“Teria o planeta nos traído, ou, nós que traímos o planeta?”, foi com esse questionamento que o documentário “Uma Verdade Inconveniente” (2006) ganhou as telas do cinema e acendeu um alerta vermelho para a sociedade: o planeta está esquentando e as consequências da mudança climática podem ser fatais.
O documentário aponta uma das principais causas para o aquecimento global: o efeito estufa, que é o aumento da temperatura da Terra pela retenção do calor por certos gases atmosféricos. Um deles é dióxido de carbono, responsável por cerca de 60% do efeito-estufa.
A corrida para frear o aquecimento global envolve inúmeros setores da sociedade e escritórios de advocacia têm mostrado que também têm muito a contribuir quando o assunto é a temática ambiental.
Mercado de crédito de carbono
Uma das estratégias para diminuir os impactos ambientais causados por gases nocivos é o mercado de carbono, em que países e empresas têm metas para diminuir as emissões. De forma simplificada, funciona assim: empresas/países que conseguirem diminuir as emissões, além das metas, ganham créditos que podem ser vendidos para aquelas empresas/países que não vão conseguir atingir o limite fixado.
Essa compra de créditos, todavia, não é a única maneira de compensar emissões de carbono. Há um mercado voluntário de compensação. O escritório Pinheiro Neto Advogados, por exemplo, trabalha há 15 anos nele. Como? Reciclando materiais, reduzindo consumo de energia e investindo diretamente no reflorestamento por meio de plantio de mudas em área que antes era degradada.
Os advogados André Bernini e André Vivan explicam a dinâmica: o escritório faz um inventário detalhado sobre as emissões (com número de descolamentos de carro para e do escritório; horas de ar-condicionado e luz ligados; viagens nacionais e internacionais de avião etc.) e passa o resultado para uma empresa especializada, que ajuda a empresa a calcular o número de mudas que o escritório precisará plantar para que haja uma compensação efetiva.
De acordo com os advogados, o plano do escritório foi pensado para além do plantio de árvores ou da compra de créditos, “nosso plano foi pensado para ser perene e para que tivéssemos uma estratégia de recuperação de uma área que estava degradada e sofria com alagamentos. Com isso, nós conseguimos efetivamente enxergar o que a nossa iniciativa está gerando em determinada comunidade – a área que foi escolhida foi totalmente recuperada”.
Indagamos aos especialistas se esse mercado serviria apenas para os grandes escritórios. Segundo eles, não: “qualquer pessoa física ou jurídica pode compensar suas emissões por meio de apoio a projetos deste tipo ou adquirindo créditos de reduções de emissões a partir de projetos validados e verificados por entidades credenciadas para tal finalidade”.
Diferencial competitivo
Migalhas conversou também com Leonardo Sperb De Paola e Alessandro Panasolo, sócios do De Paola & Panasolo Sociedade de Advogados, um escritório situado em um bosque de 500 metros quadrados, no meio de Curitiba, e que recebeu o selo Zero Energy; ou seja, a empresa é autossuficiente na geração de energia.
Os sócios explicam que a compensação de carbono decorre de diversas práticas, tais como instalação de placas fotovoltaicas; racionalização de consumo de energia; conservação de áreas verdes com adoção de uma unidade de conservação categorizada como Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN com 847 hectares.
Os advogados reiteram que qualquer escritório, mesmo que pequeno, pode ter engajamento na temática, afinal “tudo impacta na questão ambiental”. Deixar de utilizar papel e fazer o peticionamento eletrônico, usar ar-condicionado de baixo consumo e ter iluminação de leds já contribuem para a compensação de carbono.
Para além dos benefícios ambientais, os advogados chamam atenção para os benefícios econômicos: “hoje, ninguém mais quer ser parceiro de quem não está preocupado com políticas de ESG, principalmente, as políticas relacionadas à questão ambiental. É um diferencial competitivo”.