Em 1º de março de 1923, apagou-se o sol. Foi assim que o jornal carioca Gazeta de Noticias anunciou a morte de Rui Barbosa.
"Desappareceu hontem, ás 8 e 25 da noite, em Petropolis, a maior cerebração latina"
É difícil aferir como ficaram consternadas as pessoas diante do falecimento do eterno jurista. Não há paralelo. Os mais jovens devem se lembrar da comoção diante da morte de Ayrton Senna. Mas é preciso multiplicar para saber o que foi o desaparecimento de Rui Barbosa, no Brasil e também no exterior.
Surpresa, tristeza, lamento, exaltação. Foram esses os sentimentos reproduzidos nos jornais em 2 de março daquele ano, um dia após a morte. Considerado – e registrado nos jornais – um dos maiores brasileiros da época, e da história, o falecimento do advogado gerou grande comoção.
Após 100 anos, Migalhas reúne alguns exemplares que mostram o quão grandioso foi o mestre Rui Barbosa, cuja triste notícia da morte ocupou a primeira página dos matutinos.
O Jornal do Brasil, do RJ, dedicou a edição àquele que foi "o maior dos brasileiros". A primeira página, além de lamentar a perda, estampou fotos de Rui em diversas épocas: um dos últimos retratos, estudante, embaixador, ministro e senador.
No texto, o jornal diz que, em todas as fases de nossa história, desde a celebração da independência politica até a consolidação do regime vigente à época, "ninguém avultou com mais grandeza nos destinos históricos da nacionalidade nem irradiou maior prestigio e fascinação sobre o ânimo da coletividade". "Ruy Barbosa encarnava a ção mais estupenda do gênio brasileiro."
"Ruy Barbosa – Obumbra-se o 'sol da intelectualidade sul-americana'!", estampou o jornal A Provincia, de PE. Segundo a publicação, o advogado era "o gênio da Língua, da Literatura, do Direito, da Sabedoria, da Verdade, da Republica".
"Era que temíamos essa hora final, essa que é o motivo do presente luto sincero e indizível do Brasil; essa hora, imensamente triste, em que a matéria exânime, cede a lei fatal que importa o finito."
"Tínhamos a impressão que o grande brasileiro ainda viveria muito tempo", disse publicação do Jornal do Commercio, do RJ, que completa estarem com "o coração dilacerado de dor".
"Todos estremecerão com essa notícia dolorosa: o maior homem do Brasil deixou de existir! Tínhamos a impressão que o grande brasileiro ainda viveria muito tempo. Em Novembro, completara 73 anos e o prolongamento daquela vida excelsa ainda estava dentro das tristes possibilidades das fracas contingências humanas."
O jornal A Gazeta, de SP, dedicou a edição ao advogado, que chamou de "o maior dos brasileiros". Segundo o texto, "foi para todo Brasil a mais pungente surpresa a notícia do falecimento de Ruy Barbosa".
"O crepe não envolve apenas a pátria, que chora debruçada sobre o caixão que guarda os despojos queridos do maior de seus filhos. O luto é também de toda a América, de cujas reivindicações e liberdade se fizera sempre o amis estrênuo dos paladinos. E é também da raça latina, de que foi, em todos os tempos, o mais cintilante expoente nas múltiplas manifestações do seu talento sem par."
Na edição 1.269, o exemplar de O Jornal, do RJ, disse que a morte de Ruy Barbosa representava, incontestavelmente, "um 'luctuoso' acontecimento nacional".
"(...) tão nacional que, no sentir da maioria absoluta dos brasileiros, estamos certos, de agora em diante, nenhuma outra evocará, de modo tão positivo, toda a nossa vida de nação livre destes últimos cinquenta anos."
O jornal ainda ressaltou que Rui Barbosa representou, por si só, "a feição mais altamente intelectual da nossa evolução política, a bem dizer, a única expressão à parte do rudimentar empirismo liberal, que tal tem sido o nosso, tão feliz, entretanto, nas suas mais apressadas e perigosas conquistas".
Veja abaixo as primeiras páginas dos principais jornais do Brasil em 2 de março de 1923. Rui estampou a capa do Jornal do Brasil, Jornal do Recife, Jornal do Commercio, A Noite, O Paiz, A Tribuna, A Provincia, O Jornal, O Imparcial, Correio Paulistano e Correio da Manhã.
Para gáudio dos brasileiros, a consternação não se deu só no Brasil. Matutinos da França, Inglaterra, Bélgica e de dezenas de países publicaram a notícia em suas primeiras páginas.
"Une grand figure qui disparaît", dizia um jornal belga. Separamos aos migalheiros alguns exemplares. Veja abaixo.
"Ruy est mort", anunciava um jornal frances. Veja algumas páginas: