Migalhas Quentes

De penal a trabalhista: Mulheres relatam desafios em áreas do Direito

Advogadas das áreas Penal, Tributária, Trabalhista, Previdenciária, dentre outras, relataram os desafios e dificuldades que enfrentam em razão do gênero feminino.

8/3/2021

Embora as mulheres sejam maioria na advocacia em 10 Estados do Brasil, a crescente participação feminina no mundo jurídico não afasta as dificuldades e desafios que elas enfrentam pelo simples fato de serem mulheres. No ano passado, por exemplo, Migalhas noticiou situação vivida por uma diretora de escritório de advocacia, na qual um cliente presumiu que a direção do escritório era ocupada por um homem e se dirigiu a ela no inicío da reunião dizendo: "Estou esperando o sócio". 

Neste dia da mulher, 8/3, Migalhas conversou com advogadas das mais diversas áreas a fim de saber em que pé estamos no quesito “equidade”. Embora todas elas relatem avanços, há muito ainda a ser feito e conquistado. Um dos maiores desafios que narram é o equilíbrio da vida pessoal e profissional: como conciliar, por exemplo, a maternidade com horários complicados no escritório? Veja o relato de cada advogada mulher entrevistada.

(Imagem: Arte Migalhas)

Se o Direito é considerado historicamente uma profissão masculina, a área Penal muito mais. O estereótipo do homem forte enfrentando “crimes e criminosos” nos Tribunais é endossado e construído na sociedade há anos.

Com efeito, uma pesquisa feita pela CLA - Criminal Lawyer’s Association**, do Canadá, apontou que as mulheres estão deixando o Direito Penal em taxas mais elevadas do que os homens. As razões comuns para a evasão são: maior segurança no emprego com melhor compensação financeira; horas de trabalho mais certas e fixas, busca por carreiras que melhor acomodam e apoiam as necessidades das mulheres com filhos e outras obrigações familiares.

Embora a carreira Penal seja especialmente difícil para as mulheres, o número de advogadas criminalistas no Brasil está aumentando. É o que observa a advogada criminalista Flavia Rahal (Rahal, Carnelós e Vargas do Amaral Advogados): “é notável e perceptível a quantidade de mulheres fortes, focadas e bem-preparadas que estão ingressando no Direito Penal”, disse.

Se de um lado está o Direito Penal com a predominância do gênero masculino; do outro, está a seara Trabalhista do Direito com a evidente ascensão feminina. Basta lembrar que no comando do Tribunal Superior do Trabalho está uma mulher: Maria Cristina Peduzzi, que nesta importante data, conversou com Migalhas. Veja aqui a entrevista.

A advogada trabalhista Gilda Figueiredo Ferraz também observa a predominância de mulheres no Direito trabalhista. Em sua equipe no escritório, por exemplo, só trabalham mulheres: “são muito preparadas; detalhistas, leais e comprometidas”, disse. Para a advogada, o principal desafio nos dias de hoje é a cobrança da sociedade neste assunto.

De fato, o relato de Gilda Figueiredo Ferraz vai na mesma direção do que apontou o IDG - Índice de Desenvolvimento de Gênero, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. As mulheres no Brasil são, sim, mais preparadas: estudam mais, no entanto, possuem renda 41,5% menor que os homens.

Análises, números e contas fazem parte da rotina de uma tributarista. Advogada tributarista, Fernanda Botinha (Araújo e Policastro Advogados) dá a receita para o sucesso feminino nesta área: investimento em produção de conteúdo intelectual (escrita de artigos, publicação de livros, entre outros). 

De acordo com a advogada, esta seara do Direito demanda características que “as mulheres sabem fazer muito bem” – são análises cuidadosas e minuciosas de casos, com a sensibilidade para as mudanças e inovações.

Fernanda Martorelli (Martorelli Advogados) já atuou nas áreas trabalhista, tributária e ambiental e, atualmente, atua na gestão do escritório. Para ela, a maior dificuldade das mulheres na advocacia é ascender na carreira para ocupar posição de liderança.

A gestora acredita que a falta de oportunidade, empatia e confiança no trabalho da mulher são os principais fatores que a impedem de crescer profissionalmente. Para possibilitar esta mudança de cenário, a advogada relata mecanismos implementados no seu local de trabalho:

Maternidade

Uma pesquisa realizada pela revista Crescer constatou que 94% de 2.887 entrevistadas têm dificuldade para conciliar a carreira profissional com a maternidade. O desafio não seria diferente para as advogadas mães.  

Paula Storto (Szazi, Bechara, Storto, Reicher e Figueirêdo Lopes Advogados) é advogada que atua na prestação de serviços a organizações da sociedade civil. Em 2019 se tornou mãe de duas meninas e salientou a dificuldade de emendar a licença maternidade com a pandemia, tudo isso ao mesmo tempo em que trabalha para manter um escritório de advocacia.

Apesar dos contratempos que estas situações podem ocasionar, a advogada considera-se “privilegiada”, pois tem um companheiro que se corresponsabiliza pelas filhas.

Na área previdenciária, a advogada Cristiane Matsumoto (Pinheiro Neto Advogados) também destacou que a conciliação entre vida pessoal e profissional ficou mais desafiadora depois de se tornar mãe.

Ao Migalhas, a advogada afirma que o ambiente de trabalho e a gestão corporativa são fatores fundamentais para o equilíbrio destas áreas da vida. Como exemplo, ela citou a oportunidade lhe dada em desenvolver uma prática de Direito Previdenciário com infraestrutura adequada: “com isso, consegui atender as demandas profissionais e ter um convívio mais próximo com a minha família”.

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CRIMINAL LAWYERS’ ASSOCIATION (CLA). The retention of women in the private pratice of criminal law: Research report, March 2016. Clique aqui para ver o artigo completo. 

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