trincheira onde se notabilizou pela atuação firme e destemida, Zanin já exerceu o magistério como professor universitário de Direito Civil e Direito Processual Civil.
Possuidor de um espírito reservado, mas associativo, participa do IAB - Instituto dos Advogados Brasileiros, AASP - Associação dos Advogados de São Paulo, IASP - Instituto dos Advogados de São Paulo, IBDEE - Instituto Brasileiro de Direito e Ética Empresarial e IBA - International Bar Association.
Discreto na vida pessoal, é casado com a também advogada Valeska Teixeira Zanin Martins - a grande responsável pela vitória na ONU, que reconheceu a parcialidade de Moro ao condenar Lula - e amoroso pai de três filhos.
Conquanto já fosse reconhecido como promissor defensor desde o fim dos anos 90 e início dos anos 2000, Cristiano Zanin ganhou, de fato, ampla notoriedade a partir de 2013, quando se tornou advogado de Lula nos processos derivados das investigações da operação Lava Jato.
Incontáveis foram os episódios em que teve que agir com desassombro diante de uma guerra de lawfare que incluía o sistema judiciário e a mídia, como costuma acontecer nestes casos. A propósito, lawfare que foi até reconhecido pelo Papa Francisco recentemente.
Em 2016, por exemplo, o advogado passou por um agastamento com o então juiz Sergio Moro um dia depois de ter protocolado uma ação contra Deltan Dallagnol pelo caso do PowerPoint (no qual, aliás, foi também vitorioso). Na ocasião, Moro ironizou a defesa e, consequentemente Zanin, dizendo que eles "entravam com queixa-crime e pedidos de indenização contra todo mundo". Empedernido, Zanin ouviu as grosserias de Moro com a paciência de Jó. Assista ao vídeo:
Já em 2020, em um desdobramento da Lava Jato no RJ, a casa de Zanin foi alvo de mandado de busca e apreensão emitido pelo juiz Marcelo Bretas, recentemente afastado pelo CNJ. Embora dissessem que se tratada de outra investigação, o alvo parecia ser Zanin, e o escopo uma evidente retaliação à defesa prestada a Lula.
"Esse é o objetivo da Lava Jato. Me tirar ou tirar o meu tempo da defesa do presidente Lula e nos outros casos em que eu atuo. Só que isso não vai acontecer."
No ano seguinte, em 2021, um pedido de habeas corpus - entre tantos e tantos - impetrado por Cristiano Zanin perante o STF resultou na anulação das condenações de Lula na Lava Jato, ocasião em que os ministros reconheceram a suspeição de Sergio Moro e a incompetência da Justiça de Curitiba para julgar o caso.
À época, o trabalho de Zanin foi elogiado pelo ministro Gilmar Mendes:
"Sem dúvida nenhuma nós vimos um advogado que não se cansou de trazer questões ao Tribunal, muitas vezes sendo até censurado, incompreendido. Mas ele tinha, vamos reconhecer, uma causa muito difícil e muito personalizada. Faço, na pessoa do Dr. Zanin, uma justa homenagem à advocacia brasileira."
Zanin também trabalhou como advogado na campanha presidencial de Lula e foi designado para compor o grupo técnico sobre Justiça e Segurança Pública do gabinete de transição presidencial.
Em janeiro deste ano, Zanin foi vítima de outro episódio lamentável. Com efeito, ele foi hostilizado em um banheiro no Aeroporto de Brasília por um estulto cidadão. Impassível, assistiu a tudo novamente com admirável paciência. Reveja o ocorrido:
Sua nomeação, ao contrário do que se imagina, não é um prêmio por sua atuação. Se fosse, não teria problema algum, pois poucos enfrentariam o que ele galhardamente enfrentou. Mas não é isso. De fato, quem o conhece sabe de sua honestidade e dedicação. Trata-se de um jurista estudioso, correto e de excelente caráter. Filho amoroso, bom marido, zeloso pai. Qual outro predicado se faz necessário para um bom juiz?
O Supremo Tribunal Federal ganha um excelente magistrado. O Brasil um grande ministro.