Quando a capital do Brasil ainda era o Rio de Janeiro, em 1926, surgiu naquela cidade o restaurante Cosmopolita. Localizado próximo aos Arcos da Lapa, o estabelecimento é considerado, atualmente, um dos mais antigos restaurantes da cidade maravilhosa.
Fisgados pelos belos grelhados da casa, os políticos da época eram frequentadores assíduos do “Senadinho”, como também era chamado o Cosmopolita. O diplomata Oswaldo Aranha que o diga! Diz a história que, entre 1931 e 1934, quando era o titular do ministério da Fazenda, Aranha pediu tantas vezes o mesmo prato que acabou eternizando a delícia com seu nome.
Filé Oswaldo Aranha - filé mignon alto, temperado com alho frito, acompanhado de batatas portuguesas, arroz branco e farofa de ovos.
Desde 1926, o restaurante Cosmopolita já presenciou muita história. Mas foi com a pandemia do coronavírus que o estabelecimento precisou reunir novos esforços para resistir à crise. Um restaurante com mais de 90 anos passou a investir nas entregas por delivery, alinhando-se à modernidade.
O Cosmopolita não é o único a encontrar dificuldades com a pandemia. O Sebrae e Abrasel entrevistaram 1.191 empresários de bares, restaurantes, cafeterias, lanchonetes, padarias, pizzarias e sorveterias e constataram que mais da metade desses estabelecimentos registraram redução do faturamento e estão com dívidas atrasadas.
O estudo mostrou que entre as atividades do setor de alimentação fora do lar, bares e restaurantes foram os que mais sentiram os efeitos da crise. Segundo a pesquisa, do total de bares e restaurantes entrevistados, 6,7% tiveram que encerrar suas atividades permanentemente devido ao coronavírus.
Para incentivar o comércio local, o leitor querido e assíduo do Migalhas, Paulo Samico Junior se ofereceu para ser nosso “correspondente gastronômico” e, assim, encher nossos olhos com fotos tiradas por ele próprio do original Oswaldo Aranha.
Para aqueles que ainda não podem presencialmente degustar o prato, Migalhas deixa abaixo a receita:
__________
Ingredientes
300g de filé mignon em medalhão
100g de bacon em cubinhos
50ml de azeite
150g de couve em tiras
200g de farinha biju
7 dentes de alho grandes
2 batatas médias Asterix (casca rosada)
1 xícara de arroz branco
1 pitada de sal a gosto
Modo de preparo
Farofa: frite o bacon no azeite, acrescente a farinha de biju, toste um pouco e acerte o sal.
Alho: fatie 6 dentes em lâminas finas e frite por imersão em óleo vegetal até dourar de leve.
Batatas: descasque as batatas e corte em lâminas de 0,5 cm de espessura na longitudinal. Dê um pré-cozimento e frite no óleo. Salgue-as.
Arroz: cozinhe arroz branco normal.
Filé: faça um corte borboleta (cortando ao meio, mas sem cortar até o final), tempere com sal e pimenta do reino e frite-o aberto numa frigideira com um fio de óleo.
Couve: doure de leve 1 dente de alho amassado em 3 colheres de azeite e acrescente a couve, só até murchar um pouco. Acerte o sal.
_________
Oswaldo Aranha para além da gastronomia
Oswaldo Aranha, gaúcho de Alegrete, nasceu em 15 de fevereiro de 1894. Ele atuou como advogado, político e diplomata. Foi deputado Federal e, durante o governo de Getúlio Vargas, foi ministro das Relações Exteriores. Em 1934, foi nomeado embaixador em Washington.
Em 1947, Oswaldo Aranha chefiou a delegação brasileira na recém-criada ONU, inaugurando a tradição, mantida até hoje, de ser um brasileiro o primeiro orador na reunião anual do órgão internacional. Ele foi o presidente da II Assembleia Geral da ONU, que votou o plano para a partilha da Palestina que resultou na criação do Estado de Israel. Também participou do governo de Juscelino Kubitscheck. Aranha morreu em 27 de janeiro de 1960.
Em abril deste ano, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a lei 13.991/20, que inclui o diplomata no Livro dos Heróis da Pátria. Com o reconhecimento, Aranha é o 42º brasileiro a ter essa honraria, ao lado de figuras como Tiradentes, Santos Dumont, Machado de Assis, Zumbi dos Palmares, Anita Garibaldi e Zuzu Angel.