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Íntegra da audiência do caso Mariana Ferrer comprova inércia de juiz e promotor

Para muitos especialistas, ato judicial tumultuado e fora dos padrões deverá ocasionar a nulidade do processo.

5/11/2020

A íntegra da tão comentada audiência do caso Mariana Ferrer deixa claro que em diversos momentos o advogado do acusado age de maneira inusitada ao falar diretamente com a vítima.

O MP/SC divulgou uma nota, ressaltando que não se falou no tal estupro culposo e que o vídeo teria sido  editado, o que parece ter, de fato, ocorrido. Mas, frise-se, foi uma edição apenas para separar os trechos. Com efeito, os cortes não alteram, de modo algum, o conteúdo. E mais, as imagens da íntegra comprovam que, efetivamente, juiz e promotor de Justiça ficaram pusilânimes diante das afirmações do advogado.

Aliás, tudo foi muito mal conduzido. Em vários momentos o juiz deixa que o advogado e a vítima batam boca, sem que isso tenha qualquer resultado prático para as provas que deveriam, em tese, ser colhidas numa audiência.

Isso sem falar que num caso desse, de suposto crime de estupro, é preciso agir com sensibilidade. 

Não por acaso, muitos especialistas dizem que o ato deve ser anulado. 

Sem edição alguma, separamos alguns trechos que demonstram a situação vivenciada pela vítima.

No trecho abaixo, o advogado questiona o fato de Mariana dizer que foi drogada, e indaga por que as pessoas iriam querer drogá-la. Mariana, então, afirma que o causídico “sabe muito bem o que as pessoas são capazes de fazer, o senhor defende muitos criminosos”. Em resposta, o advogado diz que olhando para ela até supõe “o que as pessoas são capazes de fazer”, porque ela seria, na visão dele, "um bom exemplo".

Posteriormente, Mariana começa a chorar e o advogado diz que o choro de Mariana é falso, dissimulado e que as lágrimas "são de crocodilo". O juiz, em vez de conter o causídico, pergunta se a vítima quer fazer uma pausa.

Em outro momento, depois de uma resposta da vítima, o advogado diz que não adiantaria ela vir com essa “conversa”. Que isso poderia "impressionar no Instagram", mas que na audiência estavam presentes juiz e promotor, que não iriam se impressionar com a “conversa” dela. “Não adianta chorar, chorar pra mim não é contra-argumento”, completou.

A influencer questionou a demora da perícia. O promotor, então, numa das únicas intevernções que fez, criticou a vítima. Disse que a audiência “estava indo bem” até ela começar a questionar o IGP - Instituto Geral de Perícias.

Além de advertir a vítima, o promotor aproveitou para fazer encômios ao juiz, dizendo que aquele era o único processo de réu solto que estava sendo analisado na pandemia. 

O juiz, então, agradeceu a colocação do promotor e disse que a influencer tem que saber a dificuldade da tramitação e o esforço que todos estão fazendo para o processo chegar ao final, como se não fosse a obrigação dele.

Nitidamente abalada, Mariana fala sobre ter “guardado sua virgindade”. O advogado, neste momento, insiste que não dá para ela “dar o showzinho”.

“Seu showzinho você vai dar lá no teu Instagram pra ganhar mais seguidores, tu vive disso. Vamos ser sinceros, fala a verdade, tu trabalhava no café, perdeste o emprego, estava com o aluguel atrasado 7 meses.”

O constitucionalista Pedro Serrano conta em sua página no Facebook que assistiu à integra da oitiva.

“Nesse caso, não pode haver dúvida da nulidade absoluta do depoimento e de todo o processo, pela ofensa a dignidade humana da depoente e pela provocação constante de seu desequilíbrio emocional, comprometendo a higidez de sua fala.”

(Imagem: Reprodução/Facebook)

Assista à integra da audiência:

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