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Do exílio à presidência da OAB/SP: Patricia Vanzolini fala ao Migalhas

Ao Migalhas, a presidente da OAB falou sobre o exílio no Chile, a sua vocação por Direito, situações de machismo experimentadas profissionalmente, dentre outros temas. Confira!

11/2/2022

O nome completo de Patricia Vanzolini, atual presidente da OAB/SP, é Maria Patricia Vanzolini Figueiredo. Maria Patricia, uma combinação não tão usual no Brasil e grafada assim mesmo, sem acento. A explicação vem de sua origem: Maria Patricia é nome comum no Chile, país no qual nasceu em 1972, com pais exilados do Brasil por conta da ditadura.

Do exílio até à presidência da OAB/SP, Patricia Vanzolini viveu muita coisa. Migalhas conversou com a advogada, que contou como foi esse caminho e por quais obstáculos teve de passar. 

Do exílio à presidência da OAB/SP: Patricia Vanzolini fala ao Migalhas.(Imagem: Divulgação | Arte Migalhas)

“Não queriam nada de mais”

Vanzolini narrou que seus pais “não queriam nada de mais” quando saíram do Brasil para o Chile. Queriam apenas a democracia e, naquele tempo, não se podia ousar querer isso: “simplesmente querer falar, querer se posicionar contra o governo já era risco de vida”.

Em 1972, o Chile era um dos poucos países de resistência democrática da América do Sul. Acontece que, um ano depois, em 1973, houve o golpe de Estado no país. Embora Vanzolini fosse muito pequena para se lembrar do que aconteceu, ela nos fala do relato de sua mãe, que tinha apenas 23 anos.

“[Em 1973] Começou uma onda muito forte de perseguição a estrangeiros. Minha mãe conta que apanhou na fila de uma padaria por ser estrangeira. Meu pai chegou a ser preso no Chile. E eles, então, acabaram voltando para o Brasil.”

Patricia Vanzolini relata que a experiência de seus pais a encoraja a tomar decisões na advocacia e, agora, na presidência da OAB: “não pretendo retroceder com pautas importantíssimas. Acho que eu devo isso aos meus pais (...) Não me é dado ter covardia”.

“Felizmente eu nunca precisei correr tantos riscos físicos como meus pais correram. Mas, mesmo hoje, assumindo a presidência da Ordem, essa experiência dos meus pais é muito forte. Por vezes eu penso entre implantar mudanças que eu acho necessárias e que podem até, politicamente, me colocar numa situação mais exposta.”

Ideal

É bastante comum no Direito que o “gene jurídico” seja passado de pai para filho. No caso de Patricia Vanzolini não foi assim: os pais são da área da psicologia. O avô, Paulo Vanzolini, foi biólogo e famoso compositor. De onde veio, então, o interesse pelo jurídico? Pelo ideal de Justiça.

Patricia lembra de seu incômodo, na infância, de quando presenciava uma situação de bullying contra outras crianças. Já mais velha, ela refletia também sobre a dificuldade de se contrapor à voz da maioria, que, muitas vezes, “quer oprimir e tolher direitos de uma parte mais frágil”.

Somando as características pessoais de uma pessoa que gosta de argumentar ao sentimento de irresignação diante de injustiças, Patricia encontrou o Direito.

Ao Migalhas, a presidente da OAB contou uma situação profissional que simbolizou o que o Direito significa para ela: foi quando os pais de um jovem, que acabou sendo condenado em Júri, agradeceram-na pelo trato humano.

Patricia já sofreu machismo na Advocacia?

Sobre esse assunto, Patricia Vanzolini explicou que já sofreu, sim, com o machismo. Não de forma escancarada, mas na forma de um “teto de vidro”: “nós, mulheres profissionais, não sabemos muito bem de onde ele vem [o machismo], porque ele é transparente e porque ele é composto de vários materiais”.

Ela exemplificou: Patricia e seu marido são professores. Com a chegada de sua filha bebê, ela relata que recebeu várias perguntas se iria tirar, ou não, a licença-maternidade; enquanto seu marido não foi questionado em nenhum momento se tiraria a licença-paternidade.

"Quando eu falei que não ia tirar a licença-maternidade, me senti colocada em um lugar desconfortável: ‘mas que mãe é essa que opta por não tirar a licença-maternidade?’"

Outra situação de “teto de vidro” vivenciada por Patricia foi em campanha nas eleições da OAB. Com o ritmo intenso, Patricia Vanzolini e Leonardo Sica, seu vice-presidente, precisaram ficar muito tempo fora de casa, longe de suas filhas.

“Era muito comum que me abordassem perguntando: ‘cadê suas filhas? Suas filhas não sentem a sua falta?’ e, quando eu falava que estavam com o meu marido, era invariável que ele fosse coberto de elogios. E o engraçado é que ninguém perguntou ‘onde estão suas filhas?’ para Leonardo.”

Recado para os jovens advogados

Ao final da entrevista, Vanzolini deixou um recado para os jovens advogados e advogadas: “orgulhem-se da profissão que vocês escolheram. O Brasil nunca precisou tanto de nós, advogados, quanto hoje, quanto em tempos em que o Estado Democrático de Direito corre riscos”.

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