Estados Unidos e México
Bush assina lei que prevê construção de muro na fronteira
O Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, assinou hoje (26/10) um projeto de lei aprovando a construção de um muro na fronteira entre os Estados Unidos e o México.
O custo total do projeto está avaliado em US$ 6 bilhões (R$ 12,9 bilhões), e o muro deverá ter aproximadamente 1,1 mil km.
A barreira visa conter o forte fluxo de imigrantes ilegais que entram anualmente nos Estados Unidos, a partir do México. O governo americano argumenta também que a cerca ajudará a bloquear uma das principais rotas de cartéis de drogas mexicanos e impedir a entrada de terroristas em solo americano.
Durante a cerimônia de assinatura da lei, Bush afirmou que "infelizmente os Estados Unidos há décadas não têm pleno controle de suas fronteiras e, por isso, a imigração ilegal está aumentando". Para ele, o projeto de construção da barreira é "um passo importante nos esforços de nossa nação em assegurar a segurança em nossas fronteiras".
Por outro lado, o governo do México vem criticando a construção da barreira. O presidente mexicano, Vicente Fox, comparou-a ao Muro de Berlim.
Proveito político
A opinião pública americana tem se mostrado favorável à construção da barreira, e a proposta é defendida por segmentos conservadores dos partidos Republicano e Democrata. O projeto já havia sido aprovado pelo Congresso e pelo Senado no mês passado.
Segundo analistas, a demora no envio do projeto ao presidente Bush se deu para que os republicanos pudessem colher dividendos eleitorais, com vistas às eleições do dia sete de novembro. Na votação, serão escolhidos 36 dos 50 governadores americanos, bem como representantes para o Congresso.
O muro é um dos sintomas do sentimento antiimigrante. Ele pode ser percebido em editorais de jornais, nas opiniões de pessoas nas ruas e até através de reclamações feitas pelos habitantes daqui, quando eles lêem uma placa de trânsito em espanhol ou recebem uma conta de gás com dizeres em espanhol.
Na segunda-feira, o presidente da Câmara, Dennis Hastert, e o líder da maioria republicana no Senado, Bill Frist, divulgaram uma declaração conjunta defendendo a construção do muro, argumentando que o povo americano "exige uma fronteira segura".
Os dois republicanos criticaram as reservas dos democratas em relação ao projeto. Mas quando a proposta foi aprovada, no mês passado, ela contou com o endosso de 64 deputados e 26 senadores democratas.
O projeto também vem sendo criticado por políticos e autoridades de Estados que fazem fronteira com o México.
A governadora do Arizona, a democrata Janet Napolitano, afirmou que "no momento em que for construído um muro de <_st13a_metricconverter w:st="on" productid="15 metros">15 metros, alguém construirá uma escada de <_st13a_metricconverter w:st="on" productid="15,5 metros">15,5 metros". O governador do Texas, o republicano Rick Perry, também é contrário à medida, assim como a Associação de Xerifes do Estado americano.
Os críticos argumentam que, além de a barreira ter um elevado custo de implantação, será difícil torná-la realidade, visto que o terreno sobre o qual ela será construída compreende áreas inóspitas do deserto e regiões montanhosas.
Ativistas
O muro também enfrenta a oposição de ativistas de direitos humanos. "A barreira fará com que pessoas tenham de fazer caminhos ainda mais tortuosos pelo deserto para tentar cruzar a fronteira, colocando suas vidas em risco", disse à BBC Brasil Robin Hoover, presidente da organização Humane Borders, que constrói abrigos no deserto para imigrantes ilegais.
Segundo a antropóloga Elizabeth Brandt, da Universidade do Arizona, o projeto de construção do muro faz parte de um sentimento antiimigrante, que vem ganhando fôlego em Estados no sul dos Estados Unidos, em especial no Arizona, um dos Estados que mais recebem imigrantes ilegais. Somente no ano passado, 600 mil foram pegos tentando cruzar a fronteira.
Para Brandt, o que os moradores do Arizona não percebem é que, ao defender a construção da barreira, eles podem estar dando um tiro no próprio pé, "já que os imigrantes ilegais terão mais dificuldades em chegar aos Estados Unidos e isso irá afetar a indústria agrícola e de construção, que depende dessa mão de obra".
A antropóloga acredita que a retórica antiimigrante que, em seu entender, hoje conta com muitos adeptos no Arizona poderá se alastrar para outros Estados, após as eleições de sete de novembro.
"Muitos políticos que utilizam uma retórica inflamada contra imigrantes poderão ser eleitos no Estado. Esse tipo de retórica começou por aqui e vem se espalhando para outros Estados com fortes populações de imigrantes, como o Texas e a Califórnia. Se isso seguir ocorrendo, poderá haver muitas tensões sociais no país, entre imigrantes e americanos. Os Estados Unidos deverão sair destas eleições divididos."
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