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Constelação familiar: psicoterapia é usada na Justiça para facilitar acordos

Psicoterapia busca resolver o problema observando as dinâmicas familiares. Técnica pode ser utilizada em casos de guarda, pensão de filhos e partilhas de bens.

29/10/2019

Mais um litígio familiar; mais uma petição inicial sendo protocolada no Judiciário. No entanto, dessa vez, o patrono do caso fez um pedido diferente no curso do processo: o encaminhamento dos litigantes para uma oficina de Constelação Familiar que acontece dentro do próprio fórum de Ribeirão Preto/SP.

O nome peculiar faz referência a um tipo de terapia que auxilia na resolução consensual de conflitos, restabelecendo o diálogo entre as partes. Desde 2012, o Judiciário brasileiro utiliza esta abordagem para resolver litígios familiares e até trabalhistas.

Migalhas foi conferir uma sessão de Constelação Familiar no fórum de Ribeirão Preto/SP. Confira como foi:

O que é?

Criada pelo alemão Bert Hellinger, a Constelação Familiar investiga as relações interpessoais de determinado sistema familiar, mostrando as conexões entre as gerações.

Segundo esta abordagem, diversos problemas enfrentados por um indivíduo podem derivar de fatos ocorridos no passado não só dele próprio, mas também de sua família, em gerações anteriores, e que deixaram uma marca no sistema familiar, causando dificuldades em seus membros, mesmo em gerações futuras.

Durante as constelações familiares as pessoas são convidadas a representar membros da família de uma outra pessoa (o cliente) e, ao serem posicionadas umas em relação às outras, sentem como se fossem as próprias pessoas representadas, expressando seus sentimentos, ainda que não as conheçam. A partir dessas representações, as causas dos transtornos do cliente, mesmo que relativas a fatos ocorridos em gerações passadas, inclusive fatos que ele desconhece, emergem.

Temas mais comuns abordados com a técnica:


Dificuldades de relacionamento;

 
Mortes na família;

 
Separações;

 
Tragédias;

 
Doenças;

 
Problemas financeiros;

 
Heranças;

 
Traumas;

 
Vícios


Na Justiça

A Constelação Familiar começou a ser aplicada pela Justiça na Bahia, em 2012, pelo juiz Sami Storch. Ele tomou conhecimento da técnica em uma terapia pessoal, antes de ingressar na magistratura e, ao aplicá-la às disputas judiciais, surpreendeu-se com os bons resultados.

Naquele ano, a técnica foi testada com cidadãos do município de Castro Alves, cidade do interior da Bahia. Nas 90 audiências realizadas, nas quais pelo menos uma das partes participou da vivência de Constelações, o índice de conciliação foi de 91%.

Atualmente, Unidades de Justiça de pelo menos 16 Estados e o Distrito Federal utilizam a técnica.

Ao Migalhas, o juiz explica que é de suma importância que o Judiciário capacite o seu pessoal para lidar com questões humanas e sensíveis, enxergando cada história e cada caso como único:

O juiz destaca que hoje o Judiciário enfrenta muitos desafios com a enorme quantidade de processos que tratam de "conflitos intermináveis" que passam de geração em geração. Para ele, buscar soluções diferentes, como a Constelação Familiar, é uma maneira de obter melhores resultados judiciais.

A advogada Janice Grave Pestana Barbosa, coordenadora e facilitadora da equipe multidisciplinar da Oficina de Direito Sistêmico Prosseguir, do Anexo da Violência da Mulher e da Família, também explica como a dinâmica funciona para a pessoa que participa.

Ela destaca que após a experiência, o indivíduo se sente mais empoderado para tomar as decisões da sua vida.

A medida está em conformidade com a resolução 125/10 do CNJ, que estimula práticas que proporcionam o tratamento adequado dos conflitos de interesse do Judiciário. Ela pode ser utilizada em casos de guarda, pensão de filhos e partilhas de bens.

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