Para comemorar a Semana do Advogado, Migalhas sorteia o clássico, em edição comemorativa, "A Folha Dobrada - Lembranças de um Estudante", do mestre Goffredo Telles Junior. A obra compila os principais acontecimentos políticos do país no século XX, contextualizando-os por meio do olhar límpido e da escrita vivaz do grande professor.
Neste livro, Goffredo conta sua trajetória de lutador incansável pela liberdade e pela democracia, bem como sua paixão pela docência e pela profissão de advogado. Graças a um arquivo pessoal completo e organizado, relembra e compartilha sua vivência dos fatos mais importantes da vida política nacional e da história da Faculdade de Direito da USP durante o século XX.
De grande interesse é a recordação de seus anos de juventude, em que conviveu com os intelectuais e artistas que freqüentavam a casa de sua avó, Olivia Guedes Penteado; sua passagem pela Câmara dos Deputados como deputado constituinte em 1946; sua experiência de advogado criminalista e membro do Conselho Penitenciário por quase trinta anos.
Sobre sua vocação de professor, diz ele:
"Ao reassumir meu ofício de professor, em março de 1951, tornei a sentir – como haveria de sentir todos os dias, até minhas últimas horas de aula, em maio de 85 – que eu pertencia a meus alunos. Rousseau disse, como todos sabem, que o povo é soberano. Pois bem, na minha Sala João Mendes Júnior, soberano era a classe, o conjunto dos estudantes. Eu ali estava para servi-los.
Jamais tranquei a porta de minha sala. Jamais impedi que um aluno entrasse ou saísse, durante minha exposição. A meus olhos, cada aluno era uma pessoa responsável, afetada, como eu, pelas contingências da vida. A todos, sempre respeitei profundamente. Jamais usei, como recurso docente, a zombaria, a troça, a galhofa. Não era de minha natureza ridicularizar estudantes. Em verdade, eu sempre os amei, aqueles acadêmicos das Arcadas, aos quais eu estendia a mão, como faz o companheiro experimentado, que já palmilhou o caminho.
Nunca revelei a ninguém que uma incontrolável emoção, um leve tremor me tolhia, antes do começo de cada aula. Meus alunos sempre viram que meu olhar percorria toda a sala, e que eu juntava as mãos, como numa prece.
O que ninguém soube é que, antes de proferir a primeira palavra, eu dizia, com fervor, no segredo de mim mesmo, uma pequena oração: 'Meu Deus, faça desta aula uma obra de beleza'.
Só depois disto é que eu iniciava a maravilhosa aventura de mais uma preleção para uma classe soberana".
Sobre o autor:
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Ganhador:
Luciano de Sousa Silva, de Mato Grosso/PB