A covid-19 fez mais uma vítima entre os mais de 330 mil brasileiros mortos pela doença. Desta vez, levou junto parte da história do Centro Acadêmico XI de Agosto. Faleceu, no domingo de páscoa, Antônio Ângelo Medeiros, o Toninho, que por mais de 40 anos foi funcionário do XI. Com a notícia, o Porão do C.A. – espaço de discussões e formação de ideias – amanheceu mais triste.
Funcionários e ex-funcionários da instituição prestaram homenagens ao colega. Disseram que, dentre tantas marcas da passagem por ele deixadas, Toninho sempre esteve presente, enfrentou percalços e dividiu alegrias dos alunos que, ao longo dos anos, frequentaram os bancos da SanFran e se envolveram com os temas do porão. Fez muitos amigos.
Durante décadas, foi o fiador do processo eleitoral para a diretoria da agremiação, responsável por acompanhar o pleito e registrar suas atas. Presenciava a felicidade dos eleitos e aplacava a decepção dos que perderam. Era assim, todo mês de outubro.
Para o diretor da FDUSP, Floriano de Azevedo Marques Neto é um pouco da memória da FD que se vai.
“A Faculdade nestes quase duzentos anos foi feita também pelos seus funcionários. O XI é parte das Arcadas. Toninho, como Chico Elefante, seu Rui, Souza e outros tantos são parte de nossa história. Todos que desceram ao Porão nas quatro décadas em que Toninho esteve lá sabem quem ele era. Discreto, sério, compenetrado, atento, quando lhe dava atenção é porque o respeitava. Quando lhe sorria, então, você já estava apto a concorrer ao XI.”
O sentimento de tristeza é compartilhado por amigos, ex-presidentes do XI, professores, servidores e antigos e novos alunos.
Para Fernando Haddad, presidente do XI em 1985, partiu um grande amigo dos estudantes de Direito. “Muito suave e discreto, estava sempre disponível para ajudar o C.A. XI de Agosto a cumprir sua agenda política. Grande perda”.
A mesma linha de gratidão e saudade é registrada por Renato Stetner, presidente em 1991. “O Toninho era uma presença fundamental na vida do XI, uma pessoa que atravessou décadas na sua função e foi testemunha e ator de muitos fatos importantes na história do XI, da Faculdade e mesmo do País”.
Primeira mulher a presidir a agremiação, em 1998, Andrea Mustafa, acentuou a dedicação de Toninho: “Um companheiro diário das batalhas enfrentadas no Centro Acadêmico; sempre à disposição da entidade. Ficarão as boas lembranças dessa companhia”.
Mesmo tom adotado por Paulo Henrique Rodrigues Pereira (presidente em 2008). “Toninho era, na memória de todos os que passaram pelo XI, uma representação da instituição que tantos admirávamos. Ele simbolizava aqueles valores que estavam lá antes de nós, e continuariam depois que saíssemos”.
Por sua vez, Talita Nascimento (presidente em 2009) chamou a atenção para a sobriedade levada por Toninho às eleições do XI. “Enquanto as paixões afloravam na Sala dos Estudantes, Toninho chegava sempre tranquilo, abria as urnas, organizava os votos e lacrava ali o futuro do XI, mas sobretudo recolhia naquela caixa de madeira a nossa alma estudantil.”
Talita registrou, também, o conceito de diversidade, quando Toninho lhe confessou que dos melhores presidentes que por ali passaram, uma mulher era a mais admirável.
Nas linhas traçadas por Eugênio Bucci, (presidente em 1984), que o via quase como um companheiro de geração, Toninho era um esteio. “Sabia tudo da história e da papelada da entidade, cheia de meandros e de complexidades administrativas”. Bucci acrescentou que, para além do XI, era um conselheiro, um companheiro, e um funcionário competente, leal e íntegro. “É um pedaço da nossa história que se vai. Uma tristeza. Viva o Toninho, sempre”.
Atual presidente do Centro Acadêmico, Letícia Chagas, afirmou: “A morte de Toninho abalou a todas e todos que já fizeram parte do XI de Agosto. Ele é uma figura histórica de nossa entidade, e sua memória deve ser sempre lembrada em nossa Faculdade”.
O sentido de tristeza é ampliado pelos professores da FDUSP. Maria Paula Dallari Bucci, presidente da Comissão de Graduação da FDUSP, disse que o XI de Agosto, assim como o Departamento Jurídico, têm alguns ‘anjos da guarda’, que ajudam os estudantes que chegam a cada ano a entender como funciona a entidade, com base na memória que carregam.
“O Toninho era um desses anjos da guarda. Sua perda, aos 66 anos, pela tragédia humana em que se converteu a covid-19 no Brasil, é lamentada por cada estudante que, convivendo com ele, aprendeu o sentido do coletivo. Nossa solidariedade à família e aos amigos.”
“Quantas histórias e estórias você não leva de tantas turmas e gestões que passaram pelo XI de Agosto”, escreveu Pierpaolo Cruz Bottini.
Paula Forgioni lembrou que a alma da faculdade é feita por todos. “A partida de um companheiro como o Toninho nos faz mais pobres, mais tristes, dolorosamente mais fracos”.
Por sua fala, Otávio Pinto e Silva acentuou que Toninho era a memória das gestões do Centro Acadêmico XI de Agosto. “Que fiquem agora, entre nós, as boas lembranças das inúmeras gerações de estudantes que conviveram com ele”.
Fernando Dias Menezes frisou que ele foi fundamental para a bem-sucedida história do XI, nas várias décadas em que lá atuou.
“Leal, eficiente, dedicado, sereno, exerceu, para além do papel de conselheiro discreto de diversas gerações, a função fundamental de garantidor da estabilidade e da continuidade da administração, ante as mudanças políticas das gestões do XI, reproduzindo, na escala do Centro Acadêmico, o modelo ideal defendido para a gestão do interesse público”.